Fevereiro 21, 2010
O Grito da Preguiça - Sam Savage - Opinião
“O Grito da Preguiça” é um livro diferente, está num patamar literário elevado e deve ler-se com calma.
É o primeiro livro que leio de Sam Savage e confesso a minha grande curiosidade em relação a este autor. “Firmin” é um livro que, apesar de ainda não ter lido, não me passou despercebido, dadas as excelentes opiniões que tem recolhido.
Entreguei-me então a esta leitura diferente, de forma pausada, mas que apesar de tudo se revelou relativamente rápida; o livro não é extenso e tem um mérito literário alto.
A pouco e pouco vamos conhecendo e traçando o perfil de Andrew Whittaker, escritor falhado, editor de uma revista de artes que vive nas ruas da amargura, senhorio pouco simpático, acima de tudo um solitário que pretende convencer o mundo da sua supremacia em relação a tudo.
Curiosa é a forma como o autor nos dá a conhecer esta personagem, pois todo o livro é composto pelas várias cartas que Andrew vai escrevendo a diversas pessoas, a através das quais é permitido ao leitor perceber esta personagem, bem como fazer a sua própria análise da personalidade de Andrew.
Achei de uma liberdade incrível pois em nenhuma altura Sam Savage nos dá qualquer indicação ou estabelece opiniões sobre Andrew, estamos perfeitamente por nossa conta para analisar as diversas cartas que são escritas aos inquilinos, à ex-mulher, aos amigos, aos escritores que pretendem ver as suas obras publicadas na revista “Sabão”. Whittaker socorre-se das mais variadas “artimanhas” para expressar uma realidade em que não vive, tanto se fazendo passar por editor de sucesso como por doente cardíaco, conforme escreve a figuras distintas no mundo editorial, ou ao seu banco com o qual tem uma dívida avultada.
Cheio de contradições, ironia e todo o género de manobras de diversão, Andrew tenta levar a cabo os seus intentos e convencer toda a gente da sua realidade fantasiosa. Resta a dúvida de qual a realidade na cabeça de Andrew. Não se terá ele próprio deixado levar pelos seus delírios?
Extremamente bem escrito, “O Grito da Preguiça” é um livro único que permite uma leitura altamente compensadora. Recomendo.
Sinopse
“Sobrevivendo à custa de uma dieta de bolos embalados, sardinhas em lata e vodka, nos tempos difíceis da era Nixon, Andrew Whittaker é editor de uma revista literária, senhorio negligente e candidato a romancista. Com a sua revista, Andrew espera atear as chamas da excelência literária.
Mas a vida não é simples. Os inquilinos de Andrew começam a cansar-se dos canos entupidos e das ratazanas, a ex-mulher exige-lhe dinheiro, e há um escritor canadiano frustrado que o persegue. Depois de romper com toda a comunidade artística local, Andrew decide organizar um festival literário para ajudar a salvar a revista moribunda. Mas será esse o seu momento de glória ou a derrota final?
Um retrato brilhante e cómico, mas também comovente, de um esquecido da vida, um sonhador atormentado com as coisas do mundo.”
Mas a vida não é simples. Os inquilinos de Andrew começam a cansar-se dos canos entupidos e das ratazanas, a ex-mulher exige-lhe dinheiro, e há um escritor canadiano frustrado que o persegue. Depois de romper com toda a comunidade artística local, Andrew decide organizar um festival literário para ajudar a salvar a revista moribunda. Mas será esse o seu momento de glória ou a derrota final?
Um retrato brilhante e cómico, mas também comovente, de um esquecido da vida, um sonhador atormentado com as coisas do mundo.”
Planeta, 2010