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planetamarcia

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Abril 15, 2012

As Horas Distantes - Kate Morton - Opinião

 

Livro terminado há umas horas. Terceiro livro que leio de Kate Morton. Simplesmente fabuloso. Para mim o melhor dos três, apesar de achar que seria difícil superar qualquer um dos anteriores.

Ao virar a última página fiquei com aquela sensação de realização que só alguns livros proporcionam. Senti que tinha chegado ao fim de uma história completa, de uma narrativa sem falhas, em que todas as peças acabam por ter o seu lugar no desenvolvimento e desfecho. Agora, mesmo já tendo passado umas horas de o ter terminado, continuo a achá-lo perfeito. Receio os livros perfeitos, gosto de encontrar falhas, se calhar para os humanizar, não sei, mas neste caso deve tratar-se de uma criatura celestial, talvez um anjo negro dado o carácter sombrio do desenrolar da ação.

Kate Morton é, quanto a mim, uma escritora influenciada pelos clássicos, daí os ambientes que cria e a forma brilhante como escreve. Ao ler “As Horas Distantes” senti algumas vezes que podia estar a ler um romance das irmãs Brontë, dado o clima a pender para o negro, e se calhar, em algumas situações, para o Gótico.

Segredos e mistérios continuam a ser o mote na escrita da autora. Outra semelhança com os livros anteriores são os saltos temporais, a forma como faz o leitor “dançar” entre o presente e o passado, deixando pistas aos poucos, sempre aos poucos, de modo a que o leitor vá construindo a história. Peças pequeninas das vidas das personagens vão sendo mostradas, umas vezes apresentando soluções, mas a maioria das vezes criando dúvidas, ansiedades e muita vontade de prosseguir a leitura. O leitor nunca se perde mas anseia poder viajar nas páginas do livro como se a máquina do tempo existisse mesmo.

Tudo começa com uma carta perdida durante cerca de 50 anos. Uma carta que, se tivesse sido entregue em devido tempo, teria possivelmente mudado a vida de Meredith, a sua destinatária. Mas no final do livro ficamos estranhamente com a sensação que se calhar, afinal, a história seguiu o seu curso, e tudo acontece quando tem de acontecer.

Edith, filha de Meredith, curiosa com as emoções que a chegada da carta provoca na mãe, inicia um percurso de descoberta do passado que a leva até ao Castelo de Midelhurst, para onde Meredith foi evacuada em criança, durante a guerra.

São muitos os destinos cruzados e histórias entrelaçadas há medida que vamos conhecendo o passado. Cada palavra, página, capítulo emanam mistérios, histórias que vão sendo reveladas aos poucos.

Três irmãs habitam ainda o Castelo. As suas paredes ocultam diversos segredos. Durante a leitura até parece que as ouvimos segredar, que querem contar o que ao longo dos anos foram testemunhando, histórias de família, paixão, traição, crime e dor. Uma busca pelos responsáveis? Uma procura dos culpados? Uma necessidade de redenção? Nada é o que parece, e o desfecho perturbador deixou-me estranhamente aliciada. Um livro que exige do leitor mas que dá muito.

Densas coincidências que se prolongam por mais de 500 páginas; que me fizeram pensar em todas as possibilidades, inclusive em algumas situações que se verificaram, mas a dúvida é alimentada até ao final. Surpreendente como se quer um livro repleto de mistérios, ou se quiserem, um thriller romântico, como já ouvi chamarem aos livros de Kate Morton.

Um pormenor que me fascinou particularmente foi o facto de Edith, a “detetive” da trama, ser filha única e movimentar-se num núcleo de três irmãs, duas delas gémeas. Eu sou filha única e identifiquei-me muito com Edith, partilhamos a normal curiosidade do como será ter irmãos, além disso sempre tive um fascínio enorme pela relação dos irmãos gémeos, e neste livro essa relação é explorada de uma forma acutilante. Mais um pormenor muito bem pensado pela autora; mais um entre muitos.

“Devia ser aquela coisa dos irmãos; estava fascinada pelo emaranhado arrevesado de amor e dever e ressentimento que as unia. Os olhares que trocavam; o complicado equilíbrio de poder estabelecido havia décadas; os jogos nos quais eu jamais participaria, com regras que nunca entenderia na totalidade. Quiçá isso fosse fundamental: tratava-se de um grupo de tal forma natural que me fazia sentir extraordinariamente única em comparação. Observá-las juntas era admitir com veemência e sofrimento tudo o que perdera.” (pág.411)

Resta-me recomendar este livro. Sem reservas. Vai ficar em mim por muito tempo…daqueles que se calhar ficam para sempre…raros e imperdíveis!

Sinopse

Tudo começa quando uma carta, perdida há mais de meio século, chega finalmente ao seu destino...

Evacuada de Londres, no início da II Guerra Mundial, a jovem Meredith Burchill é acolhida pela família Blythe no majestoso Castelo de Milderhurst. Aí, descobre o prazer dos livros e da fantasia, mas também os seus perigos.
Cinquenta anos depois, Edie procura decifrar os enigmas que envolvem a juventude da sua mãe e a sua relação com as excêntricas irmãs Blythe, que permaneceram no castelo desde então. Há muito isoladas do mundo, elas sofrem as consequências de terríveis acontecimentos que modificaram os seus destinos para sempre.
No interior do decadente castelo, Edie começa a deslindar o passado de Meredith. Mas há outros segredos escondidos nas paredes do edifício. A verdade do que realmente aconteceu nas horas distantes do Castelo de Milderhurst irá por fim ser revelada...

Porto Editora, 2012

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