Dezembro 10, 2017
Os Loucos da Rua Mazur, de João Pinto Coelho - A minha leitura
Página 304. Descanso. Só falta um capítulo mas quero parar. O pior já passou, penso. Ou não. O mal, primitivo, que insistimos em achar que não entendemos, fará sempre parte de nós, humanos. Abraço-me e, deitada de lado, com as mãos ao redor dos joelhos, penso. Penso neste livro, que esperei que fosse publicado, mesmo quando o autor dizia que se iria ficar pelo fantástico “Perguntem a Sarah Gross”. Esperei por um livro assim, ainda melhor, muito mais bem escrito (céus, parece obra do diabo a forma como o homem se pôs a escrever), com uma história que sai muito do que eram (provavelmente) as expectativas da maioria, e que surpreende por essa mesma história se converter em muitos temas-filhos (que são o que realmente importa) do aparente tema principal: perseguição aos judeus durante a segunda guerra mundial.
“Os Loucos da Rua Mazur” agrediu-me com a violência dos livros mais bem escritos, que estão por trás das mentes mais iluminadas. Distancia-se do anterior com uma qualidade que eu queria mas não sei se esperava, pois teria de esperar tanto… e, se calhar, o tempo vai-nos ensinando que é melhor esperar pouco.
Estou certa que não agradará a alguns leitores, por não ser tão fácil nem tão imediato como Sarah Gross, por dar tanto, mas só a quem gostar de escavar bem fundo e não tiver medo do que possa encontrar. Aos destemidos garanto material para reflexão, mas ficam por vossa conta no campo da dor; se souberem lidar com o sofrimento fica mais fácil.
Esta é uma leitura muito pessoal, que partilho por não poder não escrever estas linhas. Ando afastada do blogue e das opiniões e, apesar de continuar a descobrir livros, leio-os de outra forma. Se calhar agora é que estou a aprender a ler a sério. Este espaço fica guardado para quando me apetecer voltar.
E agora vou ler o último capítulo. Para já acredito que é o amor incondicional que nos salva. Quando terminar o livro… logo se vê no que acredito.
Sinopse
“Quando as cinzas assentaram, ficaram apenas um judeu, um cristão e um livro por escrever.
Paris, 2001. Yankel - um livreiro cego que pede às amantes que lhe leiam na cama - recebe a visita de Eryk, seu amigo de infância. Não se veem desde um terrível incidente, durante a ocupação alemã, na pequena cidade onde cresceram - e em cuja floresta correram desenfreados para ver quem primeiro chegava ao coração de Shionka. Eryk - hoje um escritor famoso - está doente e não quer morrer sem escrever o livro que o há de redimir. Para isso, porém, precisa da memória do amigo judeu, que sempre viu muito para além da sua cegueira.
Ao longo de meses, a luz ficará acesa na Livraria Thibault. Enquanto Yankel e Eryk mergulham no passado sob o olhar meticuloso de Vivienne - a editora que não diz tudo o que sabe -, virá ao de cima a história de uma cidade que esteve sempre no fio da navalha; uma cidade de cristãos e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era.
Na senda do extraordinário Perguntem a Sarah Gross, aplaudido pelo público e pela crítica, o novo romance de João Pinto Coelho regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial para nos dar a conhecer uma galeria de personagens inesquecíveis, mostrando-nos também como a escrita de um romance pode tornar-se um ajuste de contas com o passado.”
Prémio Leya 2017