Fevereiro 10, 2013
Sob o Céu de Paris - Elisabete Caldeira e Jorge Campião - Opinião
“Sob o Céu de Paris” surpreendeu-me pela qualidade da sua escrita, bonita e envolvente, com rigor e uma sensibilidade que achei diferente e especial.
O livro prendeu-me de imediato, não só por me deixar embalar pelas palavras alinhadas de forma cuidada, mas também pela história de amor e arte no palco da cidade de Paris. Estava e continuo bastante curiosa em relação a ser um livro escrito a “quatro mãos”. Como é que a escrita, uma atividade solitária, pode ser partilhada desta forma?
Raquel e Carlos amam-se em Paris, fogem das suas vidas pouco satisfatórias para viver uma aventura de descoberta e exploração um do outro. Talvez por vezes demasiado carnal e pouco espiritual, este enredo prometeu mais do que deu. Penso que é um livro que agradará a leitores comedidos de ritmo calmo e pausado. Para mim acabou por ficar aquém das expectativas por lhe faltar aquela essência tão especial que faz um livro único e impossível de parar de ler.
Uma cidade fantástica, uma relação amorosa fortuita em que ocasionalmente se tecem comparações a Picasso (dado que Carlos é pintor) e Dora Maar, mas que não passa de uma série de ímpetos sexuais no quarto do hotel, quando se podia ter aproveitado o potencial de Paris para viver uma história verdadeiramente escaldante sem recorrer a cenários sexuais repetitivos.
Uma descoberta insaciável de corpos que não é acompanhada por nenhuma busca mais íntima, em que não há exploração de personalidades nem se chega a aprofundar quem são verdadeiramente Raquel e Carlos. Sabemos que ela é casada e tem uma filha e ele tem um filho, senti insatisfação nas suas vidas mas nunca cheguei a perceber porquê, a informação é superficial e rara.
Carlos expõe pela primeira vez em Paris e Raquel organiza o evento. À exceção do taxista Pascal as outras personagens são figurantes, meros vultos necessários para compor as ligações desta história.
Volto a destacar a belíssima e surpreendente escrita, mas que não foi suficiente para me entusiasmar e emocionar. Uma promessa que ficou por cumprir. Uma história de amor escondido a que falta paixão e intensidade, que a certa altura achei monótona, e que confesso que, a partir da página 200 li na “diagonal”.
Sinopse
“Raquel é uma mulher que nunca tomou o destino da sua vida nas próprias mãos e tem consciência disso. Carlos é um pintor cujo reconhecimento artístico poderia ser maior se alguma vez tivesse sido metódico, mas não o sabe. Raquel vai organizar a exposição de pintura de Carlos em Paris, no Centro Georges Pompidou. Mas não vai apenas ordenar a exposição de Carlos, vai estruturar a sua obra, o seu talento, ao mesmo tempo que terá de recompor a sua própria vida pessoal. Pelos cafés, restaurantes e ruas de Paris por onde passa, Raquel ressuscitará um Picasso - cuja crueldade corporiza bem os seus medos -, e uma Dora Maar - a talentosa, enigmática e inspiradora amante do genial artista -, que lhe serve de alter-ego, mas cujo destino não quer imitar.”
Alfarroba, 2012