Fevereiro 19, 2012
A Vida Secreta das Princesas Árabes - As Filhas da Princesa Sultana - Jean Sasson - Opinião
Prosseguindo a leitura deste fantástico livro, cada vez me sinto mais envolvida, interessada, e por vezes horrorizada por uma realidade tão distante daquela que vivo.
Um volume longo, composto por três livros, que além de muito ricos em informação sobre a vida das mulheres na Arábia Saudita, está escrito na forma de um romance envolvente, mas que nos acorda e faz pensar que se trata de uma história real.
A vida da princesa Sultana prossegue, agora mais madura e com filhos, mas com a mesma irreverência da juventude e vontade de mudar um país que faz das mulheres escravas de todas as vontades dos homens.
Sultana pertence à família real. Os relatos que faz da vida nos palácios, resumindo as mulheres a nada numa sociedade de homens, faz-me pensar nas mulheres de classes inferiores, a anos-luz do luxo e ostentação, mas que na verdade vêm a sua vida regida pelo mesmo fundamentalismo religioso que domina e verdadeiramente governa a sociedade.
Sultana tem um filho e duas filhas, encara os problemas próprios da adolescência, mas que ganham uma outra dimensão na medida em que a rebeldia adolescente é sempre controlada pelas mais diversas “brigadas religiosas dos bons costumes”; claro que este controlo incide maioritariamente sobre as mulheres, se bem que, em certas situações mais graves nem os homens estão imunes ao seu poder. Regras, regras e mais regras numa sociedade que pauta todos os seus actos pelo Corão.
Nesta fase da vida de Sultana toda a família se reúne para a peregrinação a Meca. Momento alto e de extrema importância para a sociedade Muçulmana. Adorei a riqueza das descrições e o que pude aprender sobre costumes e temas que desconhecia por completo. Esta viagem muda a vida familiar de Sultana por completo no que refere á sua relação e educação dos filhos. Adoro a esperança que Sultana deposita no filho que, apesar de ser homem, já tem uma visão diferente em relação às mulheres, ao amor e ao casamento. Abdullah é realmente um jovem surpreendente e a esperança da mãe num futuro diferente para a Arábia Saudita.
Independentemente de concordar ou discordar do que considero ser uma dura realidade para as mulheres, e de me entristecer observar que uma das que já foi das civilizações mais avançadas do Mundo, retrocede cega pelo poder do fundamentalismo, adoro o nível de conhecimento que esta leitura me está a proporcionar. Nem tudo o que aprendemos é bonito e cor-de-rosa, mas é importante ter acesso a informação e saber o que se passa no mundo que também habitamos.
Não entrarei em mais pormenores, a cada página me deparei com as descrições mais tenebrosas de uma realidade que ultrapassa a minha compreensão. Prefiro não referir nenhum pormenor em particular e convidar todos à leitura deste livro. Eu cá vou a caminho da última parte “Deserto Real”.
Sinopse
“Sultana é o pseudónimo de uma corajosa princesa da Arábia Saudita. Ela é uma das dez filhas da família real mas a sua vida, rodeada de luxo e riquezas inimagináveis, está longe de ser um conto de fadas. No seu país, as mulheres - qualquer que seja o seu estrato social - estão sujeitas à tirania ditada por um fanatismo religioso que promove a poligamia, dá ao homem o poder de castigar cruelmente qualquer mulher e incentiva os casamentos forçados, as mutilações e a violência sexual, as execuções por apedrejamento ou afogamento.
Quando aceitou contar a sua história à jornalista e escritora Jean Sasson, Sultana sabia que estava a pôr em risco a própria vida. Foi conscientemente que abdicou da sua segurança pessoal para denunciar o brutal quotidiano das mulheres sauditas. A sua voz dá-nos a conhecer um mundo no qual a sumptuosidade e a extravagância coexistem com a violência e a barbárie. A princesa partilha connosco a sua intimidade e a das mulheres que a rodeiam: as suas filhas, primas, amigas... mas, na sua franqueza e coragem, ela fala por todas as mulheres.”
Asa, 2012