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planetamarcia

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Março 11, 2012

A Zona de Desconforto - Jonathan Franzen - Opinião

 

Soube muito recentemente de existência de Jonathan Franzen. O seu livro “Liberdade” foi-me altamente recomendado. Este mês a D. Quixote edita este “Zona de Desconforto” e o fim-de-semana foi suficiente para eu o “devorar” Já há algum tempo que não lia um livro tão rápido e com tanto prazer. Jonathan Franzen tem de facto o dom da escrita, adorei esta leitura e quero ler mais livros do autor.

“Lucidez” foi a palavra que mais me ocorreu durante esta leitura perfeitamente compulsiva. Senti que estava perante uma escrita que é uma torrente de emoções que o autor “tinha” de deitar para fora – por vezes parecia um pouco desordenado, o que me deu uma sensação de urgência, de escrever por necessidade, não por dor mas porque tinha de ser, tinha de sair.

Senti que li compulsivamente porque a escrita também o é, as palavras surgem todas em catadupa mas com uma perfeição assustadora, um alinhamento bonito que dá vontade de continuar sempre a ler. Este livro é muito pessoal, é totalmente sobre a vida do próprio Franzen, muito familiar e íntimo, começa e termina falando da mãe, que já morreu.

Franzen é um observador, um pensador do pormenor. As descrições de diversas fases da sua vida são poderosas e sente-se que lhe saem do âmago, por vezes com a dor das memórias contidas, guardadas durante anos.

Gostei das imensas referências que são feitas a outros livros, deduzo que tenham tido importância no seu crescimento enquanto escritor. Faz interpretações impressionantes, por exemplo de “O Processo” de Kafka, um livro que tenho de confessar que não concluí, mas que adorei a busca de respostas e dissecação feita por Franzen. Tem uma visão crítica e muito particular, repleta de lucidez. Mais uma vez a lucidez, característica presente ao longo de todo o livro, uma lucidez arrepiante e dura perante todos os temas abordados.

Desde a consciência ambiental à desenfreada e brutal crítica política, Franzen parece não ter medo de nada. Em oposição aos anos de adolescência tímida e reservada que tão bem descreve, tornou-se um adulto atento que faz uma constante análise da sociedade americana, que considera doente e ignorante.

Há muito tempo que não sentia um prazer tão especial em ler um livro, o que inconscientemente ansiava. Sinto que investi em mim, como leitora, como pessoa e como cidadã de um mundo que todos os dias também me causa estranheza. Identifiquei-me e quero mais. Fiquei sedenta deste talentoso escritor. Quero “Liberdade”!

“Era o menos simpático de todos os meus professores da faculdade, e no entanto tinha uma coisa que os outros não tinham: sentia pela literatura o tipo de amor arrebatado que um cristão renascido sente por Jesus. O maior elogio que fazia a um texto era “Está uma loucura!” Os seus exemplares, amarelecidos e desconjuntados, das obras-primas da prosa alemã, eram como a Bíblia de um missionário. Página a página, cada frase estava sublinhada ou anotada na letra microscópica de Avery, elucidada pelas conclusões acumuladas de quinze ou vinte releituras. Eram exemplares baratos e de péssima qualidade mas, ao mesmo tempo, as relíquias mais preciosas – provas comoventes de como cada uma das suas linhas podia ser carregada de significado para quem lhes estudasse os mistérios, como, para o crente, cada folha de árvore e cada pássaro da criação cantam a Glória de Deus.” (pág.160)

“Todavia, mudar radicalmente era quase tão sedutor (e tão provável) como ser voluntário para fazer parte da sociedade pós-consumista, chata, tristonha, que os “ecologistas profundos” nos dizem ser, a longo prazo, a única esperança do ser humano neste planeta.” (pág. 199)

Sinopse

“Nas suas próprias palavras, Jonathan Franzen era o tipo de rapaz que tinha medo de aranhas, bailes do liceu, urinóis, professores de música, bumerangues, de raparigas populares - e dos pais. Não tinha nada contra os miúdos totós, a não ser o pânico de que o tomassem por um deles, destino que resultaria para ele na imediata Morte Social. Encarando a puberdade da mesma forma que um mestre falsário encara uma encomenda particularmente difícil, fingia-se um tipo que dizia muitas vezes "merda" com a maior naturalidade e que não gostava de fazer cálculos na sua nova calculadora Texas Instruments de seis funções.
A Zona de Desconforto é a memória íntima que Franzen guarda do seu crescimento dentro de uma pele hipersensível, de "uma pessoa pequena e fundamentalmente ridícula", passando por uma adolescência estranhamente feliz, até um adulto de paixões fortes e inconvenientes. A sua história pessoal de uma juventude vivida no Midwest e uma idade adulta vivida em Nova Iorque é condimentada pela mesma mistura de ironia e afecto que caracteriza a sua ficção; o resultado é um retrato fascinante de um americano que harmoniza de forma ímpar a razão e o coração.”

D.Quixote, 2012

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