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planetamarcia

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Dezembro 09, 2012

A Vida de Pi - Yann Martel - Opinião

Foram várias as sensações que experimentei ao ler “A Vida de Pi”. Desde a perplexidade ao horror, passando pelo medo, muitas surpresas, algumas dúvidas… e fé. Um livro que a cada página ensina e faz refletir sobre o impossível. Cheguei ao fim a achar que não há impossíveis. Que a vida é uma aventura surpreendente. Ao mesmo tempo, o meu lado (excessivamente) racional questiona se pode tal coisa ter acontecido? Cabe ao leitor decidir se acredita ou não n’ “A Vida de Pi”.

Pi é curioso e interessado. Desde criança que deseja aprender. Hindu por tradição familiar e social, tem vontade de conhecer todas as correntes religiosas, acredita mesmo que as pode praticar todas. Desde novo que procura a verdade, a verdadeira fé. Acredita na paz, que entre religiões não deve haver guerras, uma perspetiva inocente mas evoluída, a anos-luz do ponto que (ainda) nos encontramos hoje.

A infância e a sua juventude são passadas rodeado de animais, dado que a família possui um jardim zoológico. Neste ponto são muitas as reflexões sobre os instintos animais, as regras e suas exceções, a forma como nem tudo acontece como seria esperado, como mesmo nas leis da natureza há surpresas. Este é uma espécie de preparação para o que aí vem, para a grande aventura de Pi, a sua provação de sobrevivência física e mental.

Pi é vítima de um naufrágio, a caminho do Canadá, para onde se muda com a família e com os animais do zoo. Todos desaparecem menos ele, que consegue lugar num barco salva-vidas que vai ter de partilhar com um outro náufrago, um tigre de bengala.

Uma viagem à deriva num oceano de perigos, em que Pi se vai gradualmente desumanizando, até chegar ao limiar da selvajaria no que toca a matar para sobreviver. Uma viagem reflexiva sobre o poder da solidão no caminho da loucura, e da coragem como elemento fundamental no caminho da salvação. Sem medo não há coragem e Pi tem medo de Richard Parker, o tigre. É uma animal selvagem, e desde criança que Pi conhece o poder dos grandes predadores, foi preparado e ensinado pelo pai.

De alguma forma inexplicável cria-se uma relação entre Pi e o tigre. São delimitados territórios, como na selva, Pi vai exercendo alguma supremacia sobre a fera através da comida, quase como um artista de circo, um domador de grandes felinos.

Sete meses à deriva podem tornar um homem selvagem e humanizar um tigre? Como é possível esta convivência? Como pode um homem desesperado pela dificuldade em adquirir comida e água, atormentado pela solidão, manter a mente ocupada de forma a evitar a loucura e a demência? É uma história impossível que Yann Martel tem o dom de tornar verosímil. A sua escrita do impensável é tão realista que nos convence de que aconteceu, que Pi ultrapassou e sobreviveu a algo inacreditável. Martel faz acreditar, provoca sensações ao leitor que o fazem ter fé, pois quem acredita na vida de Pi pode certamente acreditar em tudo, sentir que todos os obstáculos podem ser ultrapassados.

Um livro forte, com uma componente reflexiva avassaladora, que me fez, confesso, acreditar que um homem e um tigre podem ter uma história de sobrevivência juntos. Penso que é dos maiores elogios que se podem fazer a quem escreve. Yann Martel tem uma legião de adoradores deste livro porque acreditam, acreditam que o que escreveu é verdade.

“A Vida de Pi” é um livro brilhante que vai direto para a minha lista dos melhores livros de sempre!

Sinopse
“Quando Pi tem dezasseis anos, a família decide emigrar para a América do Norte num navio cargueiro juntamente com os habitantes do zoo. Porém, o navio afunda-se logo nos primeiros dias de viagem. Pi vê-se na imensidão do Pacífico a bordo de um salva-vidas acompanhado de uma hiena, um orangotango, uma zebra ferida e um tigre de Bengala. Em breve restarão apenas Pi e o tigre.”

Publicado em Portugal pela Difel em 2003, e agora disponível pela chancela da Presença,  A Vida de Pi valeu a Yann Martel o Man Booker Prize de 2002, entre outros prémios, e figurou como bestseller do New York Times durante mais de um ano. Sete anos após a primeira edição, a obra ocupa a 74ª posição no top de ficção da Amazon americana e o 99º lugar na tabela de vendas da amazon inglesa. A Vida de Pi encontra-se publicada em mais de 40 países.

Difel, 2003