Surpresa. É a palavra que melhor posso aplicar a este livro.
Apesar de me ter sido muito recomendado, confesso que iniciei esta leitura com algum ceticismo que me fosse verdadeiramente agradar. Desde que soube do seu lançamento que me suscitou curiosidade, mas ao mesmo tempo a sensação de se tratar de um livro para um público-alvo adolescente deixou-me de certa forma desinteressada. Mesmo assim, a curiosidade foi mais forte e dei início a esta leitura ontem. Hoje está concluída.
De facto, “À Procura de Alaska” começa como um livro para adolescentes. Não só pelo tema, o início do ano letivo num liceu em regime de internato, mas também pela forma superficial e simples como está escrito. Nesta primeira fase senti-me um pouco desiludida, confesso, mas fui-me apercebendo, com o virar das páginas, que o livro tinha mais para dar. Senti um desenvolvimento, como uma maturidade ou uma espécie de crescimento da própria escrita, à medida que também o tema e os sentimentos das personagens se aprofundavam.
Pode dizer-se que é um livro sobre o primeiro amor, sobre a amizade verdadeira, sobre a lealdade, e tudo isso é verdade. Mas, quanto a mim, é um livro sobre uma busca, sobre a procura do caminho, a descoberta de respostas para as questões mais difíceis como a morte e a dor. É uma dissertação de sentimentos, um aprofundar de pensamentos, ao mesmo tempo que oferece uma meditação sobre a vida e, consequentemente, a morte.
Um livro que se adensa, que cresce em qualidade e que tem em Miles a voz do autor. Miles é uma espécie de patinho feio sem amigos quando chega ao colégio de Culver Creek, rapidamente estabelece uma amizade especial com o seu colega de quarto Chip (a quem chamam Coronel) e apaixona-se por Alaska, uma rapariga forte mas que desde início se sente que está marcada pela dor. Tornam-se companheiros das aventuras habituais da adolescência. Todos têm particularidades que eu achei curiosas: Miles memoriza as últimas frases que várias personagens (normalmente históricas) disseram antes de morrer, Coronel decora capitais de países e quaisquer outros pormenores geográficos para os quais esteja inclinado em determinada altura, Alaska adora livros e está a construir uma biblioteca pessoal. Estes pormenores fazem parte destas personagens e proporcionam diálogos e discussões bastante interessantes. Pode ser difícil entender como é que daqui chegamos a dissertações filosóficas sobre o sentido da vida, mas é aí que reside a beleza deste livro. Como é que de premissas tão simples John Green mergulha numa busca profunda por respostas sobre o sentido de existirmos, as razões da morte ou porquê de ter fé. Expõe a dúvida para depois a dissecar sem necessariamente nada concluir, pois nem sempre o caminho que se percorre tem um fim. E por muitas que sejam as hipóteses possíveis, por vezes é preciso saber viver sem certezas. No entanto, é possível aprender a acreditar.
Quando Alaska desaparece é como se o grupo se desintegrasse. Porque não entende e precisa de compreender. As feridas vão sarando e o compreender deixa de ser tão importante, apesar de a busca de respostas continuar. Por fim (se é que há um fim) ficam as memórias, boas de preferência. Mas esse último passo só é possível depois de, todos juntos, encontrarem forma de ultrapassar a perda.
Um livro cheio de significados escondidos à espera de serem descobertos pelo leitor. A mim marcou-me bastante. Surpreendente é o que tenho a dizer. Verdadeiramente surpreendente!
“O Coronel riu-se. Eu fiquei especado a olhar, por um lado aturdido pela força da voz emanada pela pequenita (mas, oh meu Deus, com belas curvas) rapariga e por outro lado pelas gigantescas pilhas de livros que lhe forravam as paredes. A sua biblioteca enchia-lhe as estantes e depois transbordava para montes de livros por toda a parte que nos davam pela cintura, empilhados ao acaso contra as paredes. Bastava que um se mexesse para que o efeito dominó nos engolisse aos três numa asfixiante massa de literatura.” (pág. 22)
“Foi a primeira vez que a vi, e agora íamos a caminho da última. Mais do que tudo, eu sentia a injustiça da coisa, a incontestável injustiça de amar alguém que também me podia ter amado, mas que não pôde devido à morte, e depois inclinei-me para a frente, com a testa encostada à parte de trás do encosto de cabeça de Tukami, e chorei, soluçando, sentindo mais dor do que tristeza. Doía e não era um eufemismo. Doía como se me tivessem dado uma surra.” (pág. 170)
Sinopse
“À Procura de Alaska conta a história de Miles Halter, um miúdo fascinado com “famosas últimas palavras” e cansado de viver no aconchego caseiro. Quando Miles vai parar a um colégio interno procurar aquilo a que o poeta François Rabelais chamava de o “Grande Talvez”, vai encontrar um outro universo do qual faz parte uma jovem chamada Alaska Young. Lindíssima, esperta, divertida, sensual, transtornada… e completamente fascinante, Alaska atrai Miles para o seu labirinto e catapulta-o para esse “Grande Talvez” tão desejado. Miles Halter não podia estar mais apaixonado por ela. Mas quando a tragédia lhe bate à porta, ele descobre o valor e a dor de viver e amar de modo incondicional. Nunca mais nada será como era.”
Asa, 2012