Maio 06, 2016
O Tempo do Senhor Blum e outros contos - Marlene Ferraz - Opinião
Compenso os dias demasiado longos com histórias curtas. A injustiça das horas faz com que haja sempre um livro de Contos na minha vida. O salva-vidas do meu contra-relógio. O ponto final na leitura desses dias, já noite, aconchega-me na satisfação de conhecer o fim do que comecei a ler de manhã ou meia hora antes.
Depois de ler O Tempo do Senhor Blum e outros contos, sei que é preciso escolher palavras que galgam margens para escrever tanto nas páginas de um Conto. É preciso, talvez, ter o dom da invenção.
Senti, a cada página destes Contos cheios de flores e frutos, que era a primeira vez que lia, que estava apenas a aprender a juntar letras em palavras e palavras em frases. Por ser tudo novo e perfumado. Por ler muitas vezes a mesma frase, na surpresa do impossível ser verdade. Atentei na beleza e repeti-me na leitura, no espanto constante de não me cansar. Tentei perceber como se escreve assim e respondi-me que deve ser preciso nascer com uma linguagem própria, ou inventá-la pelo caminho.
Surpreendente e original, só me desilude não ter mais livros da Marlene Ferraz para ler (a autora publicou o romance A Vida Inútil de José Homem, que já li). Uma falha das nossas editoras, talvez mesmo um acto criminoso.
Procurem-no com persistência. É como encontrar um tesouro.
Prémio Afonso Duarte 2011/2012