Fevereiro 08, 2015
A ridícula ideia de não voltar a ver-te - Rosa Montero - Opinião
Primeiro foi a grande vontade de voltar a ler um livro de Rosa Montero. Depois conhecer o tema. A vontade cresce. Apenas com um livro lido da autora já a considerava uma das minhas escritoras preferidas ou, numa perspectiva mais realista, com um enorme potencial para isso.
Rosa Montero a escrever sobre a vida de Marie Curie. A admirável Curie, cujo percurso descobri tarde, que me interessa, como só pode interessar a entrega total, até extrema, ao que se acredita, de quem faz da paixão o seu modo de vida.
Rosa Montero a escrever sobre a morte. Sobre a morte de Pierre Curie. Sobre o luto e a dor de Marie Curie. E sobre ela própria, sobre a sua dor depois da perda de Pablo, o marido.
Um livro sobre a morte. Cheio de verdades sobre a vida. A vida da autora, de Curie, de todos os leitores deste livro, de todos os que acreditam em livros emotivos, descargas de emoções confusas, meio loucas, com saltos temporais, com visitas ao passado sem saudade só porque existiu e faz parte. Um livro sem regras. Uma biografia de uma Senhora da Ciência do século XX, misturada com sensações vindas do âmago de quem escreve. Um livro humano, do lado bom da humanidade, das memórias boas que fazem bem, apesar das partes tristes e mesquinhas que narra.
Das mulheres fortes. Que seguem em frente pisando o conceito gasto de “mundo de homens”, e lutam, e trabalham, e sofrem, e riem para chegar lá. Com descobertas inovadoras. Escrevendo magníficos livros. Com o poder de sempre a seguir em frente que os anos lhes deram.
Exemplos para pensar e seguir. Por mulheres e homens.
“A ridícula ideia de não voltar a ver-te” marcou-me como leitora. Fez-me feliz. Recomendo.
“Para conseguir escrever um romance, para aguentar o tempo longuíssimo e aborrecido que esse trabalho implica, mês após mês, ano após ano, a história tem de manter bolhas de luz na nossa cabeça. Cenas que são ilhas de emoção candente. E é pelo desejo de chegar a uma dessas cenas que, não sabemos porquê, nos deixam a tiritar, que atravessamos talvez meses de soberano e insuportável aborrecimento ao teclado.” (Pág. 14)
“A criatividade é justamente isso: uma tentativa alquímica de transmutar o sofrimento em beleza. A arte em geral, e a literatura em particular, são armas poderosas contra o mal e a dor. Os romances não os vencem (são invencíveis), mas consolam-nos do horror. Em primeiro lugar, porque nos unem ao resto dos humanos: a literatura torna-nos parte do todo e, no todo, a dor individual parece que dói um pouco menos. Mas o sortilégio também funciona porque, quando o sofrimento nos parte a espinha, a arte consegue transformar esse dano feio e sujo numa coisa bela.” (Pág.92)
Sinopse
“Quando Rosa Montero leu o diário que Marie Curie começou a escrever depois da morte do marido, sentiu que a história dessa mulher fascinante era também, de certo modo, a sua. Assim nasceu A ridícula ideia de não voltar a ver-te: uma narrativa a meio caminho entre a memória pessoal da autora e as memórias coletivas, ao mesmo tempo análise da nossa época e evocação de um percurso íntimo doloroso.
São páginas que falam da superação da dor, das relações entre homens e mulheres, do esplendor do sexo, da morte e da vida, da ciência e da ignorância, da força salvadora da literatura e da sabedoria dos que aprendem a gozar a existência em plenitude.
Um livro libérrimo e original, que nos devolve, inteira, a Rosa Montero de A Louca da Casa - talvez o mais famoso dos seus livros.”
Porto Editora,2015
Tradução de Helena Pitta
Passatempo para 1 exemplar a decorrer. Saibam tudo aqui.