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planetamarcia

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Agosto 15, 2011

Travessuras da Menina Má - Mario Vargas Llosa - Opinião

 

Deliciei-me com esta leitura. Para mim há poucas coisas melhores do que uma história bem contada. Esta é absolutamente divinal. Serão todos os livros de Mario Vargas Llosa assim? Vou querer descobrir.

A menina má desaparece e aparece na vida de Ricardo sempre da mesma forma inesperada. Ricardo ama-a e tudo faz por ela, esta paixão é como uma doença que o consome e lhe rouba a sanidade. A menina má volta em todos os capítulos, por mais voltas que o autor dê ao texto, e por muito que a ponha a correr mundo, ela acaba por regressar sempre, por aparecer sempre de forma inesperada ansiando pelo romântico Ricardito, com as suas deixas melosas a que ela chama de piroseiras.

A menina má abomina a pobreza, anseia por uma vida próspera sem as dificuldades que viveu na infância; constrói um percurso de mentiras e deixa de parte os seus próprios sentimentos com o objectivo de obter o que, para ela, representa a máxima felicidade: dinheiro. Ricardo tem, desde a infância, o sonho de viver em Paris. Do Peru para a Europa persegue esse seu sonho. É um ser humano simples e sincero, apaixonado desde os 15 anos pela menina má, deixa-se enredar na sua teia de todas as vezes que ela surge na sua vida!

Eu acho que a menina má também o ama, mas como poderá ela sucumbir e deixar-se levar pelos amores de um pobre borra-botas, como ela lhe chama? Mas chega a altura em que a menina má, de tantas trafulhices e mentiras inventar, não tem mais ninguém na vida. E é nas alturas de maior solidão e desespero que podemos ver quem são os verdadeiros amigos. À menina má só resta Ricardito, o piroso borra-botas, que lhe dedicou toda a sua vida, esteve com ela nos períodos em que ela o quis e suspirou por ela quando desaparecia por anos a fio. Ricardo salva-a sempre, ama-a de forma sincera e sofredora, só deseja tê-la ao seu lado.

Podem as pessoas mudar e recuperar-se? Aceitar e viver o amor conforme a vida lhes oferece? Ou insistem nas suas teorias de grandeza, dando sempre mais valor aos bens materiais do que aos sentimentos? A miséria na infância marca decerto os objectivos e percursos na idade adulta, mas não será já exagero voltar sempre as costas a um amor sincero, seguindo sempre o caminho da ganância? Se calhar as pessoas nunca mudam, a menina má tenta, consome-se, e acaba sempre por ceder à sua natureza. E a Ricardo, valeu a pena perder quase tudo por ela?

Este livro lança uma ou duas dúvidas, não mais do que isso, mas que pela sua profundidade nos fazem meditar sobe a natureza humana e sobre o que se leva deste caminho sinuoso e curto que é a vida.

Escrito de forma brilhante, este texto embalou-me por horas de leitura seguida sem pensar sequer em pausas; adorei e sinto-me cheia daquela felicidade que só um livro brilhante nos faz sentir. Concluí este leitura no dia do meu aniversário. É um presente que guardarei para sempre.

“Desejo-te – sussurrei-lhe ao ouvido, mordiscando-lhe a borda da orelha. – Estás mais bonita que nunca, peruaninha. Amo-te, desejo-te com toda a minha alma, com todo o meu corpo. Nestes quatro anos não fiz outra coisa senão sonhar contigo, amar-te e desejar-te. E Também amaldiçoar-te. Cada dia, cada noite, todos os dias.

Passado um momento, afastou-me com as suas mãos.

- Tu deves ser a última pessoa no mundo que ainda diz essas coisas às mulheres. – Sorria, divertida, olhando-me como um bicho raro. – Que piroseiras me dizes Ricardito!” (pág. 123)

Sinopse

“Qual o verdadeiro rosto do amor?
Ricardo vê cumprido, muito cedo na vida, o sonho que sempre alimentara de viver em Paris. Mas o reencontro com um amor da adolescência mudará tudo. Essa jovem, inconformista, aventureira, pragmática e inquieta, arrastá-lo-á para fora do estreito mundo das suas ambições.
Criando uma admirável tensão entre o cómico e o trágico, Mario Vargas Llosa joga com a realidade e a ficção para dar vida a uma história na qual o amor se nos revela indefinível, senhor de mil caras, tal como a menina má.
Paixão e distância, sorte e destino, dor e prazer... Qual é o verdadeiro rosto do amor?”

D. Quixote, 2010

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