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planetamarcia

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Fevereiro 23, 2014

Que Importa a Fúria do Mar - Ana Margarida de Carvalho - Opinião

 

Recentemente disseram-me que não consigo falar mal de um livro. Eu consigo mas não perco o meu tempo a ler livros que não me agradem.

Mas admito as minhas limitações a comentar um livro como “Que Importa a Fúria do Mar”. E pronto, aqui fico a olhar para o cursor a piscar e apenas dois pensamentos me vêm à mente: 1. Dificilmente lerei um livro melhor este ano (e ainda só estamos em Fevereiro); 2. Sinto-me uma completa nulidade perante a grandeza da escrita de Ana Margarida de Carvalho. É nestas alturas que eu, pequenita humilde aspirante a escritora, perco toda e qualquer esperança de lá chegar. Isto é mais que escrever bem. É escrever, isto é realmente saber escrever. Sinto inveja (da boa) e sorte por este livro me ter escolhido. E sinto orgulho por se escrever tão bem em Portugal, e claro, por ser uma Senhora a segurar a pena. Pronto, com esta da pena aniquilei mesmo o sonho remoto de escrever, que saída tão parva.

Acho que me saía melhor a escrever mal de um livro. Até teria sido mais fácil ler um só para escrever um texto de jeito. Mas o prazer de ler um livro com uma escrita de topo, que me deixou sem palavras e me fez perder a capacidade de articular frases com lógica, tem o seu preço. E eu pago. Pago com a fúria que me pegou este livro de fúrias, escrito com fúrias e em vários andamentos. Pago ao sujeitar-me a deixar que este livro fizesse de mim o que bem quis, me tratasse como uma marioneta em que as emoções foram sendo injectadas sem ritmo certo ou previsível, que me torturou de prazer por ser uma misturada caótica de factos reais e delirantes, imaginação, pensamentos, divagações e dissertações.

Pago tudo e sujeito-me a ler mais vezes as minhas passagens preferidas, que são quase todas, pois que mal pude largar o lápis com tantas ganas de sublinhar.

Do início confuso, com capítulos aparentemente independentes ao final angustiante, compulsivo e marcante, senti um misto de coisas que não se podem descrever. Um livro que tanto nos bate como abraça. Lindo até provocar dor. Deixou-me admiravelmente de rastos. Surpreendida. Feliz.

“Gosta desta ideia a jornalista, do rio como um caminho. É a metáfora perfeita para a vida, acha ela. Nasce e corre para a morte. Para a dissolução da salinidade, da indiferenciação e do esquecimento. Do pó ao pó. Da água às águas. Os rios nunca voltam para trás. (…) Gosta de pensar que num pingo de água da chuva pode estar diluído, na mais ínfima proporção, um resíduo de Niágara ou da Foz do Iguaçu.” (Pág. 55)

“(…)levava a semana a acumular maçadorias, vulgaridades, substâncias tóxicas e outras impertinências, e depois chegava-lhe a tristeza à sexta-feira. Desabava o céu inteiro em cima dela. É o que dá ter tempo para pensar.

Estava farta de gente medíocre, conversas parvas, faltava-lhe a indulgência para com os pobres de espírito, também não era nenhuma Rainha Santa Isabel para andar a distribuir papos-secos aos indigentes…Que se lixem. Que se lixem todos.” (Pág. 90)

“O mar é a mais líquida, a mais extensa e a mais habitada das metáforas. Transparente, mas parece azul por reflexo do céu. Também pode ser verde, depende das algas transportadas ou do grau de poluição. Tem os abismos do subconsciente, a metamorfose contínua da superfície. Tem grutas e recifes de coral. Destroços de naufrágios, despojos da humanidade a boiar. Às vezes, convulsiona-se, outras, estagna-se. Erguem-se vagas que se elevam a dezoito metros de altura, outras calmarias de tédio e sudação. Em poucos minutos ensaia-se uma tempestade, emissária das fúrias dos deuses, depois tudo se dissipa como uma bruma imponderável. Recomeça sempre, ondulação sem repouso, em cada onda um reinício do ciclo eterno, com a cadência de um verso. Tudo transita, tudo recomeça, tudo se dissolve, tudo se funde na ambivalência. É povoado por excêntricas criaturas, cardumes, espécies comedoras e espécies comidas, anémonas, medusas, crustáceos, florestas submarinas, sereias, baleias gigantes. É navegada por Caronte, Jonas devorado pela baleia e depois vomitado, por Ulisses, Calipso e outros argonautas. O mar é literariamente arável.” (Pág. 137)

Sinopse

“Numa madrugada de 1934, um maço de cartas é lançado de um comboio em andamento por um homem que deixou uma história de amor interrompida e leva uma estilha cravada no coração. Na carruagem, além de Joaquim, viajam os revoltosos do golpe da Marinha Grande, feitos prisioneiros pela Polícia de Salazar, que cumprem a primeira etapa de uma viagem com destino a Cabo Verde, onde inaugurarão o campo de concentração do Tarrafal. Dessas cartas e da mulher a quem se dirigiam ouvirá falar muitos anos mais tarde Eugénia, a jornalista encarregada de entrevistar um dos últimos sobreviventes desse inferno africano e cuja vida, depois do primeiro encontro com Joaquim, nunca mais será a mesma. Separados pelo tempo, pelo espaço, pelos continentes, pela malária e pelo arame farpado, os destinos de Joaquim e Eugénia tocar-se-ão, apesar de tudo, no pêlo de um gato sem nome que ambos afagam e na estranha cumplicidade com que partilham memórias insólitas, infâncias sombrias e amores decididamente impossíveis. Que Importa a Fúria do Mar é um romance de estreia com uma maturidade literária invulgar que coloca, frente a frente, duas gerações de um Portugal onde, às vezes, parece que pouco mudou. Brilhante no desenho dos protagonistas e recorrendo a um estilo tão depressa lírico como despojado, a obra foi finalista do Prémio LeYa em 2012.”

Teorema, 2013

Fevereiro 20, 2014

Porto Editora - Ficção Estrangeira - "O Culpado"

 

A 28 de fevereiro, a Porto Editora publica O Culpado, o romance de estreia de Lisa Ballantyne, obra muitíssimo bem-sucedida e elogiada a nível internacional. Joyce Carol Oates, por exemplo, considera que «Lisa Ballantyne escreveu um romance de estreia tão emotivo como cheio de suspense, rico em detalhes, mas com a misteriosa simplicidade de uma parábola».

Disputado pelas maiores editoras europeias, O Culpado foi sensação na Feira do Livro de Frankfurt, tendo os respetivos direitos sido comprados por chancelas de 25 países. No Reino Unido, já se venderam mais de 125 mil exemplares desta obra que possui uma forte componente psicológica, sendo simultaneamente perturbadora e envolvente.

SINOPSE
Daniel Hunter é um experiente advogado londrino que dedicou anos da sua vida a defender causas perdidas. No entanto, a sua vida altera-se quando conhece Sebastian, um jovem de onze anos acusado de matar Ben, de apenas oito, com quem brincava no parque pouco antes do assassinato.
À medida que vai conhecendo a difícil vida familiar de Sebastian, o advogado recorda-se da sua própria infância, passada em casas de acolhimento, e de Minnie, a mulher que o adotou e salvou com o seu amor, até que também ela o traiu, causando-lhe tanto sofrimento que Daniel a afastou para sempre da sua vida.
Qual terá sido o crime de Minnie, para que a evitasse durante quinze anos? E poderá a forte empatia que sente com Sebastian fazê-lo questionar tudo aquilo em que acreditara até então? Para Daniel, chegou a altura de se confrontar com os fantasmas do passado.

Título: O Culpado
Autor: Lisa Ballantyne
Tradução: Pedro Garcia Rosado
Págs.: 384
Capa: mole
PVP: 16,60 €

Fevereiro 16, 2014

Órix e Crex O Último Homem - Margaret Atwood - Opinião

 

As vantagens de pertencer à Roda dos Livros são inúmeras, mas as sugestões de leitura e as possibilidades que todos os meses se abrem de conhecer novos autores, têm marcado significativamente o último ano.

Margaret Atwood, uma Senhora da Literatura que pertence à minha “existência pós-Roda”, virá possivelmente a tornar-se uma das minhas escritoras favoritas de sempre. Órix e Crex é o terceiro livro que leio dela e a vontade de continuar a descobrir o “Universo Atwood” é gigante.

A sua imaginação prodigiosa e a capacidade de me fazer acreditar, e sobretudo, viver nos seus “mundos-limite”, conquista-me mais um pouco a cada livro. Uma ficção verosímil que me faz reflectir sobre uma enormidade de temas da nossa sociedade, designada pela própria por “Ficção Especulativa”.

É espantoso o seu conhecimento acerca da sociedade e da ciência, pelo menos para mim, que de cientista nada tenho. Atwood leva temas como a clonagem a um nível impensável (para mim, volto a repetir), “brinca” de forma séria com doenças fabricadas, testes e vacinas. Desde o início que percebi que há um Mundo onde toda a acção decorre, é o Mundo que interessa, pois o outro, o inferior, cheio de gente que não se enquadra nas regras, pode muito bem ser o nosso. Ainda consegue aliar a religião a este cenário, na medida em que tudo acontece sob as decisões de um só homem, como se fosse o próprio Deus a criar todas as coisas.

A organização estrutural de “Órix e Crex” é admirável. Não há linearidade na sucessão dos acontecimentos, isto é, a forma como a história nos é apresentada não obedece a qualquer regra lógica. O leitor trabalha e esforça-se, joga no meio das peças do puzzle do tempo que vai juntando. Senti-me como se a ler, também fizesse parte desta construção, pois que fui tecendo tudo na minha cabeça, e tudo vai fazendo sentido de uma forma estranhamente ponderada. Quero com isto dizer que não é um livro com um final inesperado ou surpreendente, mas sim um percurso que se absorve a cada página, a cada capítulo. Existe uma ponderação e uma organização de caos que me sinto muito limitada a explicar mas que resulta, absorve, envolve e, acima de tudo, me deixou perfeitamente convencida.

Distopia, Utopia, Realidade, Ficção. Não sei onde enquadrar Órix e Crex. Nem quero. Algo levou a que no fim só houvesse um Homem – O Último Homem, sendo que o fim é o princípio. Confuso? Não. Simplesmente Genial.  

Sinopse

“Pode ser que os porcos não voem, mas estão completamente alterados. O mesmo se passa com os lobos e outros animais. Um homem, que em tempos se chamou Jimmy, vive numa árvore, embrulhado no seu lençol e diz chamar-se Homem das Neves. A voz de Órix, a mulher que ele amava, provoca-o e persegue-o. E os Filhos de Crex são agora responsabilidade sua. Como é que o mundo inteiro se desmoronou tão depressa? Com a sua habitual agudeza de espírito e o seu humor negro, Margaret Atwood apresenta-nos um mundo novo, habitado por personagens que não nos deixarão acabado o último capítulo.”

Bertrand, 2010

Fevereiro 15, 2014

Sextante Editora - Ficção - 12 contos, 12 autoras e 12 cores

 

A Sextante Editora publica, a 21 de fevereiro, Do branco ao negro, uma coletânea de doze contos coordenada pela jornalista São José Almeida e ilustrada por Rita Roquette de Vasconcellos, onde cada um tem por base uma cor.

Neste livro, as 12 autoras contam uma história em homenagem aos que vão perdendo a sua capacidade de as contar, uma vez que os direitos de autor revertem na íntegra para a Associação Alzheimer Portugal.

Do branco ao negro será apresentado na 15.ª edição do Correntes d’Escritas, no dia 19 de fevereiro, às 21:30, na Sala Eça de Queirós do Hotel Axis Vermar, na Póvoa de Varzim. Nesta sessão vamos poder contar com a presença das autoras Ana Luísa Amaral, Elgga Moreira, Lídia Jorge, Maria Teresa Horta e Rita Roquette de Vasconcellos.

Fevereiro 15, 2014

Porto Editora - Isabel Allende - novo romance

 

A 21 de fevereiro, chega às livrarias portuguesas O Jogo de Ripper, o novo e muitíssimo aguardado romance de Isabel Allende. A chilena é uma das escritoras mais populares do mundo, tendo já ultrapassado os 60 milhões de livros vendidos.

Autora de êxitos incontornáveis, como A casa dos espíritos, Eva Luna e Paula, Isabel Allende oferece aos leitores o primeiro policial da carreira. O sucessor de O Caderno de Maya é um romance surpreendente, narrado com a prosa única que deu fama a Isabel Allende.

Fevereiro 13, 2014

"Porto de Encontro" com Mário Zambujal

 

O convidado da XXIV edição do “Porto de Encontro” é Mário Zambujal, que estará à conversa com o jornalista Sérgio Almeida e os seus muitos leitores no próximo sábado, 15 de fevereiro, a partir das 17:00, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto. De registar a participação especial do cronista Germano Silva e de Manuela Leitão, que fará leituras de obras do convidado.

Fevereiro 10, 2014

Cidade Proibida - Eduardo Pitta - Opinião

 

Começo por falar do prefácio de Fernando Pinto do Amaral, por onde iniciei, de forma lógica, a leitura deste livro. Um prefácio excelente mas demasiado revelador. Recomendo a quem leia este livro que guarde o prefácio para o fim. Eu preferia ter descoberto as personagens por mim sem me sentir influenciada por outra opinião. Contudo não retirou interesse à leitura.

Gostei deste livro pela forma desempoeirada como está escrito, sem tabus e com uma naturalidade admirável. É uma história de amor e sexo mas, quanto a mim, vale mesmo é pela descrição satírica e algo irónica do que se pode chamar uma espécie de alta sociedade conservadora e preconceituosa. Portugal e os portugueses vistos sob o olhar de Rupert, um Inglês que não só observa os costumes e atitudes de um povo no geral, como em particular os comportamentos da família do namorado Martim.

Se por vezes senti que o rumo das descrições começava a cair numa banalidade romântica que procuro evitar, a crueza de alguns cenários equilibrou e trouxe o realismo necessário a este relato contemporâneo de uma sociedade preconceituosa e doente, em que todos ocultam quem verdadeiramente são. Rupert, de uma honestidade para a qual os portugueses não estão preparados (pelo menos os deste livro), sente-se preso numa cidade em só quer viver a sua vida e a sua relação com Martim mas na qual as suas escolhas devem ser demonstradas com, digamos que, bastante descrição. A pressão de viver com um “menino de boas famílias”, ele de origens humildes, vindo de um país com uma abertura diferente, dão constantemente a Rupert a sensação de se movimentar num local em que tem de pensar os seus passos e atitudes. Sente-se trancado numa cidade proibida.

Um livro que li rápido, não só por ser de pequena dimensão, mas porque acima de tudo me deixava sempre expectante com o que se passaria a seguir.

“Rupert sentia-se bem a viver em Lisboa e gostava dos portugueses, embora a vida portuguesa continuasse a ser para ele um mistério insolúvel. Por graça, mais de uma vez dissera que o Instituto devia promover um seminário sobre as idiossincrasias indígenas. “O que não falta são tópicos”, assegurava. Um deles era o vício do café. De facto ir à rua de propósito, nunca menos de três vezes por dia, com o propósito de tomar a famosa bica, parecia-lhe uma obsessão colectiva” (Pág.45).

Sinopse

“Uma história de amor e sexo passada em Lisboa, entre um filho de muito boas famílias, da melhor sociedade lisboeta, e um inglês que aqui trabalha como professor.
É um bom livro em que se fala livre e fulgurantemente de sexo, do prazer erótico e da transgressão.
Eduardo Pitta fá-lo com a mestria de um grande narrador.”

Planeta, 2013

Pág. 1/2