Um livro pequeno que me encheu as medidas. Enfim, não exactamente, pois eu já estava à espera de gostar muito, mas mesmo assim uma delícia a cada virar de página.
Mais do que um monstro assustador que devora livros, o Anibaleitor acorda, desperta e abana as estruturas de quem está cego pela trituradora quotidiana. Esta da trituradora não é minha, dou os devidos créditos à Renata Carvalho, mas é uma expressão tão boa que tive de a (ab)usar.
Um livro para todas as idades, principalmente se considerarmos a idade que temos na cabeça, e aquilo que os anos nos ofereceram como perspicácia. Os anos, a experiência, e claro, a escolha. O escolher viver observando, ou o passar pela vida vendo o que nos querem mostrar.
O Anibaleitor está recheado de coisas brilhantes que de certeza escapam a muita gente. Como de certeza muitas me escaparam a mim. Mas algumas apanhei e já não é nada mau. E mesmo para quem não apanhar nada nas entrelinhas, não deixa de gostar, pois está aqui um livro de aventuras de se lhe tirar o chapéu, com a vantagem de entusiasmar os mais jovens para a leitura.
Zink construiu um livro inteligente, que se deve ter em casa para ler muitas vezes, pois, de certeza, que a cada nova leitura, se vão descobrir novos tesouros.
Li este livro através da Roda dos Livros, obrigada Patrícia, fica a dica a todos aqueles que usam a desculpa absurda de que não me oferecem livros porque eu já tenho muitos (ridículo), ou porque não sabem que livro oferecer (há vales sabiam?), o Anibaleitor é um livro que eu adorava ter na minha estante.
“Devo dizer que a arte de roubar não é tão má como a pintam. Ao fim e ao cabo, é uma actividade de intercâmbio comercial como qualquer outra e, quase sempre, está longe de merecer a fama que desgraçadamente tem. O povo diz que atrás de uma grande fortuna está um grande roubo – só que não é apenas atrás das grandes fortunas materiais – as pequenas e até mesmo as espirituais também não se livram desta censurável génese. Toda a gente rouba alguma coisa a alguém: dinheiro, ideias, trabalho, tempo, paciência, até a própria vida. Apenas a alma não se rouba porque esta só pode ser comprada (ou melhor, vendida) pelo próprio dono, o que de resto muitos de nós fazemos com bastante agrado e, eu diria até, por um bem módico preço.” (Pág. 9)
“Como castigo obrigaram-me a ser escritor, uma sina que não desejo nem ao meu pior inimigo. É pior que prisão perpétua! Passamos o dia sentados a uma mesa, frente ao papel em branco ou ao computador em cinzento; o rabo amolece de tanto estarmos sentados, e ficamos a escrevinhar, a escrevinhar, sujeitos a artroses, a escrevinhar, a escrevinhar – histórias que, ainda por cima, quase ninguém lê, a menos que sejam adaptadas para cinema ou televisão. É muito frustrante, só vos digo.” (Pág. 106)
Sinopse
“O Anibaleitor conta a história de um jovem que, fugido à “guarda do reino”, embarca numa viagem em busca de um mítico e fabuloso animal, o Anibaleitor. Livro de aventuras, é acima de tudo um livro de aventura da leitura. Nesta magnífica novela, Rui Zink consegue ser, ao mesmo tempo, divertido, didáctico, comovente e, como sempre, estimulante.”
Teorema, 2010