Outubro 05, 2011
Marina - Carlos Ruiz Zafón - Opinião
Foi a segunda vez que peguei neste livro para ler. Na primeira vez avancei poucas páginas, senti que não iria absorver como gostaria e preferi esperar. Esperar por uma fase de maior e melhor concentração para entregar a este livro toda a minha atenção.
Foi uma decisão acertada. Chegou o dia em que me apetecia mesmo ler “Marina”.
Iniciei a leitura e fiquei logo rendida com a beleza das frases e com a brilhante conjugação de palavras. É estranho mas por vezes perdia-me no curso da narrativa de tão maravilhada ficava com a forma como o autor descreve tudo. Já não sabia ao certo qual o curso dos acontecimentos de tanto aproveitar e sentir a perfeita dança das palavras. Para de novo me enquadrar voltei muitas vezes atrás, o que pode parecer aborrecido tornou-se um prazer dobrado, pois uma e outra vez lia passagens muito belas.
Não resisto a transcrever um exemplo:
“Um manto de folhas secas cobria o empedrado. Sombras gelatinosas estendiam-se à nossa volta à medida que penetrávamos no mato. A erva assobiava ao vento e o rosto da Lua sorria por entre frestas no céu. Ao cair da noite, a hera que cobria a estufa fez-me pensar numa cabeleira de serpentes. Demos a volta à estrutura do edifício e encontrámos a porta traseira. A chama de um fósforo revelou o símbolo de Kolvenick e da Velo-Granell encoberto pelo musgo. Engoli em seco e olhei para Marina. O seu rosto emanava um brilho cadavérico.” (pág.100)
Era inevitável iniciar esta leitura sem estar um pouco influenciada por outras opiniões. No geral os leitores gostaram menos deste livro em comparação com “A Sombra do Vento” e “O Jogo do Anjo”. Estava portanto preparada para uma leitura que me deixasse um pouco aquém dos livros que já tinha lido, apesar de “Marina” ser, curiosamente, o livro preferido do autor. Escrito antes, parti para esta descoberta sentindo que, de alguma forma, estava em mãos com a “base” do que é o estilo de Zafón.
“Marina” em nada me desiludiu, antes me surpreendeu por ter gostado tanto de o ler. Sem dúvida diferente mas nem por isso inferior aos livros de maior sucesso. Na mesma linha “sombria”, trata-se de um livro de um mistério tão denso como o nevoeiro que por vezes senti envolver as personagens deste livro. Se havia nevoeiro em Barcelona? Não sei, mas muitas vezes senti esta leitura como uma nuvem espessa que necessitava de atravessar para chegar lá, lá onde estavam Óscar e Marina.
Não vou referir esta história, mais uma vez concluo que isso é o que menos interessa. A escrita única de Zafón absorve tudo, qualquer história, qualquer conto, para nos deixar embriagados com este perfeito ilusionismo das palavras.
Mas deixo umas pistas: segredos, perseguições, morte, doença, amizade, amor, espionagem, sofrimento, saudade, está lá tudo, leiam e deixem-se levar.
E claro, o palco! Essa fantástica cidade que é Barcelona.
Sinopse
Marina, tal como a obra que consagrou Zafón, é um romance mágico de memórias, escrito numa prosa ora poética ora irónica, assente numa mistura de géneros literários (entre o romance de aventuras e os contos góticos) e onde o passado e o presente se fundem de forma inigualável.
Classificado pela crítica como «macabro, fantástico e simultaneamente arrebatador», Marina propõe ao leitor uma reflexão continuada sobre os mistérios da condição humana através do relato alternado de três histórias de amor e morte.
Ambientada na cidade de Barcelona, a história decorre entre Setembro de 1979 e Maio de 1980 e depois em 1995 quando Óscar, o protagonista, recorda a força arrebatadora do primeiro amor e as aventuras com Marina, recupera as anotações do seu diário pessoal e revisita os locais da sua juventude.
«Marina disse-me uma vez que apenas recordamos o que nunca aconteceu. Passaria uma eternidade antes que compreendesse aquelas palavras. Mas mais vale começar pelo princípio, que neste caso é o fim.»
Planeta, 2010