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planetamarcia

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Junho 29, 2015

Lançamento da Colectânea de Contos "Desassossego da Liberdade", dia 4 de Julho às 19h15, O Bom O Mau e O Vilão

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Dia 4 de Julho está a chegar e estão todos convidados para o Lançamento da Colectânea de Contos “Desassossego da Liberdade”. Venham ter connosco ao O Bom, O Mau e O Vilão pelas 19h15. Desassosseguem-se e juntem-se à festa.

Organização de Sofia Teixeira (Blog BranMorrighan), Edição Livros de Ontem.

Junho 28, 2015

Se eu fosse chão - Nuno Camarneiro - Opinião

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Os livros fazem-me pensar sobre o que li, sobre os locais onde me levaram, o que senti quando lá cheguei. Penso sobre o que se escreveu e imagino o modo como foi escrito. E, por vezes, leio livros em que o que não se escreve, o que não se diz também conta. Porque me oferece uma viagem diferente, em que participo, à boleia de tantos inícios e possibilidades.

“Se eu fosse chão” é o meu livro preferido do Nuno. Chegada ao fim quis voltar ao início e experimentar todas as novas possibilidades de cada capítulo. Um livro pequeno, mas que na verdade nunca acaba.

“Se Deus pudesse ser chão, pensa o terceiro homem. Um chão de palavras fortes e seguras, onde os pés não se afundem e ganhem forças. Mas talvez o nosso Deus seja caminho, e não lugar.” (Pág. 28);

“Não devíamos ter voltado. Os lugares que não mudam deixam-nos com a certeza de que estamos diferentes.” (Pág.61);

“A literatura é a mais horrenda das artes, porque é feita da mesma matéria com que falamos e nos enganamos a nós e aos outros. “Quero-a”, “quero-te”, “podes confiar em mim”. Lemos o que queremos ou precisamos de ler, lemos como amamos e caímos.” (Pág. 94);

Sinopse

Num grande hotel, as paredes têm ouvidos e os espelhos já viram muitos rostos ao longo dos anos: homens e mulheres de passagem, buscando ou fugindo de alguma coisa, que procuram um sentido para os dias. Num quarto pode começar uma história de amor ou terminar um casamento, pode inventar-se uma utopia ou lembrar-se a perna perdida numa guerra, pode investigar-se um caso de adultério ou cometer-se um crime de sangue. 
Em três épocas diferentes, entre guerras que passaram e outras que hão-de vir, as personagens de Se Eu Fosse Chão - diplomatas, políticos, viúvos, recém-casados, crianças, actores, prostitutas, assassinos e até alguns fantasmas - contam histórias a quem as queira escutar.”

D. Quixote, 2015

Junho 19, 2015

Colectânea de Contos "Desassossego da Liberdade"

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No dia 15 de Dezembro fiquei a saber que o meu conto, “Tempo Vazio”, foi um dos seleccionados no Concurso de Contos “Desassossego da Liberdade”, organizado pela Sofia Teixeira nas comemorações do sexto aniversário do Blogue BranMorrighan. Todas as esperas são longas quando é por algo que se deseja muito. Mas agora, com o livro nas mãos, senti que os últimos 6 meses se esfumaram, que as dúvidas e as incertezas ficaram para trás. O livro existe, é lindíssimo, e é a prova maior de que a atitude certa é acreditar.

Não me vou alongar. As palavras faltam-me. É uma honra ter o meu conto nesta Colectânea que reúne autores que admiro e, alguns deles, tenho o prazer de conhecer pessoalmente. Sou blogger quase há 8 anos, li e comentei os seus trabalhos, e por me dedicar aos livros desde sempre, vivo agora momentos de pura incredulidade. Estou desejosa de conhecer o trabalho dos meus colegas vencedores do concurso. Caríssimos, somos agora novos autores, com tudo o que ser novo e iniciado tem de bom e de mau. O melhor, quanto a mim, é o tanto que nos espera. O que, se quisermos, podemos aprender. Uma saudação especial aos convidados do mundo da música, pela versatilidade e coragem. E um abraço sentido ao ilustrador da Colectânea, que guarda as nossas histórias e vidas numa capa fabulosa. E, por último, à Livros de Ontem, por juntar isto tudo e fazer aparecer um livro. Um objecto físico extraordinariamente bem conseguido que sustenta os desejos de liberdade desta gente toda.

Olho para a Colectânea que aqui vos mostro nas minhas mãos com um ar aparvalhado. Vivo um estado de constante surpresa, como quando se acorda de um sonho e afinal não era um sonho. Eu estou bem acordada.

Obrigada aos apoiantes do crowdfunding, esse mês de incertezas, nervos, dúvidas e êxtase final. Ver-vos felizes por agora receberem os livros em vossas casas enche-me a alma de luz. Para mim o Desassossego chegou, instalou-se, e agora atormenta-me, e isso é uma coisa fabulosa. Posso nunca mais ser publicada mas escrever é o meu caminho para a liberdade.

Desassosseguem-se connosco e conheçam este trabalho que está à venda aqui. Vamos ter lançamento no dia 4 de Julho e estão todos convidados. Quando tiver mais informações sobre esta festa partilho.

Organização de Sofia Teixeira (Blogue BranMorrighan).

Uma publicação Livros de Ontem.

Contos de Carla M. Soares; Manuel Jorge Marmelo; Nuno Nepomuceno; Pedro Medina Ribeiro e Samuel Pimenta.

Autores convidados: David “Noiserv” Santos e Guillermo de Llera (Primitive Reason).

Autores vencedores: André Mateus; Cláudia Ferreira; Eduardo Duarte; Márcia Balsas e Márcia Costa.

Capa e ilustração de João Pedro Fonseca.

Obrigada ao Gil Cardoso pela paciência em me tirar esta fotografia aparentemente simples e rápida. A verdade é que a modelo-autora é um bocado chata.

Junho 14, 2015

Toda a Luz que não Podemos Ver - Anthony Doerr - Opinião

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A leitura de “Toda a Luz que não Podemos Ver” foi, para mim, algo conflituosa. Por isso, talvez, tenha demorado tanto a começar a escrever algo sobre este livro.

Com uma série de etiquetas de prémios, incluindo o Pulitzer, não podia vir melhor referenciado. Reconheço inúmeras qualidades neste livro, uma excelente história e muito bem contada, a escrita cuidada e irrepreensível, uma dose brutal de humanidade num cenário de guerra e, principalmente, a estrutura em saltos temporais, que adoro, e que, somando descrições do início e do fim, me fez imaginar o como. E querer saber como. Como aconteceu.

Chegada ao fim não senti que verdadeiramente me tivesse ligado ao livro, o que me deixa triste. Talvez uma escrita demasiado elaborada e depurada me tenha arredado, eu que prefiro ler tudo mais a cru, que me afasto de histórias bonitas, e que esta guerra, quase poética me surpreendeu de tão bela.

Recomendo este livro a todos os que se queiram deixar maravilhar pelas palavras. Apesar de não me ter tocado particularmente, as suas qualidade são óbvias.

Sinopse

“Marie-Laure é uma jovem cega que vive com o pai, o encarregado das chaves do Museu Nacional de História Natural em Paris. Quando as tropas de Hitler ocupam a França, pai e filha refugiam-se na cidade fortificada de Saint-Malo, levando com eles uma joia valiosíssima do museu, que carrega uma maldição. 
Werner Pfenning é um órfão alemão com um fascínio por rádios, talento que não passou despercebido à temida escola militar da Juventude Hitleriana. Seguindo o exército alemão por uma Europa em guerra, Werner chega a Saint-Malo na véspera do Dia D, onde, inevitavelmente, o seu destino se cruza com o de Marie-Laure, numa comovente combinação de amizade, inocência e humanidade num tempo de ódio e de trevas.”

Editorial Presença, 2015

Tradução de Manuel Alberto Vieira

Junho 10, 2015

Este é o meu corpo - Filipa Melo - Opinião

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“Hoje sei que quando os corto, os peso, os viro do avesso, são eles que me usam, e não ao contrário. São eles que me chamam para falarem através de mim. É para isso que os mortos usam os corpos. Oferecem-mos, exibem-nos como prova. Deixam-nos ficar para trás para colocarem um ponto final na sua história. Para partirem vingados, limpos e em paz. (…) Uma autópsia é como um nascimento. Nunca se repete. Tal como nunca se descasca pela segunda vez uma laranja.” Páginas 20 e 21.

Mais um livro que li como se fosse uma corrida. Não por ter vontade de chegar ao fim, mas por não conseguir parar. Soube que tinha de o ler quando a Cris falou dele a primeira vez. Que tinha de o ter, pronto. Que o leria avidamente da primeira vez, que marcaria as melhores passagens para reler diversas vezes, e que, provavelmente, haveria uma segunda leitura. Tudo verdade excepto a segunda leitura. Ainda.

Um livro sobre o corpo. O corpo inteiro. Mesmo quando é analisado em pedaços na mesa de autópsia. Não é mórbido, eu não acho, gosto de ler sobre a morte. E tenho, desde há muito tempo, um enorme (e muito pouco mórbido) interesse sobre Medicina Legal.

Há um crime mas não é um policial. Não é um jogo que nos entretém à procura do assassino. Não há pistas ocultas nem jogos com o leitor. Há um cadáver que revela a verdade mediante a perícia de quem o estuda. Órgão a órgão. Detalhe a detalhe. Bastante detalhe mas não suficiente pormenor. Quem deseja saber quer sempre mais. Contudo, é bastante elucidativo desde a primeira incisão para levantar a pele do crânio, até ao corpo novamente fechado findo o trabalho.

As pistas da morte intervaladas em capítulos de vida. Vidas comuns, histórias fora da sala de autópsia que através da relação vida/morte vão montando o mosaico deste romance, mostrando o caminho para as respostas às perguntas “quem matou” e “como matou”. O Médico Legista, romântico solitário, cujo trabalho é uma declaração de amor ao corpo e à morte como informação preciosa sobre a vida, e que, enquanto fala com os mortos oferece tantos pedaços de si, pedaços vivos, que compõem uma personagem muito especial.

“Eu gosto dos mortos. Dos meus mortos. Daqueles com quem converso enquanto os descasco e lhes peço que me contem as suas circunstâncias. Vou perguntando porquê, quem, onde, como, quando. E eles respondem, nunca se fazem rogados. Renascem à minha frente em peças separadas que eu peso com cuidado. Deixam-se abrir sem um lamento. A vida vai-lhes saindo aos pedaços do corpo e, quando se consuma, leva consigo a voragem da morte. Fica só uma paz que os envolve com suavidade. Uma paz-mortalha.” Página 23.

Um livro brilhante. Uma escrita envolvente, inteligente, elegante e madura. Raro e difícil de encontrar como todas as obras de arte. Mas quando um livro tem tanto para oferecer a quem ama a leitura e a escrita, esquecê-lo e remetê-lo a edições únicas é criminoso e tem pouco de artístico. Procurem-no.

Sinopse

“Um corpo desfigurado de mulher aparece na margem de um rio. Pelas mãos de um médico legista, que pouco a pouco se apropria do cadáver, dialogando com ele, mergulhamos na história das personagens que contribuíram para esta tragédia. A autópsia deste corpo, que é também a autópsia de um crime, revela-nos os meandros da nossa fragilidade física e os reflexos da morte sobre os que continuam vivos.”

Sudoeste Editora, 2007

Junho 03, 2015

A Noiva do Tradutor - João Reis - Opinião

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Quando um escritor me oferece o seu livro para ler fico sempre feliz e aterrorizada. A felicidade é por motivos óbvios. O terror é porque não sei mentir, não tenho jeito, pronto, e portanto tudo o que diga ou escreva sobre os livros é verdade. Pelo menos para quem queira saber a verdade.

Acho que o João quer. E eu estou cheia de sorte porque gostei muito deste livro pequeno de aspecto elegante, com uma capa simples e fora do comum. Eu gostei mas irritei-me. Sim, irritei-me muito com o personagem tonto e hipocondríaco, cheio de dramas, dúvidas, um tipo um bocado alucinado com a realidade. Mas vendo bem, a realidade é um bocado alucinante. Por isso, apesar da estranheza que o tradutor de início me provocou, fui sendo, aos poucos e inevitavelmente, convencida que até temos algumas coisas em comum. Eu, o tradutor e, possivelmente, espero, mais uma data de gente.

Nunca me esqueci do chapéu no eléctrico mas já tive senhorias poupadinhas, sovinas vá. Penso que o importante não são os pontos comuns que o leitor possa ter com as situações criadas com os que cruzam os dias deste personagem, o tradutor, o que conta é como a avalanche de pensamentos que lhe ocorre é habilmente conseguida, traçando o perfil dos outros, dando a conhecer o que ele acha dos outros, criando cenários empáticos, criando algo que já tenhamos vivido pelo menos uma vez.

E é esta construção dos outros a partir do personagem, do que o personagem vê e sente que tornou esta leitura tão especial para mim. Mais do que a história, ou histórias de percalços, confusões e medos, interessa-me o modo como está feito. A forma como, a partir de um tipo trapalhão, que vive numa época que penso nunca chegar a ser totalmente definida, que fica sozinho, a noiva foi-se embora, e vive rodeado de uma atmosfera que possivelmente não será tão tóxica como ele a define, mas na qual acredito e me deixei enredar.

O tradutor é dramático e triste, tanto, que chega a ser cómico. Pela forma como vive e encara tudo em seu redor, por estar sempre agoniado e recear adoecer, por olhar tudo o que acontece de uma forma negativa, com um exagero bem conseguido e coerente. É um homem irritante, solitário, parvo e por vezes até ridículo, que me convenceu em pleno.

“Aperto-lhe a mão viscosa, é seca e húmida ao mesmo tempo, uma mão de réptil mumificado, ele não faz força na mão, os dedos são uma gosma, moles, sempre me impressionei negativamente com mãos que não cumprimentam, são pessoas desleais, escondem as forças, são picuinhas, moscas mortas, impotentes tarados, o seu ambiente o éter sulfuroso dos pântanos, sinto novamente o cheiro a enxofre, isto é demasiado para um homem honesto, é a antecâmara do inferno, quero limpar a mão às calças, um papel, qualquer coisa, tento controlar-me, esperar até sair deste covil, o fuinha quer recolher-se na toca, abro a porta, a chama da vela treme, faço um último movimento de cabeça na sua direcção, ele responde-me do mesmo modo, fecho a porta, passo pela secretária sentada, continua a mexer nas repas do cabelo, minha senhora, não use esse penteado, nem todas o podem fazer, digo-lhe boa tarde, pego no guarda-chuva, ela levanta-se da cadeira mas sou mais rápido e encontro-me na rua antes que ela me alcance.” (Pág. 36)

Desafio-vos a estarem presentes nas próximas apresentações deste livro:

Lisboa – 6 de Junho, às 18h30, na Fnac Chiado;

Porto - 12 de Junho, às 18h30, no Teatro Rivoli

Guimarães - 13 de Junho, às 18h30, na Livraria Snob;

Companhia das Ilhas, 2015