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planetamarcia

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Outubro 22, 2015

Vai e Põe uma Sentinela - Harper Lee - Opinião

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Eu não li “Mataram a Cotovia”, o único livro publicado de Harper Lee. Até agora.

Mesmo assim, sabendo da enorme falha que é não ter lido um dos livros favoritos de grande parte dos leitores de todo o mundo, decidi começar este “Vai e Põe uma Sentinela” sem saber, literalmente, nada sobre a escrita e universo da autora. Apenas que este livro, agora editado, foi o primeiro a ser escrito, com as mesmas personagens de “Mataram a Cotovia”, mas vários anos depois.

Pautei a minha leitura pela ideia de que as personagens que agora conheci, como Jean Louise Finch, conhecida por Scout, foram como que enviadas na máquina do tempo pela autora, quando, depois de escrever “Vai e põe uma Sentinela”, as levou para uma época anterior. Como se a sua realidade tivesse sido criada numa época, e depois levada para trás, quando Scout era criança. Li Scout já mulher mas não pude deixar de pensar como seria o seu temperamento determinado e explosivo tantos anos antes. Toda esta leitura, aliás, me manteve sempre em suspenso, imaginando a infância de uma das personagens mais carismáticas que conheci até hoje. Fiquei ainda com mais vontade de ler “Mataram a Cotovia”. O meu percurso é contrário ao da maioria, mas penso que a minha viagem não será menos interessante por isso.

Scout é uma mulher determinada e de convicções fortes. Vive em Nova Iorque e regressa, de férias, à casa da família, em Maycomb no Alabama. Não se identifica com as aspirações das jovens da sua idade que encontra na pequena Maycomb, quer seja em relação ao casamento, ao trabalho, à família, ou ao papel da mulher. As suas observações, e a tomada de consciência do fosso que existe entre a sua perspectiva e a visão dos outros, são o ponto de partida para as divagações sobre o seu lugar no mundo. Sensível e introspectiva, analisa tudo à sua volta, principalmente as questões sociais (raciais) no sul da América da década de 50.

Coloca tudo em causa, mesmo o discernimento do pai, o seu modelo de vida, quando se apercebe da distância a que a família se encontra das suas convicções. Com uma fé inabalável nos princípios em que acredita, e não sendo de meias medidas, não hesita colocar o amor da família em cheque em prol dos valores que defende.

Foi impossível não gostar de Scout, mesmo quando senti que a sua impulsividade a levava longe demais. A sua força contagiante foi, sem dúvida, o meu impulso para o rápido virar de páginas, mesmo quando, pela habilidade da autora, fiquei do lado da família porque percebi que, para eles, havia motivos para analisar a mesma questão de outra forma.  

Gostei muito e recomendo.

Para mais informações consultem o site da Editorial Presença aqui.

Sinopse

"Jean Louise Finch -  Scout -  a inesquecível heroína de Matar a Cotovia, regressa de Nova Iorque a Maycomb, a sua cidade natal no Alabama, para visitar o pai, Atticus. Decorre o turbulento  período  de meados de 1950, numa nação dividida em torno das dramáticas questões raciais. É com  este pano de fundo que Jean Louise descobre verdades perturbadoras acerca da sua família, da cidade e das pessoas de quem mais gosta, o que a leva a interrogar-se sobre os seus valores e princípios, e a confrontar-se com complexos  problemas de ordem pessoal e política.

Vai e Põe Uma Sentinela, romance inédito de Harper Lee, cujo manuscrito  se havia  perdido mas  descoberto em 2014, foi escrito antes de Matar A Cotovia e apresenta-nos muitos dos personagens dessa mítica obra,  agora vinte anos mais velhos. Um livro magnífico, comovente e de grande fascínio de um dos maiores vultos da ficção contemporânea.”

Presença, 2015

Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral