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planetamarcia

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Março 27, 2016

Quando Fores Mãe Vais Ver - Ana Saragoça - Opinião

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Ser pai (ou mãe) não vem nos livros, costumam dizer. Mas isso é para quem ainda não leu Quando Fores Mãe Vais Ver.

Li este livro num instantinho e a cada página ouvia a voz da minha mãe vinda do passado, as mesmas recomendações, os mesmos avisos, os mesmos estratagemas e toda a espécie de abuso de poder sobre os pobres dos filhos. Ou é verdade o que dizem de que mãe é tudo a mesma coisa, só muda a morada, ou a minha mãe e a mãe da autora foram colegas de conspiração maternal.

Também fui super-protegida, super-agasalhada, super-avisada para toda espécie de perigos do mundo. E sim, também eram recorrentes expressões como “é para teu bem”, “se os teus amigos se atirarem a um poço, também te atiras?”, “Um dia vais agradecer-me”, “Se engolires a pastilha morres!”, ou “Enquanto não telefonares eu não durmo”.

Ana Saragoça brinca com temas triviais com a habilidade de uma grande humorista. Não cai piadola fácil, é espirituosa, e quem a conhece, facilmente a imagina a conquistar plateias lendo alguns excertos deste livro. Isso é que era fenomenal, garanto-vos eu, que já a ouvi ler e fiquei rendida.

Na falta da autora li, eu mesma, alguns excertos, que se transformaram em páginas e acabei por ler o livro todo, em voz alta, à minha mãe. É uma viagem ao passado que se deve fazer a duas, garanto bons momentos de diversão e muitas gargalhadas. Recomendo às filhas, às mães e às avós, a quem eu também leria se ainda tivesse.

E para vocês que têm filhos, há o sério risco de já estarem iguais às vossas mães!

Leiam que vale a pena!

Sinopse

“Criar filhos exige doses gigantescas de paciência, estoicismo, resistência e imaginação. Ao cabo de milénios desempenhando primordialmente esse papel, as mulheres de todo o mundo acabaram por desenvolver um léxico quase comum, um glossário de frases feitas que todas ouviram às mães, e todas juraram que nunca repetiriam aos filhos - com os resultados que se conhecem.

O vocabulário das mães é verdadeiramente um colar, mas não de pérolas. É mais daqueles a que se vão acrescentando penduricalhos ao longo da vida, sem nunca retirar nenhum. O folclore materno tem frases certeiras em todas as áreas e para todas as fases de crescimento dos filhos: infância, adolescência e idade adulta - embora, para as mães, o conceito de idade adulta nos filhos seja altamente discutível. E, claro, com a chegada dos netos, nunca perdem uma oportunidade de nos inundar de novo com a sua imensa sabedoria...”

Planeta, 2013

Março 19, 2016

Oficina do Livro - A Noite não é Eterna, de Ana Cristina Silva

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A Roménia, sob o jugo do ditador Nicolae Ceausescu, atravessa um dos piores períodos da sua história, com a população a enfrentar a fome e dominada pelo terror. Seguindo as orientações do Presidente para a criação de um exército do povo no qual os soldados seriam treinados desde crianças, Paul, um ambicioso funcionário do partido, decide levar de casa o filho de três anos e entregá-lo aos cuidados do Estado.
Quando a mãe se apercebe do desaparecimento do pequeno Drago, o desespero já não a abandonará, bem como o firme desejo de acabar com a vida do marido.
Correndo riscos tremendos, Nadia não desistirá, porém, de procurar o menino, ainda que para isso tenha de forjar uma nova identidade, de fazer falsas denúncias, de correr os orfanatos cujas imagens terríveis chocaram o mundo e até de integrar uma rede que transporta clandestinamente crianças romenas seropositivas para o Ocidente. Mas será que o seu sofrimento pode ser apaziguado enquanto Paul for vivo? Enquanto o ditador for vivo?
Nas livrarias a 22 de Março

Março 14, 2016

Teorema - A Mulher, de Meg Wolitzer

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A trinta e cinco mil pés de altitude, no conforto da cabina de 1ª classe do avião, Joan Castleman decide deixar o marido. Estão lado a lado, rumam a Helsínquia, onde ele, escritor de renome, irá receber o prémio literário de uma vida.
Na semiobscuridade, Joan mergulha numa intensa reflexão sobre a sua relação com Joe. O início tempestuoso, na universidade, onde ela era a aluna promissora e deslumbrada e ele o professor carismático e casado. E depois, o resto, a vida boémia em Greenwich Village, o nascimento dos filhos, e a decisão de subjugar o seu talento em prol da vida que acreditava querer. Mas Joe revelou-se medíocre enquanto pai e marido, concentrando-se unicamente no seu dom. E Joan, entretanto, perdeu qualquer sentido de identidade, vivendo apenas como “a mulher do génio”.
Agora, perante o apogeu da carreira literária do marido, é-lhe impossível refrear a memória do momento em que, ainda estudante, leu o primeiro conto dele. Chegou o momento de se confrontar com as consequências das opções que tomou tão cedo na vida - e do segredo que ambos sempre guardaram tão bem.
Nas livrarias a 15 de Março

Março 14, 2016

Impunidade - H. G. Cancela - Apenas algumas palavras

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Quando um livro nos deixa sem palavras não vale a pena inventar. No entanto, mesmo sem as palavras que o livro merece, e que eu não tenho capacidade de articular, recomendo que o leiam.

Eu gostei bastante, apesar dos socos no estômago, ou, se calhar, por causa deles. Não é fácil de ler e oferece um estado de choque constante. Não será para todos os leitores, mas os que resistirem a tanta impunidade até à última página, venham cá contar.

A escrita de H. G. Cancela é brilhante, um autor a seguir.

Sinopse

“Um homem caminha primeiro a pé, tacteando no escuro, depois de automóvel, conduz toda a noite, dorme na pressa de um hotel, retoma a viagem primeiro ainda em terras portuguesas, depois em Espanha.
Em Sevilha sobe ao último andar de um prédio. Tem a chave da porta, a casa está desarrumada e nela se encontram duas crianças adormecidas quase entre sinais de abandono.

«Aproximei-me da cama maior. O rapaz tinha apenas as cuecas vestidas. Magro, as pernas esguias, o cabelo comprido. Ouvia-se a respiração. Rápida, regular, entrecortadas por pausas de onde emergia com uma aspiração sufocada. Da outra cama, não se ouvia nada. A menina estava despida, com o cabelo espalhado pelo rosto e as pernas cobertas com a ponta do lençol. Apoiei-me nas grandes, debrucei-me e afastei-lhe o cabelo. Não se mexeu. Respirava devagar, com os lábios entreabertos e um quase insensível movimento do peito. Parecia fria, apesar do calor, o corpo contraído, a cabeça colada aos joelhos. Tinha os lençóis húmidos em redor das coxas. Na penumbra, a sua pele esbatia-se contra o tecido branco.»

Este é o início de uma história inesperada, dura, com o «esplendor das coisas ameaçadas».”

Relógio d’Água, 2014

Uma leitura Roda dos Livros, Livros em Movimento

Março 13, 2016

D. Quixote - Um Postal de Detroit, de João Ricardo Pedro

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Em Setembro de 1985 dá-se um choque frontal de comboios em Alcafache. Algumas das vítimas mortais, presas nas carruagens a arder, nunca chegam a ser identificadas. No dia seguinte, a mãe de Marta recebe um inesperado telefonema informando que a mochila da filha – estudante de Belas-Artes – apareceu entre os destroços.
Partindo dos cadernos de desenho de Marta – uma espécie de diários visuais que espelham um quotidiano tão depressa sórdido como maravilhoso –, o narrador deste romance tenta recriar os passos da irmã nos tempos que antecederam o acidente. E, enquanto o faz, dá-nos a conhecer um leque de figuras absolutamente inesquecíveis, entre as quais se contam prostitutas, boxeurs, polícias e assassinos, mas também anjinhos de procissão, médicos e senhoras da caridade.
Depois do celebrado O Teu Rosto Será o Último, que venceu o Prémio LeYa em 2011 e foi traduzido em cerca de dez línguas, incluindo chinês e árabe, o autor regressa à ficção com um romance delirante e avassalador.
Nas livrarias a 15 de Março

Março 06, 2016

Rio do Esquecimento - Isabel Rio Novo - Opinião

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Há livros que não têm nada a ver connosco. Pode ser por não nos identificarmos com a escrita, por não nos sentirmos bem nos ambientes criados, ou até mesmo pela história, demasiado trágica, demasiado cómica, demasiado longe de nós.

Acontece-me. Como a todos os leitores. São livros que deixo de lado. Desinteresso-me e, sem qualquer culpa, passo a outro.

Isso não aconteceu com o Rio do Esquecimento. Apesar de ter estranhado o início. Sim, li o primeiro parágrafo e temi por o achar tão longo. Li outra vez, só para ver se tinha fôlego. Fechei o livro e pensei no que me estava a meter. Mas na verdade eu acho que soube logo que me estava a meter num livro que me ia levar, com todas as letras, direitinha para o Porto do século XIX. E fui. Primeiro a medo, porque as frases nunca mais acabavam. Longas, descritivas, com palavras difíceis e desconhecidas (para mim, entenda-se). Depois, movida pelo desafio. E por fim, sendo que por fim significa logo na segunda página, por uma clara vontade de continuar.

E foi com essa vontade de prosseguir que o li todo.

Fui movida por algo mágico, a que talvez possa chamar ritmo, porque me deu uma sensação constante de cadência, como os passos de uma dança que só se quer aperfeiçoar. E aperfeiçoou. O Rio do Esquecimento fez-me uma leitora melhor, só os bons livros melhoram quem os lê. E só os livros mesmo muito bons nos levam até à última página pela mão, explicando e demonstrando que não interessa se a escrita não é a que estamos acostumados ou a que habitualmente procuramos, se histórias de amor desencontradas e complicadas não são para a nossa paciência, ou se o detalhe das descrições se pode tornar exaustivo. Tudo isso é insignificante e desaparece quando quem escreve tem a inteligência e o dom de o transformar no simples, mas enorme, prazer de ler.

Por isso vos aconselho a leitura deste romance denso, que é bem capaz de vos elevar o nível de vocabulário, já para não falar na forma com ensina a ler com calma, apreciando, verdadeiramente, o seu conteúdo.

O texto já vai longo, mas não posso deixar-vos a pensar que este livro é, todo ele, histórias de amor romântico e sofrido que me convenceu tão somente pela magia das palavras. Não. Há um traço fundamental e constante que me agarrou (também) às páginas, este já tendo muito a ver com as minhas preferências. A maldade. Sim, a maldade ganha pela forma como é dada a quem lê. De origens perfeitamente sustentadas, a maldade tem um nome, e como tantas vezes sucede basta uma só pessoa para envenenar quem está em redor, manipulando e atirando com tudo numa espiral de traição, crime e morte.

Agradavelmente soturno, pesado, mas sem nunca verdadeiramente resvalar para o negro, o Rio do Esquecimento equilibra o bem e o mal em doses ponderadas. A balança é muito real e o resultado vem no fim. Excepto, claro, se forem como eu e lerem o fim antes do tempo…

Sinopse

“Inverno de 1864. Sentindo a morte a aproximar-se, Miguel Augusto regressa do Brasil, onde enriqueceu, e instala-se no velho burgo nortenho, no palacete conhecido como Casa das Camélias, com a intenção de perfilhar Teresa Baldaia e torná-la sua herdeira. No mesmo ano, Nicolau Sommersen pensa em fazer um bom casamento, não só para recuperar o património familiar que o tempo foi esfarelando, mas sobretudo para fugir à paixão que sente por Maria Adelaide Clarange, senhora casada e mãe de três filhos. Maria Ema Antunes, prima de Nicolau e governanta da Casa das Camélias, hábil e amargurada com a sua vida, urdirá entre todos uma teia de crimes, segredos e vinganças.
Subvertendo as estratégias da narrativa histórica, com saltos cronológicos que deixam o leitor em suspenso mesmo até ao final, Rio do Esquecimento descreve com saboroso detalhe a sociedade portuense de Oitocentos e assinala o regresso à ficção portuguesa de uma escrita elegante que consegue tornar transparente a sua insuspeitada espessura.”

Romance Finalista do Prémio Leya

D. Quixote, 2016

Março 06, 2016

D. Quixote - Uma História de Amor e Trevas, de Amos Oz

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Saga de uma família e mágico auto-retrato de um escritor, Uma História de Amor e Trevas é a história de um menino que cresce numa Jerusalém devastada pela guerra, num pequeno apartamento apinhado de livros e de parentes que falam diversas línguas. A história de um adolescente cuja vida mudou para sempre com o suicídio da mãe. A história de um homem que declara a sua independência e volta costas ao mundo em que cresceu, deixando para trás as restrições da família e da comunidade, a fim de assumir uma nova identidade num novo lugar: o kibutz Hulda, na fronteira com o mundo árabe. A história de um escritor que se torna um participante activo na vida política da sua nação.
Autobiografia em forma de romance, é uma complexa obra literária que abarca as origens da família de Amos Oz, a história da sua infância e juventude e a trágica vida dos pais. É também a extraordinária recriação dos caminhos percorridos por Israel no século xx, da diáspora à fundação de uma nação e de uma língua: o hebraico moderno; e uma reflexão sobre a história do sionismo e a criação de Israel como necessidade histórica de um povo confrontado com a ameaça de extinção.
Nas livrarias a 8 de Março