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planetamarcia

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Agosto 04, 2015

Tudo o que poderíamos ter sido tu e eu se não fôssemos tu e eu - Albert Espinosa - Opinião

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O título é excelente. A primeira página é fabulosa. O anzol está lançado e o peixe apanhou o isco.

Provavelmente mais vale não escrever nada do que escrever sobre livros que me fazem sentir assim-assim, mas eu gostava tanto de ter adorado este livro, que me foi recomendado, que tem uma capa óptima e um título como poucos.

Mas a verdade é que “a estranha história de amor que encantou todo um país” não me encantou realmente. O livro tem passagens muito boas, que inevitavelmente sublinhei, e que surgem ocasionalmente a iluminar uma narrativa algo repetitiva e, para mim, não suficientemente verosímil.

“Não é para demonstrar seja o que for, quero apenas chegar onde se chega quando entregamos a nossa vida inteira e tudo o que somos a uma única coisa.” (Pág. 21)

Marcos quer ficar acordado para sempre, e até pode pois comprou uma injecção para isso, tem uma relação especial e estranha com a mãe, que por acaso acabou de morrer, sente uma empatia especial com uma mulher que vê da janela, e tem um dom único. Premissas estranhas, não necessariamente más, mas que infelizmente não me deram o alento que procuro numa leitura, e que esperava obter deste “Tudo o que poderíamos ter sido tu e eu se não fôssemos tu e eu”. Excelente título que se explica mesmo na última página. Mas quem quiser ler não comece pelo fim. Nada de batota.

Não me arrebatou. Mas há potencial para deliciar outros leitores. Arrisquem.

"Não sei se o meu dom me encontrou a mim ou eu a ele. O meu dom…É difícil de explicar. Como aprendi a utilizá-lo é ainda mais estranho de relatar. Como acabei por trabalhar para Eles, acho que também não é nada simples de explicar. Mas quero contar-vos. Há coisas, pequenos detalhes, que formam parte de nós próprios e nos fazem ser como somos. E o dom era algo que me definia. Ainda que o utilizasse muito pouco. Fazia-me sentir mais vivo. Se estivesse a usar o dom quando vi a rapariga do Espanhol talvez não tivesse sentido o mesmo por ela. O que senti foi primário, foi muito autêntico. Como podia ter tantas saudades dela sem a conhecer? O ser humano é mágico e indescritível. Sentia algo especial ao voltar a recordá-la. Aquela confiança não deve surgir entre desconhecidos mas que às vezes existe e é mais intensa do que a que sentimos por alguém que faz parte do nosso ambiente há mais de vinte anos. Ela não se tinha apercebido da minha presença, não tinha sentido que os meus olhos não se tinham afastado dos dela nem por um instante"

Babel, 2011

Tradução de Cláudia Clemente