Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

planetamarcia

planetamarcia

Maio 29, 2015

Perguntem a Sarah Gross - João Pinto Coelho - Opinião

Perguntem a Sarah Gross.jpg

São quase cinco da manhã e pouso o livro. Faltam cerca de quarenta páginas para o final mas tenho de parar, guardo o que falta para amanhã, para daqui a umas quatro horas.

Sinto-me perturbada e nervosa. Emocionalmente desfeita. Quero terminar a leitura, preciso de terminar. A partir de uma certa altura torna-se impossível pousar o livro. E então aproveito. Aproveito esta sensação rara, mas muito desejada, de me deixar cair, a pique, para dentro de uma história que, por tão habilmente me mexer com as emoções, me encanta.

Procuro, em cada livro que começo, o que encontrei em “Perguntem a Sarah Gross”. A excelência é rara e, por isso, quando a encontro, ou quando sou por ela apanhada de surpresa, deixo-me levar. Esqueço-me de mim e vivo a entrega. Magoo-me e gosto do sofrimento. Abandono tudo e mantenho-me acordada para sentir o efeito de avançar mais uma página.

Este é o retorno que, quem ama os livros, procura. Saber que no meio da busca, entre livros que deixo a meio, os que já esqueci, e os que irei ler, aparece algo assim, capaz de me deixar sedenta de o terminar e ao mesmo tempo dar a mim própria mais uma dose de angústia guardando quarenta páginas, enganando-me, fazendo-o durar, só mais um pouco.

Não sou uma pessoa muito emocional. Se calhar por isso procuro, por vezes, nos livros, cenários que me levem um pouco mais longe, ao limite do sentir. Gosto que os livros me abalem, me deitem ao chão e me passem por cima. E é o esperado de um livro, mais um, sobre os horrores da II Guerra. Penso que o tema não ajuda a que os leitores procurem este livro. Porquê ler um livro de um novo autor, portanto desconhecido, sobre um assunto que já enche bibliotecas? Porque é que eu própria comprei este livro? Porque é que me tentou, me chamou e escolheu? Não sei, mas soube que, naquele dia, não podia voltar para casa sem ele.

Não tenho um livro favorito. Não sei qual é o livro da minha vida. Digo sempre que é o próximo. É uma busca exaustiva porque eu assim a mantenho, estou, inevitavelmente e sempre, à procura. Neste livro encontrei uma história bem contada, surpreendente, que se encaixa em factos históricos, deixando-se enriquecer pelas descrições de João Pinto Coelho. Não é o livro da minha vida porque não quero que a minha viagem acabe aqui, mas é certamente dos mais marcantes que li. Inesquecível e profundo. Um sobrevivente ao mundo descartável, imediato e acelerado em que vivemos. Eu, pelo menos, gostava muito que assim fosse. Não vos conto nada sobre a história porque merecem viver esta surpresa como eu a vivi.

Recomendo sem qualquer reserva.

Sinopse

“Em 1968, Kimberly Parker, uma jovem professora de Literatura, atravessa os Estados Unidos para ir ensinar no colégio mais elitista da Nova Inglaterra, dirigido por uma mulher carismática e misteriosa chamada Sarah Gross. Foge de um segredo terrível e procura em St. Oswald’s a paz possível com a companhia da exuberante Miranda, o encanto e a sensibilidade de Clement e sobretudo a cumplicidade de Sarah. Mas a verdade persegue Kimberly até ali e, no dia em que toma a decisão que a poderia salvar, uma tragédia abala inesperadamente a instituição centenária, abrindo as portas a um passado avassalador. 
Nos corredores da universidade ou no apertado gueto de Cracóvia; à sombra dos choupos de Birkenau ou pelas ruas de Auschwitz quando ainda era uma cidade feliz, Kimberly mergulha numa história brutal de dor e sobrevivência para a qual ninguém a preparou.
Rigoroso, imaginativo e profundamente cinematográfico, com diálogos magistrais e personagens inesquecíveis, Perguntem a Sarah Gross é um romance trepidante que nos dá a conhecer a cidade que se tornou o mais famoso campo de extermínio da História. A obra foi finalista do prémio LeYa em 2014.”

D.Quixote, 2015

Maio 27, 2015

Passatempo - A Espia do Oriente, de Nuno Nepomuceno

aespiadooriente.jpg

Depois do passatempo para o livro “O Espião Português”, de Nuno Nepomuceno, começa hoje o passatempo para o segundo volume da Trilogia Freelancer.

Mais uma vez com o apoio do autor, que desde já agradeço, podem ganhar 1 exemplar autografado do livro “A Espia do Oriente”.

Eu já li os dois livros, podem ler-se separadamente, apesar de, pessoalmente, eu achar que o leitor ganha em ler os dois livros pela ordem. Podem ler as minhas opiniões aqui e aqui. Eu estou convencida e aguardo o terceiro volume. Convido-vos a participar e a ficarem fãs desta Trilogia.

A acção deste livro decorre em várias cidades. Digam-me uma delas e considerem-se candidatos a ganhar este livro.

O Passatempo decorre até às 23h59 do próximo dia 6 de Junho.

As respostas deverão ser enviadas para o e-mail marciafb@net.sapo.pt , sempre com informação de nome e morada. O nome do premiado será anunciado aqui no blogue; o vencedor será também informado por e-mail.

Serão apenas aceites participações de residentes em Portugal, e uma por participante e residência.

O envio do prémio é da responsabilidade do autor.

Deixo-vos o booktrailer. Grande som dos Les Crazy Coconuts e pistas para responderem.

Boa sorte a todos! Participem!

Maio 26, 2015

A Rapariga no Comboio - Paula Hawkins - Opinião

ARC A Rapariga no Comboio.JPG

A promessa de “leitura compulsiva” e “thriller absorvente, perturbador e arrepiante” não se cumpriu para mim. Fiz uma leitura diferente deste livro, pelo menos diferente do que estava à espera.

Na minha opinião os pontos fortes não são os de um comum policial, que faz o leitor salivar até ao fim na busca de pistas para encontrar um culpado. Neste livro as pistas estão lá, dadas, para quem as quiser seguir. O culpado revelou-se-me na página cento e trinta, como certamente se terá passado com outros leitores. Para mim, esse não é o ponto forte de “A Rapariga do Comboio”, nem sei se terá sido esse o principal propósito da autora ao escrevê-lo. Encaro-o como um livro que vai ao âmago das relações humanas, e coloca em cima da mesa temas como a confiança, e o seu abuso na manipulação das fraquezas dos outros.

Rachel, que viaja de comboio duas vezes por dia, de manhã e à noite, olha o mesmo mundo todos os dias. Sentada à janela observa o que os olhos lhe mostram e cria cenários de vidas perfeitas, de casais felizes que habitam nas moradias familiares que acompanham a linha. Felizes como ela já foi. Um passado de recordações coladas à memória como fumo. A memória de Rachel atormenta-a, abandona-a, esconde-lhe a verdade por lhe apagar momentos, por lhe trazer o passado a espaços, com falhas que vão sendo preenchidas à medida das suas inseguranças.

O que recorda pode enganá-la. A sua vida pode ser o que a queiram convencer que seja. Assim como a mentira, dita tantas vezes, passa a ser verdade, Rachel é o que acredita ser verdade. Deprimida, refugia-se na bebida e no apagão que esta lhe provoca. Quando a sensação de fuga da realidade acaba fica o vazio, a tentativa vã de preencher momentos, de saber como chegou a casa naquela noite, em acha que esteve no local onde possivelmente tudo aconteceu.

Um livro que não descobri de imediato mas que me desafiou a continuar. E, chegada ao final, é muito mais do que me parecia ser.

Agradeço à Topseller por me ter incluído no grupo de bloggers que recebeu um exemplar de avanço para opinar antes do livro chegar às livrarias. Parabéns pela coragem e por não terem medo de arriscar.

Aos que me lêem, recomendo que procurem “A Rapariga no Comboio” a partir de 8 de Junho.

Sinopse

“Todos os dias, Rachel apanha o comboio... No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem. Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes e vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente.
Até que um dia... 
Rachel assiste a algo errado com o casal... É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada. 
Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afetando as vidas de todos os envolvidos.”

Topseller, 2015

Tradução de José João Leiria

Maio 24, 2015

Fim - Fernanda Torres - Opinião

fim.jpg

No último piquenique da Roda dos Livros não resisti a este livro. É da Cris e rodou para mim. Tive o palpite que me iria agradar muito e não me enganei. Penso que Fernanda Torres, com o seu humor inteligente e, por vezes, negro, não agradará a todos os leitores, afinal nem toda a gente achará graça a um livro que brinca com o fim, com a morte.

Todos os personagens principais já morreram. Cinco homens, Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro, dos quais fiquei a saber tudo, sem filtros nem pudores, directamente dos seus pensamentos, tudo o que acham das suas mulheres, amantes, dos filhos, de si próprios e dos amigos. Uma viagem no tempo à juventude destes homens peculiares, com as suas manias e taras (muitas taras, preparem-se), os seus olhares de velhos para um passado de libertinagem sem receios nem culpas. Cada um tem o seu espaço no livro, e as suas histórias enredam-se de tal modo que a cada página vamos ficando a conhecer um pouco de todos. Adorei a construção do livro, muito inteligente, conseguiu agarrar-me contando versões das mesmas situações de modo que, aos poucos, se descubra o que realmente aconteceu. Ou talvez não se descubra nada, pois que tudo não passa de uma visão, da forma com que cada um olha e encara o passado, agora, na velhice, no fim. Achei também interessante o foco dado ao olhar sobre a morte dos companheiros de vida, por parte dos sobreviventes “temporários”, e a forma como, os que irão morrer depois, encaram o tempo que resta.

A estrutura do livro não é inovadora, na verdade não trás nada de novo. Não sendo algo novo, mas estando tão bem construído, revela-se num livro pequeno, com um imenso conteúdo, incrível que tudo caiba em menos de duzentas páginas. A estrutura é, para mim, o ponto mais forte e marcante de “Fim”. Depois há o humor, profundamente negro, de dizer (escrever) sem pejo tudo o que vai na cabeça destes homens, tratando de temas banais sem nunca cair na banalidade e ter, realmente, muita piada, pelo menos para mim que procuro, acho eu, um tipo de humor que a maioria não valoriza.

Escrever bons textos cómicos é uma tarefa árdua e admiro muito a forma como Fernanda Torres o conseguiu fazer de forma exemplar. Apresenta-se em Português do Brasil, e aqueles que acham que as novelas da Globo dão (ou deram no meu caso) as ferramentas para entender tudo, preparem-se para googlar.

“Não há nada mais egoísta do que criança. Não suporto meus netos. Moram longe melhor para eles. São barulhentos, interesseiros. Amei minha filha até ela completar cinco anos, depois não aguentei a histeria dela, da minha mulher com ela, dela com as empregadas. Eu fazia qualquer coisa para não ter que voltar para casa.” (Pág. 17);

“O filho de Sílvio Motta Cardoso Filho, Inácio, comunica o falecimento de seu malquisto pai, infiel marido, abominável avô e desleal amigo. “Peço perdão a todos os que, como eu, sofreram ultrajes e ofensas, e os convido para o tão aguardado sepultamento que terá lugar no dia 23 de Fevereiro de 2009, no Cemitério São Francisco Xavier, à rua Monsenhor Manuel Gomes, 155, nesta cidade do Rio de Janeiro, às 4 horas da tarde.” (Pág. 77);

“Segurei a caixinha. Viagra, dizia o rótulo. Aconselho tomar com umas três horas de antecedência, para não ter surpresas e já chegar calibrado. Você experimentou?, perguntei. Logo que chegou, ele disse, e não larguei mais. (…) Furei a Solange que nem britadeira. Achei pouco. (…) Eu trepava como um ginasta, gastei o que não tinha com as gurias de vinte do bas-fonds da Prado Júnior e me apeguei ao roupão descartável da Centauro, onde quase fui à bancarrota por causa de duas profissionais que se trancaram comigo num dos quartinhos. Começaram desanimadas, meio enrolando o freguês, mas, perto de acender a luz vermelha, as canalhas saíram se esfregando que nem polvas. Me deu um tesão filho da puta, mandei dobrar o prazo. Tripliquei, quadrupliquei. Na hora de pagar, me explicaram que, com duas, tudo era dobrado. Saí rapado e tive que pedir dinheiro para a celeste. Disse que era para um tratamento de canal.” (Pág. 97)

Sinopse

“Cinco amigos cariocas, velhos, vêem o fim aproximar-se a passos largos. Quase a cortar a meta da vida, recordam paixões e traições antigas, cobardias e vergonhas, manias e inibições. No Rio de Janeiro dos anos 60, onde se conheceram, uniu-os a folia, as festas de álcool, mulheres e droga. Pelo meio, aconteceu a vida: casamentos, separações, filhos, contas por pagar, sonhos por cumprir. Além de um passado de excessos e de um presente de frustrações, pouco têm em comum. Álvaro vive sozinho, passa o tempo de médico em médico e não suporta a ex-mulher. Sílvio é um drogado que não larga os vícios nem na velhice. Ribeiro é um rabo-de-saia atlético que ganhou nova vida ao descobrir o Viagra. Neto é o chato da turma, marido fiel até ao último dia. E Ciro, o Don Juan invejado por todos — mas o primeiro a cair. À volta destes cavaleiros cariocas, movem-se as mulheres — esposas, amantes, filhas e mães — amargas, neuróticas, ternurentas, sedutoras, enganadas e resignadas. 
Juntos compõem um mosaico do Rio de antes e de agora. Há graça, sexo, sol e praia nas páginas de Fim., mas também há melancolia. Fernanda Torres, premiada actriz, estreia-se nas letras com um romance fora de série: sagaz, viril, profundo, cru, pleno de humor e vitalidade. Um livro que vai e vem como a vida e a morte: sem desculpas.”

Companhia das Letras, 2015

Maio 21, 2015

Marcador - "Arquipélago", Joel Neto

11255049_978987198812967_9174754741362021943_n.jpg

No último paraíso do Planeta, a meio caminho entre o Velho e o Novo Mundo, as ventanias preparam a sua ofensiva. Ardem vulcões e terramotos, e é contra a morte que o povo dos Açores festeja, eufórico, como se em todo o caso o fim estivesse próximo. De regresso às ilhas após trinta e cinco anos de ausência, José Artur Drumonde colecciona afectos e perplexidades.

Há Elias Mão-de-Ferro, um velho endurecido pela vida no mato e pela culpa. Há Maria Rosa, uma pequena maria-rapaz, loira como só aos oito anos, conhecedora das raças de vaca e da natureza humana. Há Cabrinha, taberneiro e manipulador da consciência coletiva; há La Salete, a sua filha cozinheira e sábia; há Luísa Bretão, mulher de beleza e silêncios, a quem o regressado demorará tempo de mais a declarar-se.
A sua viagem não é a de um vencedor. Com a carreira na universidade onde ensina em risco, José Artur voltou em busca de vestígios da Atlântida, a utopia há tanto procurada por arqueólogos e historiadores, e provavelmente também da memória de José Guilherme, o avô de cuja vida de adulto a sua própria existência fora, décadas antes, uma reprodução em ponto pequeno.
A terra não treme sob os seus pés: nem o maior o terramoto o seu corpo será capaz detectar, no que constituirá o mais evidente sinal da incompletude da sua pessoa. Na autenticidade da vida do campo, na repetição dos gestos dos seus antepassados – aí se encontrará, talvez, a redenção.
Mas as entranhas da velha casa familiar escondem um segredo: os ossos de Elisabete, a criança desprovida de um braço e dotada de força sobre-humana cujo desaparecimento, quase quarenta anos antes, coincidira com o fim da sua própria infância.

LANÇAMENTOS:
26 DE MAIO, 18H30, NA FNAC DO CHIADO, APRESENTADO POR ALICE VIEIRA
27 DE MAIO, 21H30, FNAC NORTESHOPPING, APRESENTDAO POR MIGUEL GUEDES E NUNO QUINTAS

JOEL NETO passou 20 anos em Lisboa e vive agora no lugar dos Dois Caminhos, na ilha Terceira, onde tem um cão, um jardim de azáleas e uma horta. Nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974, e editou, entre outros, «Os Sítios Sem Resposta» (romance), «O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas» (contos) e «Banda Sonora Para um Regresso a Casa» (crónicas). É autor de várias colunas dispersas pela imprensa nacional, nomeadamente a série de relatos «A Vida no Campo», publicada de segunda a sexta-feira no Diário de Notícias.

Nº de Páginas: 460pp.

Formato: 15,5*23cm

PVP: 18,95€

 

Maio 19, 2015

Divulgação de Passatempo - Perguntem a Sarah Gross, de João Pinto Coelho

O planetamarcia participa na divulgação do passatempo para um exemplar autografado do livro “Perguntem a Sarah Gross”, de João Pinto Coelho. Um passatempo especial em que têm de ver um video lindo. Quem anda por aí a babar por este livro?

Perguntem a Sarah Gross.jpg

Para se habilitarem deverão:
1 - Visitar e gostar da página oficial do livro;
2 - Comentar a publicação do passatempo, mencionando dois amigos;
3 - Enviar uma mensagem para essa página indicando quantas vezes surge um quadrado vermelho no centro da imagem ao longo do booktrailer.

Muito importante:

O número de participações por pessoa é ilimitado e corresponderá ao número de comentários publicados por cada participante (desde que não se verifique a repetição dos amigos mencionados).

O passatempo já está a decorrer e termina às 23:59 do dia 5 de junho de 2015. O vencedor será sorteado aleatoriamente através do site: random.org.

Só se garante o envio do livro ao premiado para território nacional, não se responsabilizando os promotores desta iniciativa pelo seu eventual extravio.

Boa sorte a todos! participem!

Maio 16, 2015

A Espia do Oriente - Nuno Nepomuceno - Opinião

aespiadooriente.jpg

Isto das sequelas tem que se lhe diga. A minha opinião sobre “O Espião Português” é muito positiva, quando terminei a leitura fiquei bastante ansiosa pelo próximo livro, o já anunciado “A Espia do Oriente”. Contudo, admito, tive sempre um receio em relação a este segundo livro, temi que a Espia e o Espião se envolvessem de forma romântica e que a componente de acção e espionagem ficasse em segundo plano, dando lugar a desenvolvimentos, para mim, aborrecidos e lamechas. Seria um caminho. Lógico e desejável (possivelmente) para alguns leitores, mas não para mim.

E foi um grande alívio verificar que isso não aconteceu. Não estou a dizer que eles não se envolvem, como também não digo o contrário, que é para não estragar leituras, apenas posso dizer que não há cenas que poderiam fazer descambar isto tudo em algo banal. Prova superada e ainda bem, que eu ía odiar não adorar este livro.

Mais uma vez a leitura é compulsiva, mesmo tendo este volume quase quinhentas páginas, nunca se perde o ritmo, e a vontade de saber o que vai acontecer fez-me ler as primeiras trezentas páginas praticamente seguidas. Terminado o fim-de-semana é mais difícil manter a cadência, mas os quatro dias que levei a lê-lo significam, para mim, que o autor, não só conseguiu manter o nível do primeiro livro mas também superá-lo. De facto as melhorias são notórias, tanto ao nível da escrita, que me mostrou um Nuno Nepomuceno mais palavroso, avançando em alguns casos para parágrafos mais longos, com uma riqueza de vocabulário acrescida, como ao nível das descrições das situações e cenários. Cenas de acção algo complexas, com intervenção de várias personagens, cada uma com o seu papel, a que assisti de forma quase cinematográfica, sem me perder.

A componente humana do André continua a ser, tal como no primeiro livro, fundamental. A Espia não lhe tira protagonismo, acompanha-o. Nota-se claramente a preocupação por parte do autor em que os livros possam ser lidos de forma independente, mas eu garanto que qualquer leitor retirará maior proveito lendo em sequência. Os livros completam-se, tal como esta dupla se completa na trama. Senti que se fecharam algumas pontas do primeiro livro, analisando as mesmas situações pelo ponto de vista da Espia. Aliás, é concedido várias vezes ao leitor o privilégio de saber o que cada um pensa acerca das mesmas coisas, há uma entrada directa para a as dúvidas, medos e inseguranças nas mentes das personagens, e não só das principais. Um trabalho bem conseguido, um bom exercício de escrita.

Dúvida. Confiança. Traição. Três palavras sempre presentes. Palavras difíceis de digerir. A traição é um murro no estômago, a dúvida desorienta, a confiança é frágil na presença das outras duas. Identifico-me muito com o André, confesso, acho que assim será com a maioria das pessoas, ele enfrenta dificuldades e medos comuns a todos nós, desde problemas no emprego a desilusões amorosas, passando por zangas familiares, tudo por acreditar e por se entregar. Claro que a um nível diferente, afinal o André é Espião, o que lhe confere um charme que poucos de nós terá (mas nós também não somos personagens de livros), só que ao mesmo tempo, é esse poder do terra-a-terra que faz com que se goste muito dele.

Não é que a Espia não mereça mas não vou escrever sobre ela. Apenas revelar que é uma personagem já presente no “Espião Português”, que sai do elenco secundário e toma agora o palco principal. Muito misteriosa, com uma sensualidade poderosa e um passado surpreendente, esta mulher eleva a “Dúvida. Confiança. Traição.” a um outro nível. Eu cá acho que devem conhecê-la. E depois é esperar pelo terceiro livro. Esperar de forma ansiosa e intranquila. Como convém.

“Vendo bem, acreditar nos outros sempre foi a sua maior fraqueza. (…) Gostava de ter tido a coragem de ser mau.” (Pág. 323)

Sinopse

“Dubai, Emirados Árabes Unidos.
De férias na região, um investigador norte-americano é raptado do hotel onde se encontrava instalado. Uma nova pista sobre um antigo projecto de manipulação genética é descoberta e a Dark Star, uma organização terrorista internacional, está decidida a utilizar os conhecimentos deste cientista para ganhar vantagem.
Contudo, de regresso à Europa, uma das suas operacionais resolve trair o sindicato do crime e oferece-se para trabalhar como agente dupla ao serviço da inteligência britânica. O mistério adensa-se quando esta mulher, de nome de código China Girl, impõe como única condição colaborar com André Marques-Smith, o director do Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros português e espião ocasional.
Obrigados a trabalhar juntos para evitarem um atentado a uma importante líder europeia, uma atmosfera tensa, de suspeição e desconfiança, instala-se de imediato entre os dois. Mas que segredos esconderá esta mulher, cujo próprio nome é uma incógnita? Serão as suas intenções autênticas? Será o espião português capaz de resistir à sua invulgar e exótica beleza?
Vencedor do Prémio Literário Note! 2012, Nuno Nepomuceno regressa com A Espia do Oriente, o segundo livro da série Freelancer. Por entre os cenários reais de Budapeste, Berlim, Londres, Courchevel, Dubai e Lisboa, o autor transporta-nos para um mundo de mentiras, complexas relações interpessoais, e reviravoltas imprevisíveis. Uma reflexão profunda sobre os valores tradicionais portugueses, contraposta com a sua já habitual narrativa intimista e sofisticada, e que vai muito além do tradicional romance de espionagem.”

Topbooks, 2015

Pág. 1/2