Novembro 16, 2012
O Seminarista - Rubem Fonseca - Opinião
Surpreendente. Absolutamente surpreendente. Um livro que “saltou” da estante e foi lido em apenas algumas horas.
Ironia, sarcasmo e um humor muito particular proporcionam uma leitura diferente, interessante e bastante envolvente.
O insólito ganha forma na vida de um ex-seminarista que se torna um assassino por encomenda. Com uma cultura acima da média, proporcionada pelos estudos, uma grande paixão pelos livros e um vício de se exprimir constantemente em latim, esta personagem, que a partir de certa altura passa a chamar-se Zé, vive as mais estranhas experiências no seu dia-a-dia muito pouco rotineiro. Ao mesmo tempo que demonstra o seu eruditismo, usa e abusa dos palavrões e do calão.
Matar por encomenda, com frieza e distanciamento, é algo que faz bem; é conhecido pelo “especialista” por não falhar e fazer um trabalho limpo.
Um dia, estranhamente, decide mudar de vida e deixar o mundo do crime. Chega mesmo a apaixonar-se, abandonando completamente uma vida de encontros sexuais casuais, decidindo retirar-se e dedicar-se às coisas que passam a ser para ele as mais importantes da vida.
No entanto o seu passado pouco convencional não o liberta. Numa fase de mudança vem à tona um esquema por resolver que põe em risco os seus projetos de felicidade. Tudo se complica, relaciona e interliga; um enredo surreal mas muito criativo. A descoberta do amor e da dor.
Muito realismo, sangue e excentricidade compõem um leque de surpresas que não me permitiram parar de virar páginas.
O livro está escrito em português do Brasil, apesar de se tratar de uma edição portuguesa. Primeiro estranhei mas depois acabou por me agradar; por ser uma experiência diferente e dar um ambiente de favela à coisa. Divertida é a mistura de expressões portuguesas com o sotaque brasileiro, dado que este polivalente Zé descende de portugueses, já desde El-Rei D. Sebastião (diz ele).
Um livro único que me deixou com muita vontade de conhecer a restante obra do autor.
“D. Sebastião tinha 26 anos, era um sonhador. Antes de embarcar na frota de milhares de caravelas portuguesas rumo ao Marrocos, no navio do meu tatá, D. Sebastião. O Desejado, muniu-se da espada de D. Afonso Henriques que mandara pedir à Santa Cruz de Coimbra e de uma coroa de ouro que devia colocar na cabeça quando se proclamasse imperador de Marrocos. Todo mundo sabe a merda que deu.” (Pág. 27)
“Agora todo o sujeito que aparece morto a polícia suspeita de mim? Porra, seria engraçado se não fosse tão chato.” (Pág.120)
Sinopse
“Para o protagonista de O seminarista, matar não causa remorso, mas também não causa prazer. É apenas o seu trabalho, que lhe permite dedicar-se àquilo que realmente ama: livros, filmes e mulheres. Quando decide que já é hora de abandonar a profissão, descobre que não é tão imune aos efeitos dos seus trabalhos e das suas escolhas como acredita ser…”
Sextante Editora, 2011