Janeiro 20, 2013
Nada a Temer - Julian Barnes - Opinião
“O Sentido do Fim” é provavelmente o livro mais conhecido de Julian Barnes. Ainda não li. Mas tendo surgido a oportunidade de ler outro título do autor, aproveitei para me dar a mim própria a conhecer o que é “considerado um dos mais relevantes escritores britânicos do nosso tempo”.
Na capa uma expressão quase como uma imposição: “Quando se tem medo da morte, há um romance que se deve ler: este.”
Eu não sei bem se tenho medo da morte. Quer dizer, acho que todos temos medo do que desconhecemos. Apesar de sabermos que vamos morrer, o que aqui está em causa é o como. Será que vamos sofrer durante muito tempo? Estaremos sozinhos? Deve haver qualquer coisa que não nos faz pensar demasiado nisso, caso contrário estaríamos em constante sobressalto a temer o fim, pois que para morrer só uma coisa é necessária: estar vivo.
“Nada a Temer” é uma espécie de ensaio, uma dissertação sobre a morte, que acaba por ser um livro sobre a vida, sobre a forma como se vive com a perspetiva da morte.
O autor partilha algumas situações bastante pessoais, e estas foram as minha partes preferidas deste romance. Conhecemos alguns episódios da sua vida e da sua experiência, dá exemplos da vida familiar e da sua própria infância; se calhar só possíveis de partilhar por já ter os pais mortos, aqui senti que a morte funciona, para ele, como algo libertador. Os filhos poderão ser um prolongamento da vida? Surgem questões sobre como agradar e estar à altura do que é esperado de nós, como filhos, e do que esperamos dos nossos filhos como o futuro, como o que fica de nós depois de desaparecermos.
Apreciei menos as partes ilustradas com exemplos de vida de outros escritores ou de figuras que não conhecia, talvez por não me sentir à vontade e por não estar a par das vidas e do trabalho dessas figuras, achei estas partes um pouco maçadoras.
Por vezes senti que tudo poderia servir de base a Barnes para escrever sobre a morte, mas não como uma obsessão, até porque o tema acaba por se tornar estranhamente positivo, morrer como uma necessidade da natureza e todos vamos contribuir. Estranho? Doentio? Acho que não. Acima de tudo o brilhantismo literário que alguém que acredito possa escrever sobre qualquer coisa, aprofundar qualquer tema e fazer o leitor pensar, e até sentir que está a participar, tal a intensidade com que tenta acompanhar o ritmo e a exposição de pensamentos.
Um livro que li devagar, concentrada, só quando tinha total silêncio. Não parei de me surpreender a cada página com a sublime construção de frases e forma particular de expor ideias.
Sinopse
“Nada a Temer é, entre muitas coisas, uma memória de família, um diálogo com o irmão filósofo, uma meditação sobre a mortalidade e o medo da morte, uma celebração da arte, uma discussão com e sobre Deus e uma homenagem ao escritor francês Jules Renard. E aos pinguins.”
Quetzal, 2011