Fevereiro 05, 2012
A Vida Secreta das Princesas Árabes - Sultana a Vida de uma Princesa Árabe - Jean Sasson - Opinião
“A Vida Secreta das Princesas Árabes” É um conjunto de três livros sobre o universo das mulheres das classes mais altas na Arábia Saudita.
Hoje terminei o que se pode chamar o primeiro livro, ou talvez seja mais lógico chamar-lhe primeira parte. Apesar de ainda estar a muitas páginas do fim deste livro, senti vontade de comentar já este início tão fascinante e marcante.
Sultana é uma princesa Árabe. Vive rodeada de luxo, dinheiro e ostentação, mas não tem, como qualquer outra mulher na Arábia Saudita, direito a opinar ou decidir seja o que for sobre a sua própria vida. Desde criança que é rebelde e acredita que as coisas podem e devem ser diferentes para as mulheres. Sultana vive intensamente, quebra regras, sofre, luta, ultrapassa dificuldades e faz alguma diferença em determinadas situações da sua vida. Consegue por exemplo conhecer o marido que o pai lhe arranjou antes do dia do casamento, situação perfeitamente anormal, também muito devido ao facto de o marido escolhido querer uma esposa inteligente e com estudos. Uma coisa muito rara numa sociedade patriarcal em que cada homem pode ter várias esposas e se celebram casamentos entre meninas de 14/15 anos e homens de 50 ou 60. Ter filhos varões é o objectivo dos casamentos, quando nascem meninas ninguém esconde a desilusão. As mulheres têm os seus locais próprios para estar, apenas estão com os maridos quando solicitadas e, têm obviamente, de estar sempre preparadas para os receber.
A acção decorre desde a infância de Sultana até à idade adulta, depois de casar e ter três filhos. Uma vida de luta para marcar a diferença, esta princesa acreditou sempre que a realidade das mulheres iria mudar na Arábia Saudita, mas a verdade é que Sultana chega ao final do livro, já na década de 90, a sentir que nada mudou, passaram-se anos e as mulheres continuam a ser escravas sexuais dos homens com quem as obrigam a casar, escravas dos próprios pais e irmãos, submissas à família dos maridos e sem acesso a estudos e conhecimento.
Sultana é princesa e viajou, conheceu o mundo, não sabe o que é a miséria mas choca-se com as histórias que muitas vezes lhe chegam pela voz das empregadas: pais que condenam as filhas à morte e o fazem com as suas próprias mãos, apedrejamentos em público, sentenças cruéis por se ser mulher.
Uma personagem fascinante, uma mulher que procura mudar, não só por si, mas por todas as mulheres sauditas, desobediente e revoltada, tem alguns actos considerados de perfeita loucura, que para nós ocidentais são atitudes banais. Culta e com sede de saber, é o oposto das mulheres a quem sempre foi vedado o acesso à instrução e até ao prazer, através da mutilação sexual. Apenas em vésperas do casamento, quando o noivo lhe pergunta se é excisada é que Sultana toma conhecimento desta realidade ainda comum às suas irmãs mais velhas.
O fundamentalismo religioso, sempre presente, é a base da ignorância das mulheres sauditas e fonte de poder dos homens. Um obscurantismo quase medieval que lhes nega o acesso a praticamente tudo.
Chocante mas muito interessante, um relato com enquadramento histórico que me está a fascinar, e que espero que me reserve surpresas, agora que vou dar início à leitura de “As Filhas da Princesa Sultana”.
Sinopse
“Sultana é o pseudónimo de uma corajosa princesa da Arábia Saudita. Ela é uma das dez filhas da família real mas a sua vida, rodeada de luxo e riquezas inimagináveis, está longe de ser um conto de fadas. No seu país, as mulheres - qualquer que seja o seu estrato social - estão sujeitas à tirania ditada por um fanatismo religioso que promove a poligamia, dá ao homem o poder de castigar cruelmente qualquer mulher e incentiva os casamentos forçados, as mutilações e a violência sexual, as execuções por apedrejamento ou afogamento.
Quando aceitou contar a sua história à jornalista e escritora Jean Sasson, Sultana sabia que estava a pôr em risco a própria vida. Foi conscientemente que abdicou da sua segurança pessoal para denunciar o brutal quotidiano das mulheres sauditas. A sua voz dá-nos a conhecer um mundo no qual a sumptuosidade e a extravagância coexistem com a violência e a barbárie. A princesa partilha connosco a sua intimidade e a das mulheres que a rodeiam: as suas filhas, primas, amigas... mas, na sua franqueza e coragem, ela fala por todas as mulheres.”
Asa, 2012