Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

planetamarcia

planetamarcia

Novembro 17, 2014

Mentiras no Divã - Irvin D. Yalom - Opinião

mentirasnodiva.jpg

Nem sempre a escolha da próxima leitura é fácil ou pacífica. Por vezes vejo-me envolvida num escrutínio extenuante entre a vontade que tenho de ler determinados livros, as opiniões que recolhi, as capas, a cor do papel ou o tamanho da letra. Quando a indecisão se torna insuportável opto pelo pim-pam-pum. Neste caso foi o prefácio.

Isabel Stilwell convenceu-me nas primeiras linhas mas todo o prefácio é absolutamente delicioso. Eu já tinha ficado encantada com “Quando Nietzsche Chorou”, e “Mentiras no Divã” não foi propriamente o único livro que corri a comprar de Irvin D. Yalom. Para que conste, morro de vontade de ler todos, os que comprei e os outros todos pois tenho vindo a descobrir que são imensos.

“Mentiras no divã” é um romance contemporâneo, em oposição ao histórico (ou de época se preferirem) “Quando Nietzsche Chorou”. Completamente diferente e, na minha opinião uns degraus abaixo, ainda assim estas mentiras ou corrupio de divãs fizeram-me considerar o meu tempo muito bem empregue.

Decerto baseado na sua experiência como psicoterapeuta e, espero eu, numa boa dose de ficção, o autor leva-nos numa viagem meio louca à intimidade de alguns dos seus pacientes. Dr. Lash é o terapeuta que se vê a braços com algumas situações insólitas. Defensor da verdade e de uma relação sincera com os seus pacientes, é enrolado num jogo surreal de quem-é-quem e, mesmo sem consciência das armadilhas em que o envolvem, acaba por concluir que essa coisa da verdade não é tão linear como parece.

Uma viagem divertida às fraquezas humanas. Uma história séria contada de forma leve que, ao invés de se tornar superficial, como se poderia prever, leva a uma reflexão pelos meandros da natureza humana. Bem escrito, foca os pontos pretendidos de modo objectivo e linear, não se perdendo em artifícios desnecessários. Um livro que cumpre de forma exemplar o seu objectivo de provocar, esticando a linha que separa o terapeuta do paciente.

Gostei bastante.

Sinopse

“Neste provocador romance de ideias, Yalom disseca a complexidade das emoções humanas através do relacionamento de três terapeutas e dos seus pacientes. Num romance tocante e angustiante, Yalom estuda as delicadas fronteiras entre terapeuta e inquisidor, confidente e amante. Seymor, um terapeuta de renome e ex-presidente da Associação Psiquiátrica Americana, é adepto de técnicas pouco ortodoxas e inicia um jogo erótico com uma paciente quarenta anos mais nova. Este tratamento alternativo parece tirá-la de uma rotina de promiscuidade e autoflagelação. Lash é um jovem psicanalista com uma fé inabalável na psicanálise e esconde o seu fanatismo sob a máscara da responsabilidade. Na busca do seu caminho, inventa uma radical abordagem para as suas sessões: honestidade brutal entre analista e analisado. Os resultados são tão inesperados como perigosos. E vê-se na situação de ser vítima da sua própria cura.”

Camões & Companhia, Saída de Emergência, 2010

Junho 10, 2014

Quando Nietzsche Chorou - Irvin D. Yalom - Opinião

 

A Roda dos Livros tem-me proporcionado conhecer livros que me tinham passado despercebidos. “Quando Nietzsche Chorou” é mais um exemplo de um livro que, possivelmente até teve uma boa divulgação, mas nessa altura (e não foi assim há tanto tempo) não chegou até mim. As campanhas são cada vez mais curtas, tal é a quantidade de livros a chegar ao mercado diariamente, e este, apesar de já ter várias edições, só foi lido por mim através da estratégia de marketing que continua a ser (acho eu) a mais bem-sucedida: o passa-a-palavra.

É difícil dizer o que mais gostei neste livro, assim como também não sei como o qualificar. Penso que a expressão “Romance de Ideias” é bastante feliz neste caso, pois que são mais de trezentas páginas de um debate ideológico intenso, com o qual facilmente o comum dos mortais se identifica. Apesar da capa e o título remeterem para dissertações filosóficas, ou talvez temas demasiado abstractos para um leitor com conhecimentos médios, este é um livro de emoções e dúvidas com as quais qualquer ser humano se identifica. Desespero, medos, conflitos interiores e traumas do passado. Quem nunca os sentiu pode parar de ler agora e retomar quando os sintomas vierem, que ninguém escapa (mais cedo ou mais tarde).

Os que conhecem a sensação, mesmo que de forma subtil, e apreciem História, debate de ideias e tudo o que mais ponha os neurónios em ponto de ebulição, podem também parar por aqui, desde que comecem imediatamente a ler “Quando Nietzsche Chorou”. Eu ainda não tinha terminado a leitura quando comprei mais três livros do autor. Mas não vale a pena fazerem isto em casa, a não ser que sejam leitores compulsivos, meio loucos, e com muito espaço para arrumar livros. A parte do espaço não me assiste.

A imaginação de Yalom leva-nos ao encontro entre Nietzsche e Breuer, coisa que não aconteceu, mas acontecendo devia ser mais ou menos assim, uma sucessão de conversas brilhantes entre dois génios de ramos distintos do conhecimento, com sucessivas inversões de marcha e reviravoltas no caminho sinuoso do conhecimento. Seres pensantes, à frente do seu tempo que, descobriram (neste livro) que a alma se enche de dores com o tempo e com a vida, e que a conversa exorciza a inquietude da alma doente. Como descobrir a cura para a doença que quebra por dentro? Como sarar as feridas sem sangue das mágoas? Termos como a “limpeza da chaminé” ou “médicos da angústia” são os primeiros passos do que viria a ser a psicanálise, e que vão surgindo numa aprendizagem mútua de dois mestres que podiam muito bem ter construído este caminho na realidade. Assim não foi, Freud faz umas aparições ocasionais para dar realismo à coisa mas não era preciso, pois que para mim os encontros existiram, a amizade nasceu, os papéis inverteram-se, e a humanidade deu vários passos em frente. Gostei tanto que quero que seja tudo real. Recomendo muito.

“- Não sei curar o desespero, doutor Breuer. Limito-me a estudá-lo. O desespero é o preço pago pela auto-consciência. Olhe profundamente para dentro da vida e vai sempre encontrar o desespero.

- Sei disso professor Nietzsche, e não espero uma cura, mas simplesmente um alívio. Quero que me aconselhe. Quero que me mostre como suportar uma vida de desespero.” (Pág. 150)

“-Viva enquanto viver! A morte perde o seu terror quando se morre depois de consumida a própria vida! Caso não se viva no tempo certo, então nunca se conseguirá morrer no momento certo.” (Pág.258)

Sinopse

“Friederich Nietzsche, o maior filósofo da Europa, está no limite de um desespero suicida, incapaz de encontrar cura para as insuportáveis enxaquecas que o afligem. Josef Breuer, médico distinto e um dos pais da Psicanálise, aceita tratar o filósofo com uma terapia nova e revolucionária: conversar com Nietzsche e, assim, tornar-se um detective na sua cabeça.

Pelas ruas, cemitérios e casas de chá da Viena do sec. XIX, estes dois gigantes do seu tempo vão conhecer-se um ao outro e, fundamentalmente, conhecer-se a si próprios. E no final não é apenas Nietzsche que exorciza os seus fantasmas. Também Breuer encontra conforto naquelas sessões e descobre a razão dos seus próprios pesadelos, insónias e obsessões sexuais.

Quando Nietzsche Chorou funde realidade e ficção, ambiente e suspense, para desvendar uma história superior sobre amor, redenção e o poder da amizade.”

Saída de Emergência, 2011

Lido através da Roda dos Livros - Livros em Movimento.