Outubro 02, 2016
Os Malaquias - Andréa del Fuego - Opinião
Eu estava de saída para o Folio, no dia 22 de setembro, quando num impulso, voltei atrás e tirei Os Malaquias da estante.
Já o tenho há três anos e, apesar da curiosidade, foi ficando para trás, preterido por outras leituras. Já desconfiava que seria um óptimo livro, foi vencedor do Prémio José Saramago 2011, sendo que os prémios nem sempre são indicativos seguros de que um livro me vai agradar. Mas a verdade é que gostei muito. E quando assisti à sessão, no dia 23, com Andréa del Fuego e Afonso Cruz (moderação de João Paulo Sacadura), sobre o lugar do fantástico na literatura lusófona actual e a criação de universos imaginários, já ía a meio do livro.
Os Malaquias foi o meu companheiro do Folio (falamos de livros, entenda-se), e foi uma excelente opção. Durou exactamente os dias que tive disponíveis para o festival, e ficará sempre associado ao evento.
Em relação à história e à escrita, posso dizer-vos que são ambas surpreendentes. O início do livro é de ficar sem pinga de sangue, e basta ler a primeira página do segundo capítulo para saber que o argumento tem um potencial incrível, e que Andréa tem um estilo único (e espectacular). Não resisto a deixar-vos aqui a dita página, para que se impressionem (espero eu).
Esta é a premissa, três crianças sozinhas numa casa onde os pais morreram fulminados por um raio. Desafio-vos a lerem este livro, a deixarem-se levar por um realismo que não sei se é mágico, mas que é de uma irrealidade incrível e estranhamente verosímil. Acredito nas palavras de Andréa. Acredito numa aldeia que desapareceu debaixo de água, mas que, mesmo assim, continuou a acolher habitantes. Acredito que um homem pode desaparecer dentro de um bule, através do passador. Acredito em todas as histórias que me fazem ficar presa a um livro até o terminar e que, já agora, me proporcionam uma viagem de fazer esquecer o que está ao redor.
Gostei ainda mais do Folio por me ter feito, finalmente, descobrir Os Malaquias.
Sinopse
“Serra Morena. Um raio esturrica o casal, em luz e carne. Os filhos ficam órfãos, com destinos diferentes. Antônio, o menino que não cresce. Nico, o patriarca engolido por um bule de café. Júlia, a menina em fuga permanente. Um lugar onde as sombras da terra e da água convivem. Onde a morte e a vida são o mesmo mundo. Um poema seco à humanidade de cada um de nós.
Uma escrita áspera mas poética, desenhada com a vertigem das memórias da família Malaquias, e que evolui como tributo pessoal da autora aos seus antepassados.
Transcendental e mágico, este romance do insólito revela-se uma leitura para o coração.
Um livro forte, aclamado, invulgar.
Vencedora do Prémio Literário José Saramago 2011
Finalista do Prémio São Paulo de Literatura e do Prémio Jabuti, na categoria romance, ambos em 2011.”
Porto Editora, 2012