Novembro 19, 2012
Elogio da Madrasta - Mario Vargas Llosa - Opinião
Não decido ler um livro por ter ou não ganho prémios. Até porque o processo de decisão da atribuição de prémios é bastante subjetivo. Já li livros de autores que ganharam o Prémio Nobel e não me identifiquei minimamente, não entendi que motivos tiveram para tal destaque. Não podemos gostar todos do mesmo, e como a atribuição de prémios literários não depende de mim, limito-me a ler o que gosto. E gosto de Mario Vargas Llosa. Gosto muito.
Gosto das descrições, da forma sublime como constrói frases tão belas, como conjuga palavras simples que se transformam em perfeição. Só li dois livros dele mas estou tão certa de que todos os outros me vão agradar, que desejo começar já outro livro e descobrir a beleza da sua escrita por toda a sua obra.
Estou encantada. De verdade. Maravilhada com uma narrativa tão simples e ao mesmo tempo intricada de detalhes deliciosos. Erotismo. Muito erotismo. Numa altura em qua anda tudo a ler livros sexualmente explícitos como se não houvesse amanhã, eu decidi-me a ler algo “erótico-literariamente” perfeito. Não devo maldizer livros que não li, mas desconfio de tanto romance sensual, sexual, hard-core, sadomasoquista, erótico e outros que tais que parecem estar a levar todos (principalmente mulheres) à loucura. À loucura de ler lixo.
Bom, eu recomendo o “Elogio da Madrasta” para quem se quiser divertir e brincar, mas acima de tudo imaginar, pois que um livro bem escrito dá essa margem ao leitor, dá espaço criativo para trabalhar na mente o que lê. Colocar ou não em prática já é da decisão de cada um…mas há pormenores deliciosos nas cenas de alcova entre D. Rigoberto e a sua D. Lucrécia. Há tentações, como o pequeno Fonchito, enteado ingénuo de Lucrécia que nutre pela madrasta um carinho que a entusiasma, até demais, criando um triângulo amoroso familiar estranho e talvez doentio.
E como nem tudo é o que parece, não se é tão ingénuo como Fonchito e todos os atos acabam por ter um objetivo. Assim é a natureza humana, desonesta e calculista. Um triângulo é um triângulo e mesmo com a saída de um elemento assim continuará a ser. Curiosos? Intrigados? Então há que ler…
Imperdíveis as magníficas sagas das abluções noturnas de D. Rigoberto, as suas preparações do corpo param o prazer marital. Cada dia da semana dedicado a uma zona do corpo, toda a atenção e deleite nos preparativos da descoberta dos detalhes mais íntimos do corpo da esposa. Entregue aos seus devaneios enquanto trata do nariz, dos dentes ou das axilas, deixava-se levar, ainda na casa de banho por pensamentos libidinosos que contrariava com determinação e graça, para se reservar por inteiro para o momento certo. Simplesmente brilhante.
Em alguns capítulos o autor descreve imagens de quadros que, imagino, sejam da sua preferência. Adapta as obras de arte ao “Elogio da Madrasta”, tece considerações e enredos interessantes. Em resumo, o puro prazer de ler.
Sinopse
“Lucrécia e dom Rigoberto vivem em constante felicidade. Ela, uma mulher que acaba de completar 40 anos, nada perdeu da sua elegância e sensualidade; ele, no segundo casamento, descobriu por fim os prazeres da vida conjugal. Juntos, crêem que nada pode afetar esse idílio, cheio de fantasias e de sexo. Alfonso, ou Fonchito, filho de dom Rigoberto, parece ser o único empecilho; ama demais sua mãe, Eloísa, para aceitar a chegada de uma madrasta. Mas até ele acaba por ser conquistado pelos encantos de dona Lucrécia. O amor do menino pela sua madrasta, entretanto, vai muito além do que se esperaria de uma criança, desenhando uma linha ténue entre a paixão e a inocência que mudará o destino de cada um deles. Elogio da Madrasta é a história de um universo dominado por um triângulo inquietante, que pouco a pouco envolve os leitores na rede de subtil perversidade que une, na plena satisfação dos seus desejos, a sensual Lucrécia, Rigoberto e o filho.”
D.Quixote, 2012