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planetamarcia

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Julho 28, 2015

O Caso do Cadáver Esquisito - Vários Autores - Opinião

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E foi num pedaço de uma tarde que me deliciei com este livro. Patrícia Portela, Afonso Cruz, Miguel Castro Caldas, Joana Bértholo, Paulo Condessa, Sandro William Junqueira, Luís Caminha, Jacinto Lucas Pires, Ondjaki, Rita Taborda Duarte e Pedro Medina Ribeiro dão voz a esta novela policial. A cada autor o seu capítulo, um excelente trabalho de imaginação em que cada um “pega” no história onde o autor anterior a deixou.

Temos assim um argumento pejado de crimes com desfecho imprevisível, pois que a narrativa segue a orientação de quem, no momento, “manda” na história. Certamente um desafio e uma experiência muito interessantes para quem escreve, mas para quem lê é realmente divinal. Gostei muito de apreciar as reviravoltas, a forma como, em capítulos tão pequenos o percurso da narrativa muda radicalmente. O final de cada capítulo tem sempre uma espécie de “isco” de continuidade, que é “agarrado” da forma que cada um quer, que não será certamente a imaginada por quem lançou o “isco”.

A imprevisibilidade dá uma sensação de liberdade revigorante, e o “ser dono do seu capítulo” não individualiza a obra, ao contrário, partilha-a. Uma partilha entre os autores, que se devem ter divertido à brava a construir tudo isto (e a destruir também, pois ainda ficam uns cadáveres esquisitos pelo caminho), e também com os leitores, que assistem de camarote a um fantástico trabalho de criatividade.

Eu gostei bastante e tenho pena que livros como este sejam difíceis de encontrar. A mim emprestaram-mo, obrigada Ana, e penso que quem quiser terá de contactar a Associação Cultural Prado. Leiam e divulgem. Merece o vosso interesse.

Ilustrações de Maria João Lima

Deixo-vos o vídeo delicioso da apresentação deste livro.

Sinopse

“"O Caso do Cadáver Esquisito" é um livro escrito a 24 mãos (11 escritores e 1 designer) que relata o caso de um detective português que encontra numa série de crimes peculiares – e nas misteriosas inscrições gravadas nos corpos das vítimas – a razão de ser da sua natureza: de poeta... e de assassino. Uma novela policial edificada sobre os pilares da fórmula surrealista cadavre exquis, reunindo debaixo ou dentro da mesma capa o contributo de alguns dos mais promissores e mais curiosos/esquisitos autores da língua portuguesa da actualidade.

Autores: Afonso Cruz, Jacinto Lucas Pires, Joana Bértholo, Luís Caminha, Maria João Lima (grafismo), Miguel Castro Caldas, Ondjaki, Patrícia Portela, Paulo Condessa, Pedro Medina Ribeiro, Rita Taborda Duarte, Sandro William Junqueira. Edição e produção Prado: Isabel Garcez, Helena Serra, Patrícia Portela e Pedro Pires.”

Associação Cultural Prado, 2011

Uma leitura Roda dos Livros - Livros em Movimento

Julho 26, 2015

Revista Gerador #5 - A Minha Aldeia é Maior do que a Tua!

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Sou leitora da Revista Gerador desde a #1. Gosto do conceito. Gosto da importância que atribui à cultura portuguesa, declarando-lhe amor, valorizando-a e levando-a até ao público. A todo o público, transversalmente.

Um ano em quatro revistas passou depressa. Revistas que são um pouco como livros, ou talvez uma espécie de almanaque. Todas diferentes. Possíveis peças de colecção para os que a elas se afeiçoam, relêem e recordam, ou de uma só leitura para os mais desprendidos, que as passam a outros leitores. Únicas nos temas e conteúdos, frutos de quem participou e deu, uma parte de si, para o resultado final.

A Gerador #5 já chegou. Tenho-a aqui comigo e deixo escapar o sorriso por haver também um bocadinho de mim desta vez. Fui para a aldeia, para a minha aldeia, que é maior do que a tua, que pode estar dentro da cidade e continuar a ser aldeia. Que está dentro de mim. Ou então fui eu que fiquei sempre dentro da aldeia.

A minha crónica nasce de uma leitura, é o resultado daquilo que um livro meu deu. Mas na verdade, depois percebi, é algo que eu já tinha, só que guardado. Portanto, se calhar, o livro só me acordou.

Obrigada à Gerador por dar espaço às minhas palavras, por me incluir num painel extraordinário. É um orgulho participar neste projecto.

Levem a Gerador #5 convosco. Esta edição está (também) linda.

Muitos parabéns por este ano de Gerador!

Julho 22, 2015

Cidades de Papel, de John Green - O filme

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Gosto de livros e gosto de filmes. Nem sempre gosto dos filmes vistos depois dos livros lidos. É comum a quem gosta muito de livros, parece.

Não li “Cidades de Papel”. Ontem vi o filme. Ante-estreia a convite da Editorial Presença, que se transformou num convívio quase familiar de blogues. Fui para um filme de adolescentes no fim de um dia de trabalho para crescidos, e saí de lá com a sensação que não cresci assim tanto. Cá dentro, a vontade perseguir impulsos e correr pela sensação mágica de viver, fez-me gostar tanto da Margo que os nossos cerca de vinte anos de diferença foram fumo. Não se sonha demais. Não se pode pensar tal coisa. Vou tentar não esquecer.

Informações sobre o livro aqui.

Julho 14, 2015

D. Quixote - Roubados, de Robert Wilson

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Londres, Janeiro de 2014. No espaço de 32 horas, seis crianças são raptadas das ruas da capital quase sem deixar rasto. Porém, não se trata de crianças escolhidas ao acaso. Os miúdos desaparecidos são descendentes dos mais ricos, filhos e filhas da elite internacional. Do outro lado da cidade, uma jovem entra nos escritórios da Fundação LOST, pertencente a Charles Boxer. Boxer sabe muito bem o que é perder aqueles que mais se ama, e é incapaz de recusar o pedido da jovem para que encontre o seu pai. A polícia destacou a sua melhor equipa para o caso dos raptos – incluindo Mercy, a ex-mulher de Boxer –, todavia um acontecimento daquele calibre significa que também a CIA, o MI5 e o negociador privado dos pais quererão estar envolvidos.

Contudo, descobrir a identidade dos raptores, de que forma possuem a capacidade e os recursos necessários para raptarem algumas das mais bem guardadas pessoas do país e aquilo que desejam realmente, são questões cuja resposta pode ter um preço demasiado alto.

Nas livrarias a 28 de Julho

Julho 08, 2015

O Dia em Que o Sol Se Apagou - Nuno Gomes Garcia - Opinião

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“O Dia em Que o Sol Se Apagou” recordou-me que os livros se devem apreciar devagar. Que a leitura lenta é um prazer. Que a releitura de algumas passagens é uma nova descoberta.

De tudo isto me tinha esquecido há anos, deixando-me pressionar pelo interesse nos livros por ler, deixando-me levar pelo desejo de saber o final, querendo simplesmente ler rápida e sofregamente, para ler sempre mais e mais livros. Possivelmente é chegada a hora de deixar de coleccionar leituras. É talvez a hora de aprender realmente a ler. Como quando se aprende a apreciar vinho, e se percebe, com o tempo, o que se ganha em esperar.

Como um bom vinho, este Sol que Se Apaga, tem o seu tempo de degustação. Degustei o primeiro capítulo várias vezes. E a habilidade da escrita permitiu-me lê-lo de várias formas diferentes, conforme avançava na leitura. Desde a primeira vez, achando que não fazia sentido, a segunda tendo claramente encontrado um erro cronológico grave, e tantas vezes lá voltei para confirmar, certificar, apurar, e concluir que tudo bate certo, não há erros, há sim um romance desafiador, construído de forma brilhante, e que, para minha sorte, tem algumas das coisas que eu mais gosto num livro: História, viagens, muito mistério e alguma fantasia. Esta última, na verdade, não sabia que gostava. Possivelmente, neste caso, gostei por ser dada em doses controladas e cuidadas, quase parecendo realidade. O poder de um livro pode medir-se pela forma como o impossível, ou pouco provável, é um dado adquirido de realidade para quem lê. Como um menino a quem roubaram os olhos existir, depois de ter cegado gente com o brilho do olhar.

Este é um romance que se apoia em factos históricos de forma rigorosa, revelando um cuidado na linguagem, adequada à época. Viajei com Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva descobrindo locais exóticos onde o prazer nunca é excessivo, mas ao mesmo tempo fiquei num Portugal tacanho e sombrio, país de alma doente e fechada. Uma narrativa que, ao mesmo tempo que segue a linha esperada, se desvia do que é espectável, em saltos de espaço e tempo, obrigando a uma atenção, a uma participação activa para seguir os acontecimentos. Parece algo complexo e difícil. Mas não. É fácil. Torna-se um projecto, uma vontade, um tem de ser porque se lê com tanto gosto. Um prazer desafiante, muito mais profundo do que parece à partida, e com uma actualidade surpreendente.

Um livro que, estou certa, ninguém lerá da mesma forma. Por permitir criar tantos cenários de possibilidade, por oferecer várias interpretações, por não se esgotar.

Excelente. Recomendo sem reservas.

“- O mundo apequena-se a cada expiração que damos ou a cada passo que percorremos – expliquei-lhe. – E novas terras são descobertas todos os dias.” (Pág. 225).

Sinopse

“No dia 26 de março de 1487 o sol apaga-se subitamente no reino de Portugal. Sem explicação para tão súbitas trevas - que uns atribuem à maldade castelhana e outros à heresia dos judeus -, D. João II envia dois espiões em demanda da solução que restitua a luz ao País e evite o seu definhamento. Com Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva irá também, guardado num estojo, um par de olhos de diamante que outrora pertenceram a um menino chamado Mil-Sóis, cujo olhar cegava quem o encarasse, e que são a peça fundamental desta missão.
Enquanto Pêro da Covilhã narra o seu périplo de Lisboa à Etiópia, das Índias ao reino do Monomotapa, de Meca a Sofala, quase sempre disfarçado de mouro e constantemente perdido em bordéis, Salvador - um embalsamador albino com um estranho passado - ficará de guarda à mulher do espião, por quem nutre há muito um amor secreto, e não cessará de procurar os olhos que possam devolver a luz ao seu irmão Mil-Sóis.
É uma obra fascinante que inventa um cataclismo improvável para reescrever o período áureo da História de Portugal. Um romance de luz e sombra, de avanços e recuos, que cruza fantasia com rigor histórico. E que, no final, responderá a duas questões essenciais: irá o Sol regressar a Portugal? É a Europa o lugar certo para que Portugal continue a existir?”

Casa das Letras, 2015