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planetamarcia

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Dezembro 08, 2016

Adoração - Cristina Drios - Opinião

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Depois de Os Olhos de Tirésias, uma das minhas melhores leituras de 2015, Adoração esperava-me com elevada expectativa. O desejo de voltar a uma narrativa envolvente, e a um estilo literário que eu já colocara (bem) acima da média era enorme. É fácil, como nós leitores bem sabemos, esta ser uma premissa para a desilusão. E, por isso, iniciei a leitura com cautela, embora sinceramente esperasse nada menos do que uma superação do livro anterior.

Gostei bastante deste Adoração. Revela uma evolução e um nível de maturidade literária que me surpreendeu. Cristina Drios evoluiu de modo colossal, fazendo-me emaranhar de prazer nas frases cuidadas, apreciando as palavras escolhidas com esmero. Um deleite, só vos digo, o que foi ler este livro lentamente, saboreando a linguagem cuidada e o vocabulário rico, contudo bastante acessível. Uma escrita palavrosa, porém, descomplicada. Sem definições desconhecidas ou termos complexos. Nada presunçoso, porém, erudito. Ou a caminho disso, digo eu.

A história é excepcional e merece que a descubram. Não me perderei em considerações sobre o enredo ou as personagens, pois admito que Adoração me encantou sobretudo pela escrita. Além disso é uma história misteriosa, não se encaixará exactamente no rótulo do policial, apesar de começar com um crime. Também não sei se será um romance histórico, dado que uma parte acontece num passado muito recente. É um romance cheio de segredos, com cadência ponderada. Um livro pensado. Muito bem pensado. Deixo-vos a sinopse para se entusiasmarem.

Agradeço à Cristina ter-me tirado da ignorância no que toca a Caravaggio e ao seu percurso, que conhecia de forma muito superficial. A internet ajudou-me a ver a luz na escuridão dos seus trabalhos. Fica o desejo de me maravilhar “olhos nos olhos”.

Gostei imenso, recomendo sem reservas, mas não posso deixar de admitir que a trama de Os Olhos de Tirésias me marcou de modo diferente e especial.

Sinopse

“Descrito pelo duque de Nottetempo, seu contemporâneo, como «um brigão, um arruaceiro», o pintor Caravaggio passou uma curta temporada na Sicília em 1609, aguardando o indulto papal para um crime de sangue que cometera em Roma. Nesse período, pintou uma tela que ficaria conhecida por A Adoração e que esteve no Oratório de S. Lourenço, em Palermo, até ser roubada em 1969, ano em que nasceria Antonia Rei.
É essa mesma Antonia que, em 1992, testemunha um homicídio perpetrado pela máfia numa praça da cidade, onde é interrogada pelo comissário Salvatore Amato, que acaba por contactar alguns dias mais tarde. Mas não é curiosamente sobre o assassínio que lhe quer falar, antes sobre o roubo do famoso quadro. Oscilando entre épocas afastadas no tempo, entre a história fascinante da pintura d’A Adoração e a da investigação de Salvatore Amato num dos mais violentos períodos da acção da máfia, este romance recorre aos jogos de espelhos que Caravaggio usava nas suas pinturas para atrair ao mesmo vórtice de luz e trevas as vidas de um leque de personagens cativantes, mortas ou vivas, mas todas misteriosamente condenadas ao desencontro.”

Teorema, 2016

Setembro 23, 2016

Teorema - Adoração, de Cristina Drios

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Descrito pelo duque de Nottetempo, seu contemporâneo, como «um brigão, um arruaceiro», o pintor Caravaggio passou uma curta temporada na Sicília em 1609, aguardando o indulto papal para um crime de sangue que cometera em Roma.
Nesse período, pintou uma tela que ficaria conhecida por A Adoração e que esteve no Oratório de São Lourenço, em Palermo, até ser roubada em 1969, ano em que nasceria Antonia Rei.
É essa mesma Antonia que, em 1992, testemunha um homicídio perpetrado pela máfia numa praça da cidade, onde é interrogada pelo comissário Salvatore Amato, que acaba por contactar alguns dias mais tarde. Mas não é curiosamente sobre o assassínio que lhe quer falar, antes sobre o roubo do famoso quadro. Oscilando entre épocas afastadas no tempo, entre a história fascinante da pintura d’A Adoração e a da investigação de Salvatore Amato num dos mais violentos períodos da acção da máfia, este romance recorre aos jogos de espelhos que Caravaggio usava nas suas pinturas para atrair ao mesmo vórtice de luz e trevas as vidas de um leque de personagens cativantes, mortas ou vivas, mas todas misteriosamente condenadas ao desencontro.
Nas livrarias a 27 de Setembro

Julho 09, 2016

Histórias Indianas - Cristina Drios - Opinião

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Estas histórias encantaram-me. Li-as de uma assentada e com um imenso prazer.

São oito viagens a uma Índia descoberta por um olhar atento aos detalhes. De pequenos pormenores vi nascer personagens que brincaram com a minha imaginação, deixando-me fantasiar enquanto me embalavam no exotismo dos cheiros e dos ambientes.

É permitido saltar da riqueza para a pobreza, ou do calor prazeroso para a humidade sufocante, como quem abre e fecha uma porta. É essa a grande vantagem dos Contos. A rapidez com que se descobrem tantas coisas e a facilidade de regressar, de voltar atrás no caminho para novas e insuspeitas descobertas.

Parece fácil. Mas não é. É sempre mais difícil dar muito quando se escreve menos. Contos são mistérios que tenho vindo, com calma, a descobrir. Que quero estar sempre a ler, independentemente do tamanho de outras leituras que possa ter em curso. É uma arte difícil. Dar tanto ao leitor em menos linhas, em menos páginas, mas proporcionando tanta agitação da imaginação, a nossa contribuição para tornar cada história, cada livro, único e muito pessoal.

Só os melhores Contos o conseguem. São esses que guardamos. Deste livro guardo todos, mas muito especialmente o Obsessão e o 205.

Cristina Drios escreve com uma beleza inspiradora. A narrativa, por vezes densa, marca um ritmo que não se consegue abandonar. Já me tinha conquistado com Os Olhos de Tirésias, e estas Histórias Indianas aumentaram o meu interesse de a continuar a ler. Cá fico na expectativa de novos trabalhos.

Editora Objectiva, 2012

Dezembro 18, 2015

Os Olhos de Tirésias - Cristina Drios - Opinião

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Há livros que nos contam, logo nas primeiras páginas, que serão dos nossos preferidos.

O ano de 2015 está a terminar. Não ligo a listas de preferidos, não escolho os meus livros top, estou sempre a pensar no que ler a seguir e, quando muitos leitores refazem o caminho percorrido, eu dou por mim a organizar o meu 2016 em leituras. É por isso curioso que este ano me tenha reservado algo tão bom para o fim. Tão bom que me faz, a mim, a anti-listas de favoritos, repensar leituras, olhar para trás, para ter a certeza de que, Os Olhos de Tirésias foi mesmo do melhor que li este ano.

Confirmo que sim. Poucas vezes, nas minhas leituras, senti que a escrita me inundava de beleza. A busca pela beleza é inglória. O bom pode sempre ser melhor, o belo tem de nos extasiar, levar ao próximo nível. Estas páginas levaram-me embalada na beleza da escrita da Cristina.

Leio rápido, sôfrega de chegar ao fim, muitas vezes leio o fim antes do tempo, sem calma nem ponderação. Mas desta vez não consegui. Quis, sempre, ficar um pouco mais enredada na escrita densa, saboreando as palavras nas frases, as frases no texto, atravessando as fronteiras do espaço e do tempo, e indo, realmente indo, aos locais.

A beleza da escrita e o vocabulário rico não dissimulam os horrores da guerra. O horror pode ser belo se nos marcar de forma permanente, fazendo-nos querer ler outra e outra vez determinada passagem, mesmo que dura, mesmo que de cada vez sintamos que são os nossos pés que estão a congelar de frio na trincheira, ou que é sobre o nosso corpo que as ratazanas se passeiam. E depois sentir o amor. Lê-lo e senti-lo nascer da dor, do frio e do sangue, como a paz no meio da luta, o esconderijo, a porta que se fecha deixando o sofrimento de fora.

Conto-vos apenas que há uma mulher que quer descobrir quem foi o seu avô. Esta mulher quer escrever, e luta por conhecer a história desse antepassado que combateu na Primeira Guerra Mundial. Recupera-lhe a infância e reconstrói-lhe o percurso. Reconhece-lhe o círculo negro que o isola, e sabe-o como se ele estivesse vivo, na sua frente, e lhe pudesse contar que não sabe sentir. Que nada o magoa, seja a miséria ou o frio enquanto criança, seja estar só na noite da guerra rodeado de mortos. Até um dia. Porque há sempre um dia que é o fim de tudo, mesmo das coisas más. Nesse dia o círculo negro fica menos negro.

E esta mulher luta, num escritório pequeno onde cabe uma parte do mundo, por escrever. Luta com as palavras que nunca são, para ela, as certas, que apaga muitas vezes até que tudo fique no papel como é na sua cabeça. Sofre e observa. Viaja para França para descobrir o avô e tropeça no amor. Mas a distância alimenta a dúvida e, no seu mundo de palavras, a memória é traiçoeira. Insegura e um pouco tonta, embrenha-se cada vez mais na sua solidão. Na angústia. Na expectativa. Recupera documentos e cartas. Trabalha. Cria as personagens inesquecíveis deste livro, coloca-as num cenário real, que deixa de ser cenário para ser vida, as suas vidas, reais, que aconteceram. Porque depois da última página ninguém tem dúvidas disso.

“Nas nossas vidas, construídas, tijolo a tijolo, de acasos, o azar ocupa pouco lugar; há sempre uma razão para estarmos em determinado local, e não onde supostamente deveríamos estar, acomodados e obedientes, embora não tenhamos logo a consciência do que, na verdade, ali nos levou. E quando, ao contrário da vaga impressão de não estarmos onde deveríamos estar – ainda que não sabendo onde isso fosse, tão infinito é esse mundo de possibilidades-, intuímos finalmente essa razão, esse momento único e irrepetível fica, indelével, na nossa memória e nos nossos sonhos.” (Pág. 18);

“Creio que, para se tornarem marcos miliários na vida do leitor, os livros carecem de uma leitura não só no tempo certo, como no local certo, como ainda, nesse tempo e local, abrindo campo a uma possibilidade latente, escondida, talvez mesmo rejeitada. Como o amor. Abrem-nos os olhos para um desejo, qualquer coisa a latejar cá dentro que não queríamos ou sabíamos exprimir. Ali está, preto no branco, de repente tudo se torna claro, preciso e irrefutável, abre-se uma porta e, daí em diante é impossível arrepiar caminho. Como se o diabo nos entrasse no corpo.” (Pág.122);

Sinopse

“A descoberta de um retrato daquele avô cuja história a família sempre encobriu - Mateus Mateus, o gigante de olhar estranho que partiu, no contingente português, para a Flandres durante a Primeira Guerra Mundial - é o pretexto que a narradora encontra para, simultaneamente, escrever um romance e se afastar de um casamento que parece condenado ao fracasso. Para saber mais sobre o passado desse desconhecido, parte, também ela, para a propriedade de La Peylouse, em Saint-Venant, que alojou o Estado- Maior português nos anos 1917-1918 e da qual o avô, depois de ter servido na frente como maqueiro e coveiro, foi enviado numa missão de espionagem, acabando prisioneiro dos alemães. No bizarro hospital onde passa os meses que antecedem a batalha de La Lys (o mesmo onde virá a ser internado um cabo alemão chamado Adolf, atacado de cegueira histérica), Mateus Mateus cruza-se com figuras inesquecíveis: Alvin Martin, um inglês albino dado às premonições; Hugo Metz, o médico que usa métodos de inspiração freudiana para interrogar os pacientes; o órfão Émile Lebecq, pequeno ladrão e ilusionista amador; e, sobretudo, Georgette Six, a bela enfermeira francesa que perdeu o noivo na guerra e pela qual o português se tornará um homem diferente. E, porém, à medida que a neta de Mateus Mateus vai desfiando essa história - num jogo em que a realidade se torna indestrinçável da ficção -, também a sua vida é sacudida por uma paixão - e só o encontro com Cyril Eyck e o seu bisavô centenário trará a chave para os enigmas do próprio romance.”

Teorema, 2013