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planetamarcia

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Março 16, 2014

O Herói Discreto - Mario Vargas Llosa - Opinião

 

Ler algo de Vargas Llosa oferece-me uma espécie de garantia desde que abro a primeira página. Um dos meus escritores favoritos, que me consegue levar sempre numa exclusiva viagem de palavras.

“O Herói Discreto” é mais um brilhante livro do autor, que me proporcionou excelentes momentos de leitura e uma espécie de revisitação a um dos meus personagens favoritos de sempre, o peculiar D. Rigoberto.

Uma narrativa em dois espaços alternados capítulo a capítulo. A história de Felícito Yanaqué, um verdadeiro herói, íntegro, corajoso, honesto, de aparência frágil mas na verdade um duro que não cede aos princípios em que sempre regeu a sua vida; é por isso discreto, reservado, inesperado, e mesmo surpreendente na forma como reage a sucessivas ameaças de um grupo de chantagistas que lhe tenta extorquir dinheiro de destruir o negócio que toda a vida lutou por construir e manter.

À medida que Felícito avança, ajudado pelas autoridades, na investigação de quem está por trás das ameaças, o leitor vai sendo verdadeiramente brindado com os capítulos dedicados a D. Rigoberto, esse expoente do hedonismo, dos prazeres carnais, intelectuais e, acima de tudo, mundanos. Continuam os jogos de prazer com a sua amada Lucrécia, assim como as confusões com Fonchito, sempre a encontrar novas formas de fazer perder a cabeça ao pai e à madrasta.

Estive praticamente todo o livro a pensar onde é que D. Rigoberto se iria cruzar com Félicito. Tão diferentes e geograficamente distantes, vivendo realidades tão díspares, cheguei a pensar que não haveria qualquer relação…e na verdade D. Rigoberto é de tal modo excêntrico e único que nem precisa de motivos para surgir, um personagem que o é mesmo sem palco, que existe perfeitamente só, e encontra lugar na história de qualquer herói (discreto ou não).

Mas o que mais guardo deste livro é a habilidade de Llosa de contar uma história. Ou melhor, de contar várias histórias, ao mesmo tempo, misturando diálogos de conversas actuais com situações passadas, saltando entre uma e outras com uma habilidade admirável e sem nunca deixar o leitor perdido entre acontecimentos.

Escrever bem é, sem dúvida, fruto de trabalho, prática, insistência, solidão. Mas quando se tem o dom, junta-se tudo como pura magia.

Sinopse

“Felícito Yanaqué é um homem de cinquenta anos, respeitado pela comunidade e proprietário de uma empresa de transportes que fundou e fez prosperar na cidade de Piura, no noroeste do Peru. Sem instrução, oriundo de uma família pobre e gestor cuidadoso dos seus bens, Felícito conquistou tudo a pulso, de uma forma tranquila, discreta e constante, atributos que se poderiam também aplicar à sua personalidade. Casado, com filhos já adultos, Felícito Yanaqué mantém uma amante de longa data, exuberante beleza da cidade. E também outra relação - não de natureza sexual - com Adelaida, uma vidente cujo conselho Felícito segue quase sempre, quer se trate de negócios ou de matéria puramente pessoal ou, mesmo, íntima.
Tudo corre bem na sua cidade; tudo normal. Só que Felícito Yanaqué começa a receber cartas anónimas de extorsão; e quando a ameaça de represálias passa à concretização, Yanaqué decide resistir a tudo isto sem apoio, estoica e discretamente. Como um herói.
Depois da atribuição do Prémio Nobel, do romance O Sonho do Celta ou de A Civilização do Espetáculo (conjunto de ensaios sobre o estado da cultura na atualidade), Mario Vargas Llosa regressa agora com um extraordinário e invulgar romance que relembra os cenários, os personagens e alguns dos temas dos seus livros fundadores - a coragem, o medo e a necessidade de resistir a novas formas de injustiça e de maldade.”

Quetzal, 2013

Uma leitura Roda dos Livros – Livros em Movimento

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