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planetamarcia

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Março 14, 2016

Impunidade - H. G. Cancela - Apenas algumas palavras

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Quando um livro nos deixa sem palavras não vale a pena inventar. No entanto, mesmo sem as palavras que o livro merece, e que eu não tenho capacidade de articular, recomendo que o leiam.

Eu gostei bastante, apesar dos socos no estômago, ou, se calhar, por causa deles. Não é fácil de ler e oferece um estado de choque constante. Não será para todos os leitores, mas os que resistirem a tanta impunidade até à última página, venham cá contar.

A escrita de H. G. Cancela é brilhante, um autor a seguir.

Sinopse

“Um homem caminha primeiro a pé, tacteando no escuro, depois de automóvel, conduz toda a noite, dorme na pressa de um hotel, retoma a viagem primeiro ainda em terras portuguesas, depois em Espanha.
Em Sevilha sobe ao último andar de um prédio. Tem a chave da porta, a casa está desarrumada e nela se encontram duas crianças adormecidas quase entre sinais de abandono.

«Aproximei-me da cama maior. O rapaz tinha apenas as cuecas vestidas. Magro, as pernas esguias, o cabelo comprido. Ouvia-se a respiração. Rápida, regular, entrecortadas por pausas de onde emergia com uma aspiração sufocada. Da outra cama, não se ouvia nada. A menina estava despida, com o cabelo espalhado pelo rosto e as pernas cobertas com a ponta do lençol. Apoiei-me nas grandes, debrucei-me e afastei-lhe o cabelo. Não se mexeu. Respirava devagar, com os lábios entreabertos e um quase insensível movimento do peito. Parecia fria, apesar do calor, o corpo contraído, a cabeça colada aos joelhos. Tinha os lençóis húmidos em redor das coxas. Na penumbra, a sua pele esbatia-se contra o tecido branco.»

Este é o início de uma história inesperada, dura, com o «esplendor das coisas ameaçadas».”

Relógio d’Água, 2014

Uma leitura Roda dos Livros, Livros em Movimento

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