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planetamarcia

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Abril 02, 2016

O Livro da Minha Vida

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Aceitei o desafio da Isaura Pereira, do Blogue Jardim de Mil Histórias, para escrever sobre o livro da minha vida. Tarefa difícil. Saíu-me assim:

Para mim a melhor leitura é sempre a próxima, o melhor livro é o seguinte, e o livro da minha vida estará algures nesse futuro de livros que me esperam. Não é futurologia. É desejo de me maravilhar mais a cada livro.

Por isso me é tão difícil escrever este texto. Porque olho para os livros por ler como uma criança cobiça um doce, toco-lhes as lombadas e imagino tudo o que há para descobrir, sonho com palavras perfeitas, que me esperam, e fantasio um mútuo desejo de encontro.

Mas, para esta partilha, é na estante dos livros lidos que devo encontrar o livro para continuar este texto. Tenho de o saber, conhecer e, acima de tudo, de lhe ter sentido as palavras a encaixarem em mim como se já cá estivessem. Comigo funciona com a dor. Com outros leitores será o amor, a paixão, a melancolia, a felicidade. Eu preciso que as palavras me magoem, desorientem e tirem o sono. Preciso de ficar acordada ou, se dormir, de ser atormentada por sonhos feitos das frases que não esqueci, que nunca mais vou esquecer.

É um livro-verdade, construído de realidade, que li, reli e voltarei a ler. Sempre até ser, possivelmente e oficialmente, o livro da minha vida. É Morreste-me, de José Luís Peixoto.

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Obrigada Isaura, por este convite. Gostei muito de participar.

Post original aqui

Janeiro 12, 2016

Em Teu Ventre - José Luís Peixoto - Opinião

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Fui a uma das apresentações deste livro antes de o ler. Tive receio de ter ficado a saber demais, ou de partir para a leitura influenciada pelas dicas do autor, perdendo margem de descoberta. Sinceramente, acho que fiquei a ganhar. A apresentação foi muito clara, José Luís Peixoto partilhou algumas das suas intenções na escrita deste livro, assim como alguns detalhes da estrutura que receio que me pudessem escapar. Já tinha o livro. Já tinha (muita) vontade de o ler. As palavras do autor fizeram-me abrir a primeira página.

Partilho alguns momentos desta apresentação. Ao som de Moonspell - The Last of Us (Extinct, 2015). Fotografias de Gil Cardoso

A escrita de José Luís Peixoto encanta-me sempre, se calhar encanta-me cada vez mais. Revejo-me numa espécie de honestidade nas suas palavras, como se não tivesse medo de se dar, de se mostrar, sempre um pouco mais em cada livro.

Não que fiquemos a saber se ele acredita ou não nas Aparições de Fátima depois de ler Em Teu Ventre. Mas este livro também não é sobre as Aparições. É sobre as Mães, segundo o próprio. Eu não sei se é só sobre as Mães. Há uma frase que não me largou durante toda a leitura do livro. Passava as páginas e pensava recorrentemente “é só uma criança”. Refiro-me a Lúcia, a personagem real que vive nestas páginas como uma possibilidade do que pode ter sido. Convenceu-me de que pode mesmo ter sido assim, e tenho para mim que isso já diz muito a favor do livro.

A narrativa é perfeita. Não me vou alongar neste ponto pois vou acabar a tecer os mesmos elogios de sempre. Perfeita mas não linear. Na verdade é interrompida várias vezes. Há uma espécie de voz de consciência que se vai atravessando no caminho, uma voz zangada, por vezes desiludida. Eu reconheci aquelas frases de mãe desiludida que nos ficam na cabeça anos a fio, e depois, vindas do nada, atravessam-se na nossa mente e recordam-nos os erros e as dores de cabeça que lhes demos. É uma coisa recorrente e real porque não controlamos este tipo de pensamentos, e a forma como surge no texto, no momento certo, é um tiro certeiro que nos faz sentir coisas esquecidas, parar para pensar e, muitas vezes, sair do livro e recordar. Uma ideia que funciona muito bem.

Ao mesmo tempo, e talvez para equilibrar esta voz da mãe “malvada”, há uma voz divina que surge em frases perfeitas. É a primeira voz deste livro. É, possivelmente, a voz que as Mães querem ser. Mas depois há aquele pormenor de as Mães serem humanas, e é difícil conciliar a perfeição com essa característica plena de falhas.

Talvez me esteja a deter demasiado tempo na forma, deixando de lado o conteúdo, mas o conteúdo é uma história conhecida enriquecida com palavras que a fazem uma versão credível. A forma foi o que mais me fez pensar. O que mais me agradou. O que mais me encantou. É a forma que permite que o leitor participe neste livro. Se identifique. Pense.

Adorei! Recomendo muito!

“(Todas as pessoas têm direito a descanso, menos as mães. Para cada tarefa, profissão ou encargo há direito a uma folga, menos para as mães. Se alguma mãe demonstrar a mínima fadiga de ser mãe, haverá logo uma besta, ignorante de limpar baba e de parir, que se oferecerá para a pôr em causa. Não é mãe, não sabe ser mãe, não foi feita para ser mãe, dirá. Mas, se todas as pessoas têm direito a descanso, será que as mães não são pessoas? A culpa é nossa. Sim, a culpa é das mães. Deixámos que fossem os filhos a definir-nos.)” Pág. 27;

“(Talvez porque escreves livros, pareces convencido de que toda a gente precisa de saber ler. Não creias, há ignorâncias muito piores. Eu sei que é triste sermos obrigados a ficar do lado de fora, sem autorização, como se quisessem fazer-nos ver que não temos a valia dos outros. Conheço bem essa ofensa, acredita. Mas repara em tantas vidas que prosperaram sem uma letra, repara também em quantos sabem ler e nunca chegam a passar de imbecis.)” Pág. 83;

Sinopse

“«Mãe, atravessas a vida e a morte como a verdade atravessa o tempo, como os nomes atravessam aquilo que nomeiam.» Numa perspetiva inteiramente nova, Em Teu Ventre apresenta o retrato de um dos episódios mais marcantes do século XX português: as aparições de Nossa Senhora a três crianças, entre maio e outubro de 1917. Através de uma narrativa que cruza a rigorosa dimensão histórica com a riqueza de personagens surpreendentes, esta é também uma reflexão acerca de Portugal e de alguns dos seus traços mais subtis e profundos. A partir das mães presentes nesta história, a questão da maternidade é apresentada em múltiplas dimensões, nomeadamente na constatação da importância única que estas ocupam na vida dos filhos. O sereno prodígio destas páginas, atravessado por inúmeros instantes de assombro e de milagre, confere a Em Teu Ventre um lugar que permanecerá na memória dos leitores por muito tempo.”

Quetzal, 2015

Dezembro 29, 2015

A Mãe Que Chovia - José Luís Peixoto - Opinião

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Este é um dos livros do meu Natal. O único que li na mesma noite em que o recebi. Depois disso já o li mais duas vezes. E não me canso. E ainda me surpreendo a cada nova leitura.

O melhor dos livros para crianças, e o principal motivo porque me perco por eles, é a rapidez com que se lêem, dizendo tanto apenas em algumas frases. Apesar disso, raramente são lineares ou simples, há sempre qualquer coisa de escondido, um significado oculto ou dúbio que me deixa feliz por o descobrir, ou achar que o descobri.

Este conceito associado à beleza da escrita do José Luís Peixoto, que tem o dom de me fazer apaixonar por tudo o que escreve, faz com que, de cada vez que abro este livro, não consiga evitar ler (novamente) até ao fim. E termino sempre maravilhada com a simplicidade das ideias e das palavras que, conjugadas, têm uma força incrível. E assim teria de ser para escrever sobre uma Mãe tão especial como esta. Como são todas as Mães.

“A mim, que sou teu filho, teu filho, deste-me toda a vida que tenho e dás-me sempre o teu amor mais brilhante. Mesmo quando estou onde não podes estar, mesmo quando estás onde não posso estar, sabemos bem o tamanho da certeza que nos une. Eu tenho a certeza de ti, tu tens a certeza de mim. Amor, essa palavra. Mãe, choves essa palavra dentro de mim.” (Pág. 59).

 Sinopse

“O protagonista do primeiro livro infantil de José Luís Peixoto é filho da chuva. Com uma mãe tão original, tão necessária a todos, tem de aprender a partilhar com o mundo aquilo que lhe é mais importante: o amor materno. Através de uma ternura invulgar, de poesia e de uma simplicidade desarmante, este livro homenageia e exalta uma das forças mais poderosas da natureza: o amor incondicional das mães.”

Quetzal, 2012

Dezembro 13, 2015

Gaveta de Papéis - José Luís Peixoto - Opinião

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Apenas uma ou duas linhas para dizer que adorei este livro. E não importa que seja pouco o que eu diga ou escreva. Importa o que ficou comigo depois de o ler.

O que ficou aquece-me por dentro, como um copo de vinho numa tarde de Inverno.

Chove. O vento é forte e ruidoso. Cá dentro aconchego-me num cobertor de palavras.

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(Pág. 53)

Quetzal, 2011 

Outubro 08, 2015

O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, Anotado por José Luís Peixoto, Ilustrado por Hugo Makarov

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Li O Principezinho pela primeira vez aos treze anos. Desde então reli-o algumas vezes. Coisa que raramente faço, porque há sempre outros livros em espera e o tempo é pouco, porque a curiosidade por uma leitura nova tem-se sobreposto sempre ao prazer de visitar um velho amigo.

O facto de, por vezes o tirar da estante, e me dedicar à mesma viagem com o fascínio da primeira leitura, faz com que este seja dos livros que tenho como mais especiais. Assim é com milhões de pessoas, pois parece que este é o livro mais traduzido depois da Bíblia. Agradeço esta informação ao José Luís Peixoto e às suas anotações nesta edição especial linda, linda, linda.

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Esta edição está francamente espectacular, capas duras em tecido preto dão-lhe um ar sofisticado, o que poderá chocar alguns leitores por se distanciar tanto do livrinho a que nos habituámos, simples e bonito, ilustrado pelo próprio Saint-Exupéry. As ilustrações de Hugo Makarov são, quanto a mim, soberbas. Encheram-me o imaginário com as mesmas personagens e cenários, mas mais fortes, mais cheias de cor e expressões, de vontades e desejos nos olhos que brilham, sonham, suspiram, questionam e viajam.

É tudo igual mas ao mesmo tempo tão novo. A mancha do texto é rodeada por apontamentos sobre o autor, o livro, as personagens, curiosidades e, por vezes, divagações de José Luís Peixoto sobre qualquer detalhe da história, como paralelismos da narrativa com a vida de Saint-Exupéry, que muitas vezes podem ser meras suposições, ideias soltas ou pequenas divagações.

Veste-se um livro maravilhoso com uma nova arte. Nada muda na essência de O Principezinho, nem tal coisa se pretende, mas conseguiu-se, a meu ver, uma homenagem bonita a um dos mais fantásticos livros para crianças-adultas.

Comprei o meu com o Expresso de 2 de Outubro por mais € 9,90. Recomendo que não deixem escapar o vosso com a Visão de 8 de Outubro. Atenção que é HOJE!

 

Abril 26, 2015

Morreste-me - José Luís Peixoto - Opinião

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Sessenta páginas que se lêem rapidamente, mas que provocam efeitos colaterais profundos. Descrever a caminhada final do pai doente, o sofrimento da família, e os seus próprios sentimentos é algo que eu estranho, por ser tão íntimo, mas ao mesmo tempo admiro, porque há-de requerer uma qualquer espécie de coragem contar a toda a gente o privado sofrimento da morte.

Não é ficção. Aconteceu. Foi o primeiro livro de José Luís Peixoto e, mesmo contando que tenha tido uns aperfeiçoamentos pelo caminho (a edição que li é de 2009), é revelador do talento admirável de colocar em palavras sentimentos que nem sempre sabemos pensar, falar, ouvir e, inevitavelmente, escrever. Quem sabe, escrever para ele seja o mais fácil, e por isso o tenha feito, não só como homenagem, mas como necessidade.

É sempre uma carga de nervos escrever sobre quem escreve tão bem. Porque nunca chega. Nunca presta. Nunca saberei exprimir como, em certas páginas, me senti a morrer um pouco, com descrições tão breves, mas pungentes, do que é acompanhar alguém que morre todos uns dias mais um bocado, que sofre num hospital, fazendo a família sangrar por dentro. Mas, ao mesmo tempo, surge a recordação do pai vivo e a felicidade da infância, contrapondo, de forma dura, a ausência numa casa que fica vazia.

Um livro intenso, por vezes violento, que se lê com um prazer imenso, como só se podem ler todos os livros excepcionalmente escritos.

“Comigo, a casa estava mais vazia. O frio entrava e, dentro de mim, solidificava. As várias sombras da sombra de mim, imóveis, passeavam-se de corpo para corpo, porque todos eles, todos meus, eram igualmente negros e frios. E abri a janela. Muito longe do luto do meu sentir, do meu ser, ser mesmo, o sol-pôr a estender-se na aurora breve solene da nossa casa fechada, pai. E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os dias? Assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.” (Pág. 19)

“Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras.” (Pág. 20)

Sinopse

“Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora.”

Quetzal, 2009

Lido através de Roda dos Livros – Livros em Movimento

Maio 01, 2013

Dentro do Segredo - José Luís Peixoto - Opinião

 

“Dentro do Segredo” não será certamente o livro mais sério sobre a Coreia do Norte. A estranheza dos acontecimentos, relatados pelo espírito crítico do autor, várias vezes me fizeram sorrir. Para logo a seguir meditar sobre a tristeza de tantas mentiras; um povo que acredita, ou tem de acreditar, naquilo que de imediato consideramos falso.

Há situações que chegariam a ser hilariantes se não fossem verdade. Locais tão estranhos e improváveis como os seus nomes sugerem, como o Museu da Amizade Internacional, ou uma total devoção ao Grande Líder que obriga a vénias por tudo e por nada, e uma das minhas favoritas, comemorar o aniversário do Grande Líder depois de morto, considerando que viverá para sempre.

Não encontrei neste livro o brilhantismo literário de José Luís Peixoto, mas a verdade é que esta descrição objetiva manteve-me focada no tema e fez-me analisar constantemente as particularidades deste país. Não há distrações para uma envolvência literária superior, o autor mostra a sua polivalência numa narração que não desvia as atenções do seu propósito.

Um livro de viagens muito bem conseguido para quem aprecia o género, o que é o meu caso.

Uma leitura Roda dos Livros – Livros em Movimento.

Sinopse

“Desde o interior da ditadura mais repressiva do mundo, desde um país coberto por absoluto isolamento, Dentro do Segredo. Em abril de 2012, José Luís Peixoto foi um espectador privilegiado nas exuberantes comemorações do centenário do nascimento de Kim Il-sung, em Pyongyang, na Coreia do Norte. 
Também nessa ocasião, participou na viagem mais extensa e longa que o governo norte-coreano autorizou nos últimos anos, tendo passado por todos os pontos simbólicos do país e do regime, mas também por algumas cidades e lugares que não recebiam visitantes estrangeiros há mais de sessenta anos. 
A surpreendente estreia de José Luís Peixoto na literatura de viagens leva-nos através de um olhar inédito e fascinante ao quotidiano da sociedade mais fechada do mundo. Repleto de episódios memoráveis, num tom pessoal que chega a transcender o próprio género, Dentro do Segredo é um relato sobre o outro que, ao mesmo tempo, inevitavelmente, revela muito sobre nós próprios.”

Quetzal, 2012

Julho 11, 2012

Livro - José Luís Peixoto - Opinião

Não foi por colocar em causa a qualidade da escrita de José Luís Peixoto que não tinha ainda lido um romance dele. Ou melhor, concluído um romance. Pois que a verdade é que iniciei a leitura de “Uma Casa na Escuridão” quando foi editado, mas a densidade da narrativa impressionou-me de tal modo que não cheguei à última página.

Vim a acompanhar algumas das crónicas de opinião que publica/publicou em alguns jornais e revistas, gosto de ir ao blogue dele e saber em quantas mais línguas está a ser publicado, orgulha-me o seu sucesso. Gosto dele, pronto. Sabe escrever.

Finalmente li “Abraço”. Foi tudo o que eu esperava e muito mais. Uma coleção de textos que me deliciaram por me identificar com alguns ou só porque me delicio com a escrita do Peixoto. Mas enfim, romances ainda nada.

Mas chegou o dia de tirar “Livro” da estante. Estas coisas não têm grande explicação, saltou-me para as mãos e comecei. E então fui lendo, percorrendo as páginas de uma escrita belíssima (como já sabia que ía ser). A pouco e pouco fui juntando as peças de uma história, conhecendo os personagens e a forma como se relacionam. Nem tudo é dito (escrito), gosto da margem que o autor dá para imaginar e construir o que fica por dizer; ajuda a visualizar e principalmente a criar, para mim, este “Livro”.

Não é o primeiro livro que leio sobre os anos da emigração para França, sobre a forma como os portugueses empreendiam uma verdadeira odisseia para chegar a um país diferente, onde não eram bem recebidos, faziam o trabalho que mais ninguém queria, mas mesmo assim lá íam conseguindo ter algumas coisas e construir o que o nosso país não lhes permitia obter.

“Livro” não é só isso. É um relato muito bom dessa situação mas vive das personagens e do inesperado, dos encontros e desencontros, do amor oprimido, fugido e desencontrado, das histórias do passado que explicam o presente, e do futuro que acaba por nos levar ao ponto de partida. Não é simples. Ainda bem. Requer dedicação e atenção. “Livro” é um livro a ser acarinhado, que quando pensamos que já deslindámos tudo se revela e surpreende, e percebemos o que realmente é. “Livro” é um círculo, um caminho que se percebe no fim.

Adorei a caracterização das personagens e dos seus modos, da linguagem, perfeitamente adequada aos anos e locais. Começamos em 1948 numa terra pequenina em Portugal. Os diálogos, os pensamentos, a maneira de estar… é tudo tão português, tão de época. Que sei eu? Não vivi nessa época. Mas o autor também não e foi para lá, e levou-me para lá também. Convenceu-me de tudo, acredito que foi mesmo assim. Que o amor de Adelaide e Ilídio os castigou, que os desencontros os fizeram desaparecer mas nunca esquecer, que uma história que começa com um livro, que se chama livro tem de chegar ao fim e… criar, acrescentar e enriquecer quem a lê.

Complexo? Não, muito simples. Muito bonito. Mesmo.

Sinopse

“Este livro elege como cenário a extraordinária saga da emigração portuguesa para França, contada através de uma galeria de personagens inesquecíveis e da escrita luminosa de José Luís Peixoto. Entre uma vila do interior de Portugal e Paris, entre a cultura popular e as mais altas referências da literatura universal, revelam-se os sinais de um passado que levou milhares de portugueses à procura de melhores condições e de um futuro com dupla nacionalidade. Avassalador e marcante, Livro expõe a poderosa magnitude do sonho e a crueza, irónica, terna ou grotesca, da realidade. Através de histórias de vida, encontros e despedidas, os leitores de Livro são conduzidos a um final desconcertante onde se ultrapassam fronteiras da literatura.”Livro” confirma José Luís Peixoto como um dos principais romancistas portugueses contemporâneos e, também, como um autor de crescente importância no panorama literário internacional.”

Quetzal, 2011

Janeiro 01, 2012

Abraço - José Luís Peixoto - Opinião

 

Comecei uma vez a ler um livro do José Luís Peixoto.”Uma Casa na Escuridão”. Nunca o terminei. Reconheci de imediato o génio mas não consegui ler tanto horror. Fraca? Eu? Talvez. Li quase tudo, só pela escrita brilhante, não pela história que me trouxe tristeza. Nunca li nenhum outro livro do autor mas acompanho o seu trabalho e reconheço o brilhantismo. Até que chegou este “Abraço” e soube logo que tinha sido escrito para mim. Não é pretensão é certeza. Eu sabia que depois de o ler haveria um click qualquer, começou logo na primeira página.

Eu nem conheço O José Luís Peixoto, só estive com ele uma vez em 2003, numa sessão de apresentação do dito “livro de horrores”. Havia muitos lugares vazios, ele ainda não era muito conhecido, nada que se compare às filas e filas de pessoas que vejo actualmente nas Feiras do Livro.

O meu livro está autografado e tem dedicatória. Infelizmente não cheguei à luz que o autor citou. Se calhar ainda há-de chegar o dia de ler esse livro.

O José Luís Peixoto é escritor, mas escritor mesmo a sério. Acompanho a sua carreira, o seu blogue, as suas crónicas na revista Volta ao Mundo, mas só agora voltei a um livro dele e encontrei uma escrita intimista que me agrada, que fala de tudo e de nada, do quotidiano, dos filhos, do amor, da família, das viagens, um livro de experiências que, pela sua intimidade, me fez estar próxima de uma pessoa que nem conheço. Louvo a coragem do José Luís, de se dar assim a todos os leitores, de nos entregar as suas intimidades e pensamentos ocultos, os segredos da juventude, as experiências que todos partilhamos mas guardamos só para nós.

Li devagar, um pouco de cada vez para que nunca mais terminasse tanta beleza, tanta perfeição na conjugação das palavras e construção de frases. Estou em fase de encantamento. Um livro que me marcou por ser perfeito. Que me mostrou que é possível escrever sobre qualquer coisa desde que se tenha o dom. Estou feliz!

Sinopse

“A infância, o Alentejo, o amor, a escrita, a leitura, as viagens, as tatuagens, a vida. Através de uma imensa diversidade de temas e registos, José Luís Peixoto escreve sobre si próprio com invulgar desassombro. Esse intimismo, rente à pele, nunca se esquece do leitor, abraçando-o, levando-o por um caminho que passa pela ternura mais pungente, pelo sorriso franco e por aquela sabedoria que se alcança com o tempo e a reflexão. Este é um livro de milagre e de lucidez. Para muitos, a confirmação. Para outros, o acesso ao mundo de um dos autores portugueses mais marcantes das últimas décadas”

Quetzal, 2011