Julho 11, 2012
Livro - José Luís Peixoto - Opinião
Não foi por colocar em causa a qualidade da escrita de José Luís Peixoto que não tinha ainda lido um romance dele. Ou melhor, concluído um romance. Pois que a verdade é que iniciei a leitura de “Uma Casa na Escuridão” quando foi editado, mas a densidade da narrativa impressionou-me de tal modo que não cheguei à última página.
Vim a acompanhar algumas das crónicas de opinião que publica/publicou em alguns jornais e revistas, gosto de ir ao blogue dele e saber em quantas mais línguas está a ser publicado, orgulha-me o seu sucesso. Gosto dele, pronto. Sabe escrever.
Finalmente li “Abraço”. Foi tudo o que eu esperava e muito mais. Uma coleção de textos que me deliciaram por me identificar com alguns ou só porque me delicio com a escrita do Peixoto. Mas enfim, romances ainda nada.
Mas chegou o dia de tirar “Livro” da estante. Estas coisas não têm grande explicação, saltou-me para as mãos e comecei. E então fui lendo, percorrendo as páginas de uma escrita belíssima (como já sabia que ía ser). A pouco e pouco fui juntando as peças de uma história, conhecendo os personagens e a forma como se relacionam. Nem tudo é dito (escrito), gosto da margem que o autor dá para imaginar e construir o que fica por dizer; ajuda a visualizar e principalmente a criar, para mim, este “Livro”.
Não é o primeiro livro que leio sobre os anos da emigração para França, sobre a forma como os portugueses empreendiam uma verdadeira odisseia para chegar a um país diferente, onde não eram bem recebidos, faziam o trabalho que mais ninguém queria, mas mesmo assim lá íam conseguindo ter algumas coisas e construir o que o nosso país não lhes permitia obter.
“Livro” não é só isso. É um relato muito bom dessa situação mas vive das personagens e do inesperado, dos encontros e desencontros, do amor oprimido, fugido e desencontrado, das histórias do passado que explicam o presente, e do futuro que acaba por nos levar ao ponto de partida. Não é simples. Ainda bem. Requer dedicação e atenção. “Livro” é um livro a ser acarinhado, que quando pensamos que já deslindámos tudo se revela e surpreende, e percebemos o que realmente é. “Livro” é um círculo, um caminho que se percebe no fim.
Adorei a caracterização das personagens e dos seus modos, da linguagem, perfeitamente adequada aos anos e locais. Começamos em 1948 numa terra pequenina em Portugal. Os diálogos, os pensamentos, a maneira de estar… é tudo tão português, tão de época. Que sei eu? Não vivi nessa época. Mas o autor também não e foi para lá, e levou-me para lá também. Convenceu-me de tudo, acredito que foi mesmo assim. Que o amor de Adelaide e Ilídio os castigou, que os desencontros os fizeram desaparecer mas nunca esquecer, que uma história que começa com um livro, que se chama livro tem de chegar ao fim e… criar, acrescentar e enriquecer quem a lê.
Complexo? Não, muito simples. Muito bonito. Mesmo.
Sinopse
“Este livro elege como cenário a extraordinária saga da emigração portuguesa para França, contada através de uma galeria de personagens inesquecíveis e da escrita luminosa de José Luís Peixoto. Entre uma vila do interior de Portugal e Paris, entre a cultura popular e as mais altas referências da literatura universal, revelam-se os sinais de um passado que levou milhares de portugueses à procura de melhores condições e de um futuro com dupla nacionalidade. Avassalador e marcante, Livro expõe a poderosa magnitude do sonho e a crueza, irónica, terna ou grotesca, da realidade. Através de histórias de vida, encontros e despedidas, os leitores de Livro são conduzidos a um final desconcertante onde se ultrapassam fronteiras da literatura.”Livro” confirma José Luís Peixoto como um dos principais romancistas portugueses contemporâneos e, também, como um autor de crescente importância no panorama literário internacional.”
Quetzal, 2011