Janeiro 29, 2012
A Condessa - Rebecca Johns - Opinião
As leituras de Janeiro começaram e estão a terminar com livros que me foram muito recomendados. A verdade é que, apesar das expectativas elevadas, as leituras conseguiram superar o esperado. Sinto o mês a chegar ao fim com uma realização literária que há muito não sentia; um mês em cheio. É nestas alturas que sinto a importância do “passa-a-palavra”, e da forma como só um leitor sob o encantamento de um livro nos transmite aquela vontade louca de lhe pegar logo!
Desta vez foi a Joana do blogue “As Histórias de Elphaba” a primeira pessoa a falar-me no livro “A Condessa”, já estava decidida a ler quando o meu amigo Ludgero Santos me falou também do mesmo livro, e ainda por cima teve a simpatia de mo oferecer. Sou ou não uma sortuda?
Eu não o li, devorei-o. Apesar de já saber alguns pormenores antes de o ler, surpreendeu-me muito pois estava à espera de uma história de horror e sangue, e deparei-me com a história de vida de uma mulher que agiu de forma particular em algumas situações, mas que talvez até algumas práticas fossem comuns na época…mas possivelmente levadas a cabo por homens.
O relato é verídico, o que dá aquela sensação de estar a ler um documento histórico. Sim, é um romance ficcionado mas baseado em algo que realmente aconteceu. Erzsébert Báthory, bem nascida no seio da Aristocracia Húngara, foi preparada desde nova para um casamento que traria mais poder a duas famílias. Uma mulher que traçou o seu caminho com determinação, conquistou um marido que não escolheu, respeitou as regras da sociedade, teve filhos, governou o império familiar que construiu e viu ruir por traição daqueles em quem confiou.
É certo que matou sem piedade, aplicando castigos dolorosos e desprezíveis a quem a servia. Abominava a depravação e sentia-se na obrigação de “ensinar” de uma forma muito própria as regras que, para ela, seriam, de uma bom comportamento. Erzsébert não sabia parar. Sabia o que era o sofrimento pois ela própria teve um percurso de luta interior para se adaptar ao caminho que a sociedade a fez percorrer. Penso que, para a mulher culta que era, a frustração de ter de viver sempre na sombra de um homem lhe deu de certa forma azo a achar-se no direito de levar os seus intentos até ao fim, sem quaisquer limites nem pudor pelo sofrimento humano.
E vamos parar ao tema da submissão das mulheres às vontades dos homens, à forma como o casamento era importante para o estatuto feminino, mesmo no caso de mulheres nobres como já era o caso de Erzsébert antes de casar. Caíu em desgraça depois de viúva, sem protecção de um homem ao seu lado e traída por aquele em quem confiou cegamente. Perdeu tudo, foi encarcerada numa torre da sua própria casa, onde morreu com saudades dos filhos que nunca mais pôde ver. Sozinha, doente e em sofrimento, recebia a visita do reverendo Ponikenus que nunca conseguiu que ele confessasse os seus crimes. A Condessa nunca se assumiu como uma criminosa, nem como a bruxa que a chegaram a acusar de ser. Manteve os seus ideais até ao fim e deixou a sua história escrita ao seu adorado filho Pál. A sua história é este livro. É brilhante e merece ser lido. Recomendo sem reservas.
A minha única dificuldade foi realmente fixar os nomes das personagens, mas o livro tem uma espécie de lista com os nomes, além de uma explicação de como se pronunciam. Apreciei muito este detalhe, e sem esta “cábula” a leitura seria para mim francamente difícil.
É um romance histórico bem estruturado, sempre com referência aos acontecimentos da época (séculos XVI/XVII), não tenho conhecimentos para avaliar a fiabilidade dos mesmos, mas que acredito na pesquisa e interesse da autora. Um livro assombroso e intenso da primeira à última página.
Sinopse
“Devido à sua crueldade ficou conhecida como "A Condessa do Sangue". Terá sido ela a primeira e mais temível assassina em série da História? A bela condessa Erzsébet Báthory nasceu num berço de ouro da aristocracia húngara. Nada faria prever que acabaria os seus dias encarcerada na torre do seu próprio castelo. O seu crime: os macabros assassínios de dezenas de criadas, na sua maioria jovens raparigas torturadas até à morte por desagradarem à sua impiedosa senhora. Pouco antes de ser isolada para sempre, Erzsébet conta a apaixonante história da sua vida. Ela foi capaz dos mais cruéis actos de tortura mas também do mais apaixonado e intenso amor. Foi mãe, amante, companheira... uma mulher que teve o mundo a seus pés e se transformou num monstro. Os seus opositores retrataram-na como uma bruxa sanguinária, um retrato que fez dela a mulher mais odiada da História. Erzsébet inspirou Drácula, inscreveu-se na literatura clássica e contemporânea, deu azo a filmes, séries de TV e até jogos de computador.”
Asa, 2011