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planetamarcia

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Junho 09, 2016

O Escritor-fantasma - Zoran Živković - Opinião

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Continuo a descobrir a obra de Zoran Živković. Já o queria fazer há bastante tempo, mas confesso que foi a vinda do autor a Portugal, e o envolvimento da Roda dos Livros numa sessão de apresentação que me levou à leitura de A Biblioteca, O Livro e O Escritor-fantasma num curto espaço de tempo.

Recomendo a quem ainda não leu O Escritor-fantasma que não avance na leitura deste post. Eu sei que não é simpático para quem vem aqui à procura de sugestões de leitura, encontrar um texto cheio de spoilers, e eu acho que nunca o fiz, mas neste caso vai ter de ser, pois não consigo escrever sobre este livro sem começar pelo fim, pela mistura de surpresa e estranheza que me apanhou nas últimas páginas.

Despeço-me aqui dos que ainda não leram o livro, a quem apenas adianto que recomendo com algumas reservas, pois não faço a mínima ideia como é que vão reagir ao final. Desde um sorriso amarelo ao arremesso violento do livro, tudo é possível.

SPOILER

São pouco mais de cem páginas que se leem com a avidez de quem quer descobrir o final. Uma mistura de surrealismo e esquizofrenia, com uma grande dose de loucura. O Escritor, de quem nunca sabemos o nome, é cilindrado com dezenas de e-mails de várias origens. Após muita conversa virtual com os seus cinco correspondentes, em ritmo frenético, o Escritor percebe que, todos pretendem, cada um à sua maneira, que ele escreva para eles. Do admirador, que lhe pede claramente que seja escritor-fantasma do seu livro, à vizinha que lhe pede que lhe escreva um romance em homenagem ao cão que está a morrer, todos lhe querem “roubar” o talento e a originalidade.

No final (tcham tcham), quando o leitor percebe que não havia mais ninguém além do Escritor, e que todo o livro é uma manobra de diversão deste para superar um bloqueio, a sensação é a de quem vai aos apanhados!

A minha primeira reacção foi achar que não tinha percebido. No fundo entendi o que tinha acontecido, mas não quis acreditar que tinha sido tão bem enrolada. Preferi pensar “não pode ser isto”. Mas é. Li o livro com muito entusiasmo, até porque é bastante envolvente e de fácil leitura, mas no fim senti que um grande “tonta” me apareceu escrito na testa.

Uma leitura interessante, um exercício de escrita surpreendente e uma delícia para os apaixonados por gatos, que se vão perder de amores por Félix, o gato do escritor.

Quem leu até aqui sem ter lido o livro fez mal, mas eu avisei. Mesmo assim esperam-vos momentos deliciosos se se decidirem por esta leitura. Os outros, que já leram o livro, contem-me tudo. Também se sentiram um pouco… tontos?

Sinopse

“Um escritor, em plena crise de inspiração, senta-se à sua secretária para dar início a mais um dia de trabalho. A sua única companhia é Félix, o seu gato, cujas constantes exigências lhe tornam a vida bastante complicada. Mas, nessa manhã, defronte ao computador, um outro acontecimento contribui para perturbar a sua tranquilidade. Na sua caixa de correio electrónico encontra uma proposta feita por um admirador secreto, que pretende que o escritor lhe ceda a autoria do seu novo romance. Entretanto, outras mensagens começam a chegar-lhe, provenientes de outros quatro correspondentes anónimos. Todas elas com pedidos igualmente intrigantes. À medida que vai aumentando o ritmo dos e-mails trocados, vai-se adensando o mistério à volta da identidade e das verdadeiras intenções de todos eles. Tudo isto sob o olhar indiferente e entediado de Félix. O leitor deste livro é convidado, através das pistas que o autor vai deixando, a montar o puzzle e a descobrir a solução final para a história. Zoran Zivkovic, neste seu novo e divertido - por vezes hilariante - romance, revela as singularidades do mundo da escrita e dos escritores, conseguindo mais uma vez captar a atenção do leitor da primeira à última página.”

Cavalo de Ferro, 2012

Tradução de Maria João Freire de Andrade