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planetamarcia

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Agosto 04, 2012

Encontro em Jerusalém - Tiago Rebelo - Opinião

 

Já li alguns livros de Tiago Rebelo e quando inicio uma nova leitura do autor estou certa de que vou gostar. É uma escolha certeira quando não quero ter dúvidas sobre o nível de satisfação que um livro me pode proporcionar. Então, quando não me apetece experimentar um(a) novo(a) autor(a), e quero chegar ao final com vontade que o livro tivesse mais páginas, este é um dos escritores que saltam da estante. Nesta altura não tenho mais nenhum livro dele por ler, situação que terei de alterar.

“Encontro em Jerusalém” tocou-me particularmente, tornou-se um dos meus favoritos.

Baseado na experiência real de Tiago enquanto jornalista de cenários de guerra, o Tiago escritor criou um palco violento e real para contar o amor de Francisca e Afonso. O livro começa com um enquadramento curto mas muito bem feito da situação, ou de várias situações, ocorridas no médio oriente. Conflitos e mais conflitos a que todos já assistimos na televisão em direto, mas de que, se calhar, grande parte das pessoas desconhece as causas. Neste livro está um bom ponto de partida para aprender e até ganhar gosto em pesquisar e saber mais.

Afonso é jornalista, adora o seu trabalho e o risco das reportagens mais perigosas. Francisca não é nada do que nos é dado a conhecer no início e surge por acaso na vida de Afonso. Uma coincidência faz com que se tornem colegas de reportagem dado que Francisca é fotógrafa e Afonso fica sem fotógrafo em Jerusalém. Conhecem-se nesta cidade, iniciam a sua relação profissional e também uma relação amorosa. Completam-se. Profissionalmente tornam-se uma dupla de sucesso. Francisca prova que tem talento para o fotojornalismo, mesmo tendo iniciado a sua carreira com um verdadeiro tiro no escuro. Arriscou. Teve uma oportunidade que soube agarrar. Completam-se também no campo pessoal. Jerusalém foi o palco do início do seu amor. Cidade onde regressam. Local onde o seu amor sofre duras provas.

Dei por mim a pensar em diversos detalhes durante esta leitura. Sinceramente não consigo deixar referir a diferença colossal que se verificou na fotografia em apenas alguns anos. Enquadrando um pouco a ação, há medida que Francisca ilustrava com fotos as notícias de Afonso, os rolos eram enviados para a redação do jornal em Lisboa. Rolos! Fiquei fascinada ao pensar nos rolos e lembrar-me da mística das fotos que ficavam dentro das máquinas, ou melhor dos rolos, até podermos ver os resultados. Agora é tudo imediato. Na altura (e não foi assim há tantos anos) Francisca só sabia o resultado das fotos quando as via no jornal – aí era sinal de um bom trabalho, as fotos eram escolhidas para ser publicadas.

Identifiquei-me com a história deste casal. A forma como a sua relação evolui, como conseguem manter uma boa relação profissional e uma sólida união familiar. Lado a lado, os projetos pessoais acompanham os profissionais num jogo de sucesso, possível pelo apoio e dedicação que dão um ao outro. Conheci Francisca e Afonso à medida que eles próprios se iam conhecendo, iam abrindo um ao outros os seus sonhos, ambições e projetos. De um solitário viciado no trabalho, Afonso transforma-se num homem de família com vontade de construir um lar para os filhos que sonham ter.

Uma profissão de risco tem o seu peso, e quando o cenário muda e os sonhos são desfeitos por motivos que ninguém tem culpa, há que saber lidar com a situação e distinguir o que realmente importa. Quando Francisca e Afonso regressam a Jerusalém enfrentam uma dura realidade que altera as suas vidas para sempre. Deixarão que a dor e a violência os arrase destruindo os seus sonhos em definitivo? Tal como um atendado em larga escala a sua relação extingue-se minada no local onde começou?

Uma dor imensa, uma perda incalculável. Une ou separa? Destrói ou constrói? A distância acalma ou atiça? O tempo que passa cura ou extingue? A dúvida fica até ao final aguçando o interesse e apressando o folhear das páginas.

Verifico mais uma vez que Tiago Rebelo não desilude. Neste caso a linha entre a realidade e a ficção é ténue dado que são descritos acontecimentos verídicos de uma forma muito real, assustadoramente real por vezes. A história de Francisca e Afonso é credível, pode mesmo ter acontecido, são personagens com quem nos podemos cruzar na rua todos os dias. Um bom livro pode ser aquele que nos faz acreditar que se ultrapassa a ficção.

Sinopse

“Francisca e Afonso são um casal de repórteres de guerra que se conheceu na Terra Santa, em dias pautados pelo ruído dos Scuds iraquianos, a que o autor poeticamente chamou «dias de pólvora». Mas os clarões que em 1991 incendiavam os céus de Jerusalém e de Bagdad perdiam todo o seu fulgor perante a luminosidade quase incandescente da paixão que unia os dois repórteres. Muitos outros cenários de guerra testemunhariam o amor, o entendimento pleno que os tornava tão íntimos e felizes. Mas a proverbial inveja dos deuses não tolera uma felicidade em estado puro, e a sua intervenção não se fez esperar. Francisca e Afonso iriam ter pela frente a mais dura prova à intensidade da sua paixão.

Com o sugestivo título "Encontro em Jerusalém", o mais recente livro de Tiago Rebelo conquista-nos de forma imediata e incondicional através de uma narrativa que concilia autenticidade e arrebatamento na justa medida, e que nos deixa absolutamente rendidos ao seu subtil poder de encantamento. Baseado nas experiências das reportagens de guerra do escritor, nomeadamente em dois dos conflitos que mais marcaram a década de 90 — a Guerra do Golfo e a Guerra da Bósnia —, "Encontro em Jerusalém" surpreende-nos pela extraordinária riqueza e verosimilhança dos cenários, de um rigor documental, e das personagens que neles se movem, e revela-nos ainda o conhecimento profundo que o autor tem dos ambientes socio-políticos descritos.”

Editorial Presença, 2005

Agosto 01, 2012

O Segredo de Sophia - Susanna Kearsley - Opinião

Por vezes quando um livro nos é muito recomendado corremos o risco de esperar demasiado. Como em tudo, cada leitor tem os seus gostos e preferências. Gostei muito deste livro, achei bem estruturado, bem construído, enfim, uma ideia muito bem concretizada. A verdade porém, é que apesar de ser excelente, eu gostava que me tivesse tocado (ainda) mais.

Desde a primeira página que o contexto histórico me agradou muito, fazendo mesmo recordar um dos meus romances favoritos, neste caso uma saga – Outlander. Como pano de fundo o planeamento da revolta dos Jacobitas e o regresso do Rei Jaime à Escócia, foi com muito prazer que mais uma vez mergulhei na cultura de um país que admiro, apesar de (ainda) não conhecer. Nada como a paisagem fria da Escócia para abrir o coração ao romance, lembro-me logo dos contos, das superstições, das músicas.

O outro ingrediente fundamental e decisivo para o meu interesse é Carrie, uma escritora com bloqueio criativo que faz de Cruden Bay, local que descobre por casualidade, o local perfeito para captar a envolvência do livro que ainda não sabe que vai escrever. Adorei todas as descrições relacionadas com o processo criativo, como podia não gostar de absorver todas essas dicas, eu que adoro livros?

Depois tudo decorre como uma espécie de viagem no tempo – mais um paralelismo com Outlander, que adorei. Na verdade não se pode falar mesmo de viajar no tempo, é mais viajar na memória, pois Carrie vai recebendo sensações do passado como se de facto tivesse vivido há 300 anos. O que ao início é um pouco assustador pela estranheza, vai-se tornando uma sensação familiar que lhe permite descrever cenários e acontecimentos do passado; nestas ocasiões Carrie escreve, recupera a inspiração e constrói um magnífico romance sobre a vida de Sophia.

Sophia é antepassada de Carrie. Por alguma razão a memória de Sophia conservou-se em Carrie que, agora neste local onde Sophia viveu, recorda o percurso de vida desta. É estranho mas acaba por fazer sentido. Se é possível ou verdadeiro não sei, mas deixei-me levar e acreditei que seria. Sonho, realidade e passado. Sophia e Carrie, que viveram com um lapso temporal de 300 anos acabam por viver situações semelhantes no que toca ao amor.

Memória genética é algum de que nunca tinha ouvido falar. Algo que não sei se não passa de ficção, mas que é a chave lógica desta narrativa. É a resposta para as “visões” em catadupa que Carrie não controla, que a fazem sentir que já esteve em determinados locais, consegue mesmo recuperar plantas inteiras de locais e confirmar com livros históricos que estava certa.

Intrigante e envolvente. Romântico e muito bonito. Um livro que por vezes nos aflige e desespera, deixa alguma ansiedade de chegar ao fim e saber…saber o segredo de Sophia.

Sinopse

“Carrie McClelland é uma escritora de sucesso a braços com o pior inimigo de qualquer artista: um bloqueio criativo. Em busca de inspiração, ela decide mudar de cenário e visitar a Escócia, onde se apaixona pelas belas paisagens e pelo Castelo de Slain, um lugar em ruínas que lhe transmite uma inexplicável sensação de pertença e bem-estar. Tudo parece atraí-la para aquele lugar, até mesmo o seu coração, que vacila sempre que encontra Graham Keith, um homem que acaba de conhecer mas lhe é, também, estranhamente familiar. Com o castelo como cenário e uma das suas antepassadas - Sophia - como heroína, Carrie começa o seu novo romance. E rapidamente dá por si a escrever com uma rapidez invulgar e com um imaginário tão intrigante que a leva a perguntar-se se estará a lidar apenas com a sua imaginação. Será a "sua" Sophia tão ficcional como ela pensa? À medida que a sua escrita ganha vida própria, as memórias de Sophia transportam Carrie para as intrigas do século XVIII e para uma incrível história de amor perdida no tempo. Depois de três séculos de esquecimento, o "segredo de Sophia" tem de ser revelado.”

Asa, 2012

Pág. 3/3