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planetamarcia

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Novembro 28, 2015

Uma Noite Caiu uma Estrela - Escrito por David Machado, Ilustrado por Paulo Galindro - Opinião

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Há adultos que compram livros infantis para crianças e há adultos que compram livros infantis para si. Eu pertenço aos dois grupos, mas confesso que vou para casa de alma cheia quando compro um livro infantil para mim. 

Uma Noite Caiu uma Estrela é de um bom gosto irrepreensível. A história lê-se com prazer e as ilustrações são fabulosas. A preto e branco, é um livro que emana uma luz especial. A luz desta estrela que caiu do céu, que cega os olhos de sorrisos cada vez que o livro é aberto.

Trouxe a estrela para casa e vou visitar o Óscar muitas vezes. Eu acho que ele, afinal, não tem medo de nada.

Recomendo que esta estrela vos caia na estante.

Sinopse

“Uma noite, cai uma estrela na terra. Um menino resolve guardá-la sem saber que a luz emitida pela estrela vai impedir toda a gente de dormir. É uma história sobre coragem, sobre superação de adversidades, sobre a aventura que é ser-se criança.”

Alfaguara, 2015

Outubro 19, 2013

Índice Médio de Felicidade - David Machado - Opinião

 

Experimento emoções contraditórias em relação a este livro. Uma leitura que não me realizou a 100%. Escrito na primeira pessoa, lemos a voz de Daniel, um idealista optimista com uma tremenda fé no futuro.

Daniel começa por me irritar. A sua fixação no sucesso não é real, tanta vontade de vencer e certeza de concretizar objectivos passa a teimosia oca quando tudo vai desabando à sua volta. Perde o emprego, perde a casa, separa-se da família, e continua plenamente confiante no sucesso que escreveu num caderno há muitos anos. Credível é ter sonhos, verosímil é ser determinado, inteligente é encontrar um plano alternativo.

Mais um livro sobre a crise, sobre a injustiça e o desemprego, sobre uma juventude capaz e competente que perde emprego qualificado e acha uma sorte conseguir trabalhar a fazer entregas. Daniel é salvo pela determinação e pela sorte, assim pensa ele, mas a sorte é aleatória, não depende da determinação. A sua revolta é demonstrada pelo uso abusivo de palavrões, que achei excessivo e me desagradou; haveria outras formas de expressar a angústia da personagem.

Daniel é “Amanhã o sol volta a nascer” levado ao extremo. É convicto que tudo pode resultar e que os seus intentos serão concretizados. Pode o sonho justificar essa tenacidade? Esse investimento na incerteza? A fé cega?

Foi esta dualidade que me manteve nesta leitura. Tentei gerir o conflito que senti pelas atitudes irracionais de Daniel, com a luz do sonho que o orienta. A utopia de que há reviravoltas, que a sorte, o destino ou o que seja cumpre a sua função de colocar de novo a vida sobre carris.

Um livro que não me convenceu verdadeiramente mas que vale pelo conflito em que me colocou e pela discussão que pode iniciar. Composto de contrastes. Não se consegue ficar indiferente.

Uma leitura que leva a uma reflexão sobre a felicidade e que, provavelmente, me fez incluir mais variáveis nos meus cálculos pessoais. Na certeza de que o meu índice médio de felicidade não é o mesmo na primeira e na última página.

 

“Foi isso, essa falta de futuro, que me assustou. Como é que ele consegue não pensar no futuro? Como é que amanhã, ou no mês que vem, ou daqui a dez anos não lhe pesa no espírito? Como é que uma pessoa pode acordar todas as manhãs e não sentir qualquer esperança ou receio daquilo que está para acontecer? Eu não sabia falar com uma pessoa assim.” (Pág. 17)

“Não tive medo. Lembro-me disso. Repara, eu tinha o futuro escrito num caderno, li-o dezenas de vezes, estudei-o, pensei-o, as palavras assumiram uma solidez dentro de mim, quase um instinto, a minha certeza em relação àquilo que estava para acontecer era inabalável.” (Pág. 49)

“O que é que estás a ler?

É um romance.

E os jornais?

Já não leio jornais. Já não leio nada que seja real.

Porquê?

Já sei como acaba.

Como é que acaba?

Não acaba bem.” (Pág. 157)

“Havia tanta coisa para fazer, tantos lugares onde estar, tanta vontade para consolar, mas andamos a gastar os dias uns dos outros, por não sabemos tomar conta de nós próprios, não sabemos fazer o que é exigido de nós e continuar em frente quando nos perdemos no caminho que seguíamos, e então contamos que alguém apareça, que nos dê a mão, ou o braço, ou a vida. Eu não quero ajudar ninguém e também não quero ser ajudado.” (Pág. 213)

 

Sinopse

“Daniel tinha um plano, uma espécie de diário do futuro, escrito num caderno. Às vezes voltava atrás para corrigir pequenas coisas, mas, ainda assim, a vida parecia fácil - e a felicidade também. De repente, porém, tudo se complicou: Portugal entrou em colapso e Daniel perdeu o emprego, deixando de poder pagar a prestação da casa; a mulher, também desempregada, foi-se embora com os filhos à procura de melhores oportunidades; os seus dois melhores amigos encontram-se ausentes: um, Xavier, está trancado em casa há doze anos, obcecado com as estatísticas e profundamente deprimido com o facto de o site que criaram para as pessoas se entreajudarem se ter revelado um completo fracasso; o outro, Almodôvar, foi preso numa tentativa desesperada de remendar a vida. Quando pensa nos seus filhos e no filho de Almodôvar, Daniel procura perceber que tipo de esperança resta às gerações que se lhe seguem. E não quer desistir. Apesar dos escombros em que se transformou a sua vida, a sua vontade de refazer tudo parece inabalável. Porque, sem futuro, o presente não faz sentido.
Índice Médio de Felicidade é um romance admirável e extremamente actual sobre um optimista que luta até ao fim pela sua vida e pela felicidade daqueles que ama. Dramático e realista, mas com momentos hilariantes, confirma o talento de David Machado como um dos melhores ficcionistas da sua geração.”

D. Quixote, 2013

Livro do plano de leituras da comunidade de leitores Leya em Grupo.