Junho 19, 2013
O Destino Turístico - Rui Zink - Opinião
Temo que o que possa escrever sobre “O Destino Turístico” seja demasiado revelador. Um livro que não é o que parece ser à partida. Não é que haja uma grande reviravolta, a verdade é que só a partir de determinado momento comecei a absorver a história no seu real contexto. Isto aconteceu quando o Rui Zink entendeu que assim seria, e me revelou a verdade. Ou o que eu acreditei como sendo a verdade.
Uma viagem de férias para um destino diferente, que nunca cheguei ao certo a saber qual seria. Mas isso não é o mais importante porque pude imaginar, criar palcos de ação, decidir onde poderia colocar Greg, o viajante.
Na verdade esta leitura exigiu bastante de mim, como se estivesse sempre a pedir “completa-me” ou “dá-me uma lógica”. Senti que o meu modo de interpretar eram o fio condutor desta narrativa, como se fosse necessário juntar peças de modo criativo para a história fazer sentido. Fazer (algum) sentido na minha cabeça pelo menos. Um livro que poderá ser uma imensidão de livros, quantos leitores tenha para, mais uma vez, o construir.
Cedo percebemos que Greg não tem medo da morte, se calhar quer mesmo morrer. A viagem para um local de perigo iminente foi escolhida por si; como se desejasse partir e quisesse dar uma ajudinha ao destino colocando-se propositadamente em risco.
Neste estranho e perigoso destino turístico a morte está em todo lado. Há diversas pistas que ajudam a desconstruir o enigma mas eu confesso que não apanhei nenhuma: Na verdade só percebi que havia um enigma quando a explicação foi clara e óbvia. Foi bom ser surpreendida mas ao mesmo tempo senti-me um pouco perdida num cenário em que nem tudo batia certo durante demasiado tempo.
Mas foi bom. Uma experiência única. Como umas férias inesquecíveis. Recomendo!
E aquele estilo muito próprio do Rui Zink, com sátira e ironia social q.b., nos momentos mais inesperados que, subitamente, se tornam os mais acertados.
“Ora muito bom dia – o rececionista era a boa disposição em pessoa. Nada de admirar, pagavam-lhe para isso. Pela experiência de Greg, qualquer pessoa podia mostrar entusiasmo e boa disposição, desde que fosse paga para isso. Má disposição era mais difícil. Requeria uma dose mínima de sinceridade.” (Pág. 33)
“- Falai em mortes estúpidas! – Riu o companheiro da mulher.
Greg ia a dizer das suas, quando, por algum motivo (um familiar a quem aquilo ocorrera, talvez?), o motorista também afinou:
- E de que morte inteligente gostava o senhor de morrer, pode saber-se?” (Pág.46)
“Comer peixe até ser envenenado pelo mercúrio? Carne de vaca na esperança de ganhar uma encefalopatia espongiforme? Jogar à roleta russa com a gripe aviária ou a peste suína? Mastigar vegetais sem os lavar na esperança de sucumbir ao peso dos pesticidas? Métodos respeitáveis, todos, mas pouco mais do que isso. Na volta, mais valeria beber água do cano e rezar para que o chumbo acumulado fosse o equivalente ao de uma rajada de balas. Mas também aí os índices estatísticos não eram convincentes. Greg suspeitava, de resto, que a desconfiança geral em relação à água da torneira era meramente uma campanha bem orquestrada para quem fazia fortunas a vender essa mesma água em garrafas de plástico” (Pág. 86)
Sinopse
“Há um sítio onde se faz turismo de Guerra. Quem lá vai quer assistir e participar ao vivo em bombardeamentos, explosões e atentados.
Há anos que a Zona é tristemente célebre pelo estado contínuo de guerra civil... é um verdadeiro "paraíso infernal". Greg parece ser apenas mais um turista, mas o seu guia - após o desaparecimento de uma delegação de observadores filipinos - começa a questionar as suas verdadeiras intenções. Porque será que Greg decidiu visitar aquele inferno de horror quotidiano?!”
Teorema, 2008