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planetamarcia

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Abril 22, 2012

O Fundamentalista Relutante - Moshin Hamid - Opinião

 

Continuando a dar preferência aos livros mais curtos, este tem 128 páginas, vou descobrindo verdadeiras maravilhas. A verdade é que nunca tinha ouvido falar deste livro, mas uma cativante promoção aliada a uma sinopse interessante, fez-me arriscar na sua compra e na sua leitura.

Uma capa pouco apelativa para os dias de hoje, um autor desconhecido (pelo menos para mim) não foram suficientes para me impedir de ler a primeira página; a partir daí o interesse do tema e a originalidade da escrita fizeram o resto.

A Publishers Weekly diz tratar-se de “Um romance inteligente e absorvente sobre o 11 de Setembro”. Sinceramente não concordo. Apesar de o 11 de Setembro decorrer durante a ação deste livro, e ter, obviamente, consequências marcantes na vida de Changez, um Paquistanês a viver em Nova York, considero que “O Fundamentalista Relutante” não se resume a isso.

Changez é intelectualmente brilhante. Ao terminar o curso em Princeton tem a oportunidade de começar de imediato a trabalhar numa empresa de grande dimensão, com um cargo estimulante e um rendimento elevado. Vive o chamado “sonho americano” e, apesar de pertencer a uma família que vive confortavelmente no seu Paquistão natal, não deixa de ver as óbvias diferenças de modo e qualidade de vida, de oportunidades, de conforto do mundo ocidental.

Este livro é a voz de Changez de regresso à sua terra natal contando a sua história. Não que o 11 de Setembro o tenha obrigado a regressar, mas diversos acontecimentos da sua vida após essa data fizeram-no deixar a sua vida confortável para trás e regressar às origens. As desilusões de amor, a solidão, a preocupação com a família devido à instabilidade política, a sensação de deixar de pertencer e de se identificar com a vida que leva, foram fundamentais na decisão de retorno.

Numa mesa de um restaurante (a sinopse menciona café, eu acho que é um restaurante) em Lahore, Changez conta a sua história a um americano sem nome que nunca fala, fiquei na dúvida se a personagem chega mesmo a existir tal a ausência de diálogo, sendo mais um monólogo em que Changez conta o seu percurso e faz observações críticas e muitas vezes irónicas sobre tudo o que se passou e passa à sua volta. Nesta ironia encontrei o ponto forte do livro, para mim pode por vezes considerar-se uma sátira aos costumes, às diferenças entre os povos, à ironia dos acontecimentos que, de um momento para o outro, fazem os outros olhar para a mesma situação de um ângulo diferente.

Não conhecia o autor, nem sei se alguma vez lerei mais alguma coisa de Moshin Hamid, mas reconheço a mestria e a originalidade da sua escrita, num livro que faz pensar acerca da mudança, do amor, e do peso das decisões no percurso das nossas vidas. Não deve ser muito fácil de encontrar nas livrarias mas merece o esforço da procura. Recomendo.

Sinopse

“Sentado a uma mesa de café em Lahore, um paquistanês conversa com um americano desconhecido, suspeito e possivelmente armado. À medida que anoitece, o paquistanês começa a contar a história que os levou a este encontro fatídico… Changez está a viver o sonho americano. Foi dos melhores alunos de Princeton e trabalha numa empresa de topo. Changez vibra com a energia de Nova Iorque, com a intensidade do seu emprego e com a sua grande paixão por Érica, que o vai levar a fazer parte da elite de Manhattan. Parece que nada vai impedir a ascensão meteórica de Changez, tanto a nível pessoal como profissional. Mas com o 11 de Setembro, Changez vê a sua posição na cidade adoptiva mudar radicalmente, e a sua relação com Érica a desmoronar-se pelo despertar dos fantasmas do passado desta. A própria identidade de Changez sofre também uma enorme mudança, revelando fidelidades mais importantes que o dinheiro, o poder e até mesmo o amor.”

Civilização Editora, 2007

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