Fevereiro 16, 2014
Órix e Crex O Último Homem - Margaret Atwood - Opinião
As vantagens de pertencer à Roda dos Livros são inúmeras, mas as sugestões de leitura e as possibilidades que todos os meses se abrem de conhecer novos autores, têm marcado significativamente o último ano.
Margaret Atwood, uma Senhora da Literatura que pertence à minha “existência pós-Roda”, virá possivelmente a tornar-se uma das minhas escritoras favoritas de sempre. Órix e Crex é o terceiro livro que leio dela e a vontade de continuar a descobrir o “Universo Atwood” é gigante.
A sua imaginação prodigiosa e a capacidade de me fazer acreditar, e sobretudo, viver nos seus “mundos-limite”, conquista-me mais um pouco a cada livro. Uma ficção verosímil que me faz reflectir sobre uma enormidade de temas da nossa sociedade, designada pela própria por “Ficção Especulativa”.
É espantoso o seu conhecimento acerca da sociedade e da ciência, pelo menos para mim, que de cientista nada tenho. Atwood leva temas como a clonagem a um nível impensável (para mim, volto a repetir), “brinca” de forma séria com doenças fabricadas, testes e vacinas. Desde o início que percebi que há um Mundo onde toda a acção decorre, é o Mundo que interessa, pois o outro, o inferior, cheio de gente que não se enquadra nas regras, pode muito bem ser o nosso. Ainda consegue aliar a religião a este cenário, na medida em que tudo acontece sob as decisões de um só homem, como se fosse o próprio Deus a criar todas as coisas.
A organização estrutural de “Órix e Crex” é admirável. Não há linearidade na sucessão dos acontecimentos, isto é, a forma como a história nos é apresentada não obedece a qualquer regra lógica. O leitor trabalha e esforça-se, joga no meio das peças do puzzle do tempo que vai juntando. Senti-me como se a ler, também fizesse parte desta construção, pois que fui tecendo tudo na minha cabeça, e tudo vai fazendo sentido de uma forma estranhamente ponderada. Quero com isto dizer que não é um livro com um final inesperado ou surpreendente, mas sim um percurso que se absorve a cada página, a cada capítulo. Existe uma ponderação e uma organização de caos que me sinto muito limitada a explicar mas que resulta, absorve, envolve e, acima de tudo, me deixou perfeitamente convencida.
Distopia, Utopia, Realidade, Ficção. Não sei onde enquadrar Órix e Crex. Nem quero. Algo levou a que no fim só houvesse um Homem – O Último Homem, sendo que o fim é o princípio. Confuso? Não. Simplesmente Genial.
Sinopse
“Pode ser que os porcos não voem, mas estão completamente alterados. O mesmo se passa com os lobos e outros animais. Um homem, que em tempos se chamou Jimmy, vive numa árvore, embrulhado no seu lençol e diz chamar-se Homem das Neves. A voz de Órix, a mulher que ele amava, provoca-o e persegue-o. E os Filhos de Crex são agora responsabilidade sua. Como é que o mundo inteiro se desmoronou tão depressa? Com a sua habitual agudeza de espírito e o seu humor negro, Margaret Atwood apresenta-nos um mundo novo, habitado por personagens que não nos deixarão acabado o último capítulo.”
Bertrand, 2010