Abril 25, 2010
Don Peregrino - Cecilia Samartin - Opinião
Depois de me ter deixado maravilhar com o fabuloso “Coração Fantasma”, foi com altas expectativas e muita ansiedade que iniciei a leitura de “Don Peregrino”, mais um aclamado romance de Cecilia Samartin, editado em Portugal pela Vogais & Companhia.
“Don Peregrino” é uma história de amizade e fé. Um relato humano das coisas que realmente importam, da profundidade dos sentimentos e da superficialidade do aspecto físico. Jamilet nasceu com um sinal de nascença em toda a extensão das costas e coxas, desde criança que é ostracizada por essa marca, o que condiciona as suas relações com os outros. Toda a sua vida sonhou ver-se livre da marca e, como tal, foge da sua aldeia natal no México com o objectivo de encontrar um médico que a ajude nos Estados Unidos.
Superadas as dificuldades iniciais de estar num novo país como imigrante ilegal, Jamilet vive em casa da sua tia Carmen e consegue um emprego num hospital psiquiátrico onde se deverá ocupar apenas de um doente, o muito especial “Don Peregrino”. Apesar das dificuldades iniciais em lidar com a arrogância e temperamento do paciente, Jamilet consegue criar uma ligação com o mesmo que se vai estreitando até ao nascimento de uma franca amizade.
“Don Peregrino” partilha com ela uma história da sua juventude tão marcante que se revela estar na base da sua situação actual. Jamilet fica fascinada com as descrições da peregrinação no caminho de Santiago, viagem que “Don Peregrino” fez há muitos anos, e que revelam uma paixão pelas cores de Espanha, os sons e claro, o amor descoberto e perdido…
Estas duas personagens percorrem juntas mais um “caminho” nos tempos actuais. Se por um lado vivem juntos a história passada na juventude de “Don Peregrino”, partilham também a realidade actual de Jamilet e os seus receios e inseguranças do primeiro amor. As suas dificuldades em aceitar o que não gosta no seu aspecto físico condicionam a aproximação a Eddie e são o motivo de dúvidas e muitas tristezas.
Cecilia Samartin não perdeu o dom de cativar o leitor pelas emoções humanas e por mais uma história de vida que emociona, faz pensar e, acima de tudo, proporciona horas de uma leitura mágica e envolvente. Uma escrita simples mas muito rica de sentimentos, apresenta-nos vidas daqueles que diariamente superam as dificuldades de serem aceites por uma sociedade pouco tolerante. Recomendo muito!
Sinopse
“Jamilet é uma bela rapariga desfigurada por uma chocante marca de nascimento que lhe percorre as costas e as pernas como uma odiosa capa sangrenta. A jovem é escorraçada pelos habitantes da sua aldeia natal, no México, atravessa ilegalmente a fronteira e vai para Los Angeles em busca da salvação médica. Depois de arranjar documentos falsos, Jamilet arranja trabalho num hospital psiquiátrico a tratar de um tal Don Peregrino, um homem desagradável e misterioso. A jovem tem ordens para se manter à distância, mas quando ele lhe surripia os documentos pessoais, concorda de má vontade em ouvir a sua história para os poder recuperar. Juntos regressam aos dias da juventude do paciente, época em que ele embarca numa jornada romântica pelo lendário Caminho de Santiago. Jamilet e Don Peregrino forjam uma ligação espiritual extraordinária, mais terapêutica para ambos do que a medicina moderna. Numa história inspiradora de redenção, fé e amor, Cecilia Samartin dá-nos uma perspetiva esclarecedora do verdadeiro significado da beleza.”
Vogais & Companhia, 2010