Setembro 30, 2015
Os números já venceram os nomes.
No livro de Samuel Pimenta tudo acontece no futuro. Mas todos sabemos. Todos sentimos. Que somos números.
Pode não ser no sentido literal, pois todos temos (ainda) os nossos nomes, mas a verdade é que os números já lhes levam um grande avanço. E é sobre isto que Samuel escreve, não só acerca da perda de identidade, mas, acima de tudo desse caminho sem volta como pequenas peças numeradas na sociedade.
O trabalho é um bom exemplo, talvez dos melhores. Cada vez mais sentimos que somos apenas máquinas programadas a executar tarefas, de quem se esperam resultados de acordo com os objectivos “propostos”; muitas vezes os nossos e-mails já nem têm os nossos nomes de modo a poderem ser “reutilizados” pelo próximo número, aquele que nos vai substitui se for preciso apagar a nossa passagem. Sabemos que é assim. Que nos devemos defender não criando laços, não fazendo amigos, não envolvendo sentimentos que possam atrapalhar o nosso bom profissionalismo. Participamos do lado dos números, por defesa mas em consciência, no apagamento dos nomes.
Está visto que o que mais gostei neste livro foi o tema. Pela actualidade (futurismos à parte); pela lucidez do autor, um observador que constrói (ou desconstrói) e trabalha uma boa ideia que, quanto a mim, poderia ser mais profundamente abordada. Ou seja, eu queria mais deste “ Os Números que Venceram os Nomes”. Queria que não tivesse terminado tão rápido, a fluidez da escrita leva-nos num instante até à última página. Queria, portanto, mais páginas, maior complexidade com (ainda) mais achas para esta fogueira polémica. Este livro é um ponto de partida para discussões que não se gastam, não terminam e enriquecem aqueles que, apesar de tudo, insistem em viver de olhos abertos.
Agora, Samuel, é continuar.
Sinopse
“Num futuro distante, comprovada matematicamente a existência de Deus, os homens são obrigados a trocar os seus nomes por números. Ergue-se uma ditadura global, em que todos são controlados e descaracterizados, uma sociedade de uma única religião, em que os algarismos definem tudo – pessoas, países, ruas, animais -, em detrimento da essência de cada um.
Os Números Que Venceram os Nomes, Samuel Pimenta consegue, com uma destreza literária que nos prende do início ao fim, contar uma história empolgante, que, embora passando-se num futuro imaginário, questiona muitos dos problemas das sociedades contemporâneas – a substituição estéril de um mundo espiritual por uma realidade puramente material.”
Marcador, 2015