Maio 29, 2012
Inquietude - William Boyd - Opinião
Um livro do qual esperava muito e que já estava na minha lista há uns tempos. Este ano a compra proporcionou-se na Feira do Livro de Lisboa. A leitura foi rápida, quase compulsiva e, acima de tudo, muito gratificante.
Quando se espera demasiado de um livro é fácil haver desilusão. “Inquietude” esteve à altura das minhas elevadas expetativas e das recomendações que me fizeram. William Boyd é, sem dúvida, um autor que quero conhecer melhor.
Espionagem e conspiração são os ingredientes fundamentais deste enredo. A história de Eva Delectorskaya, desde os primeiros passos como espia em 1939, até 1976 em que partilha o seu percurso com a filha, Ruth.
Adorei ler sobre uma mulher independente e destemida como Eva, que se junta aos Serviços Secretos de uma forma súbita, após a morte do irmão. Russa, a viver a Paris, Eva passa a ter um treino intensivo, diversas identidades e perigosas missões. Tudo com o intuito de semear a dúvida em diversas operações relacionadas com a iminente II Guerra Mundial. Eva cumpre ordens, supera desafios, alcança a frieza própria de quem vive na sombra e com medo da própria sombra. Não confia em ninguém, percorre o mundo, é perseguida, persegue, forja notícias, alcança resultados, apaixona-se, sofre, é traída e luta pela sua própria fuga.
Adorei esta personagem complexa e o enredo intricado. “Inquietude” é um livro bem escrito, bem estruturado, e muito interessante. A história desta mulher não me deixou indiferente, e cheguei à última página a sentir que o seu percurso lhe deixou marcas irreversíveis que a acompanharão até ao fim da vida. Mesmo depois de, supostamente, as dificuldades terem sido ultrapassadas e parte da sua vida ter sido perfeitamente banal, nunca deixou de olhar por cima do ombro, nunca olhou para as pessoas na rua como qualquer um de nós.
Estruturalmente há uma constante viagem entre o presente, em que conhecemos Ruth, a filha de Eva, e o passado. O presente chega até nós na primeira pessoa, pela narração de Ruth. O percurso de Eva é narrado na terceira pessoa, como uma história que é contada a Ruth. Esta fica a saber qual a verdadeira história da mãe e vai ter um papel fundamental no desfecho, se é que é permitido a uma espia encerrar seja o que for e viver tranquila.
Surpresas, reviravoltas e situações inesperadas são uma constante; sem dúvida fundamentais num livro de suspense. Entretenimento garantido para os apreciadores e muita qualidade narrativa, o que nem sempre acontece neste género. Um livro muito completo que me proporcionou excelentes momentos de leitura. Muito recomendado!
Sinopse
“Por quanto tempo se consegue viver com a angústia de um grande segredo? Há-de sempre chegar a hora de acertar contas com o passado. Um electrizante thriller de espionagem e suspense ambientado na II Guerra Mundial. 1939. Eva Delectorskaya é uma jovem e bela russa a viver em Paris. Quando a guerra estala é recrutada para os Serviços Secretos Britânicos por Lucas Romer, um inglês misterioso, e, sob a sua tutela, aprende a transformar-se na espia perfeita, a camuflar as suas emoções e a não confiar em ninguém, incluindo as pessoas que mais ama. Após a guerra, Eva muda de identidade e reconstrói cuidadosamente a sua vida na Inglaterra. Mas uma espia será sempre uma espia. Hoje, Eva tem de completar uma última missão e, desta vez, não poderá executá-la sozinha: vai precisar da ajuda da filha. A riqueza de cenários e dados históricos, os diálogos ágeis, verosímeis e a narração tão elegante quanto irónica conferem a este romance premiado uma completa entrega do leitor que, se faminto por um bom livro, o lerá de uma assentada.”
Casa das Letras, 2007