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planetamarcia

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Agosto 30, 2014

Teorema - Os Interessantes, de Meg Wolitzer

 

Numa noite de verão de 1974, seis adolescentes encontram-se num campo de férias e planeiam uma amizade para toda a vida. Jules, Cathy, Jonah, Goodman, Ethan e Ash ensaiam a atitude cool que (esperam) os defina como adultos. Fumam erva, bebem vodka, partilham os seus sonhos. E, juram, serão sempre Os Interessantes.
Décadas mais tarde, a amizade mantém-se embora tudo o resto tenha mudado. Jules, que planeava ser atriz, resignou-se a ser terapeuta. Cathy abandonou a dança. Jonah pôs de lado a guitarra para se dedicar à engenharia mecânica. Goodman desapareceu. Apenas Ethan e Ash se mantiveram fiéis aos seus planos de adolescência. Ethan criou uma série de televisão de sucesso e Ash é uma encenadora aclamada. Não são apenas famosos e bem-sucedidos, têm também dinheiro e influência suficientes para concretizar todos os seus sonhos.

Mas qual é o futuro de uma amizade tão profundamente desigual? O que acontece quando uns atingem um extraordinário patamar de sucesso e riqueza, e outros são obrigados a conformar-se com a normalidade?

Nas livrarias a 2 de Setembro

Agosto 30, 2014

Teorema - As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia, de António Tavares

 

Olhar para trás, para os anos mais importantes das nossas vidas – aqueles que nos tornaram o que hoje somos – nem sempre se revela tarefa fácil; mas o narrador deste romance terno e deslumbrante tem, desde pequeno, um companheiro inseparável que, até certo ponto, facilita as coisas: um caderno de papel pardo com linhas, comprado, ainda nos anos 1960, em Moçâmedes, no qual foi registando – com palavras, desenhos, fios de cabelo, pétalas, sangue, sémen – os episódios que marcaram decisivamente a sua história.

Com uma simplicidade invejável e, ao mesmo tempo, parecendo ter uma biblioteca dentro, As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia, finalista do Prémio LeYa em 2013, é um romance de formação tão enternecedor como Cinema Paraíso, só que com livros em vez de filmes.

Nas livrarias a 2 de Setembro

Agosto 28, 2014

TOPSELLER: «Mesmo numa família perfeita, nada é o que parece...»

 

Não Digas Nada (336 pp I 18,99€) é um thriller psicológico intenso e de leitura compulsiva, que revela como, mesmo numa família perfeita, nada é o que parece.

«Tenho andado a segui-la nos últimos dias. Sei onde faz as compras de supermercado, a que lavandaria vai, onde trabalha. Nunca falei com ela. Não lhe reconheceria o tom de voz. Não sei a cor dos olhos dela ou como eles ficam quando está assustada. Mas vou saber.»

Filha de um juiz de sucesso e de uma figura do jet set reprimida, Mia Dennett sempre lutou contra a vida privilegiada dos pais, e tem um trabalho simples como professora de artes visuais numa escola secundária. Certa noite, Mia decide, inadvertidamente, sair com um estranho que acabou de conhecer num bar. À primeira vista, Colin Thatcher parece ser um homem modesto e inofensivo. Mas acompanhá-lo acabará por se tornar o pior erro da vida de Mia.

Mary Kubica tem um Bacharelato em História e Literatura Americana pela Universidade de Miami (Ohio). Não Digas Nada é a estreia enérgica e vigorosa desta autora incrivelmente promissora.

Agosto 27, 2014

Porto Editora - Ficção - Romance de estreia de Romain Puértolas é fenómeno mundial

 

A crítica foi unânime, também o foram os milhares de leitores: A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea, romance de estreia de Romain Puértolas, é o maior fenómeno da literatura francesa atual e chega finalmente às livrarias nacionais no dia 1 de setembro, numa edição Porto Editora.

Traduzido em já 36 países e uma «pérola de humor» (Livres Hebdo), este é «o livro mais divertido do momento e, como se isso não bastasse, uma reflexão profunda sobre o destino dos imigrantes ilegais» (Radio RTL).

Ajatashatru Larash Patel, faquir de profissão, que vive de expedientes e truques de vão de escada, acorda certa manhã decidido a comprar uma nova cama de pregos. Abre o jornal e vê uma promoção aliciante: uma cama de pregos a 99,99€ na loja Ikea mais próxima, em Paris. Veste-se para a ocasião – fato de seda brilhante, gravata e o seu melhor turbante – e parte da Índia com destino ao aeroporto Charles de Gaulle. Uma vez chegado ao enorme edifício azul e maravilhado com a sapiência expositiva da megastore sueca, decide passar aí a noite a explorar o espaço.
No entanto, um batalhão de funcionários da loja, a trabalhar fora de horas, obriga-o a esconder-se dentro de um armário, prestes a ser despachado para Inglaterra. Para o faquir, é o começo de uma aventura feita de encontros surreais, perseguições, fugas e aventuras inimagináveis, que o levam numa viagem por toda a Europa e Norte de África.

Romain Puértolas nasceu em Montpellier, em 1975. Quando era novo, queria ser cabeleireiro-trompetista, mas o destino trocou-lhe as voltas. Oscilando entre a França, a Espanha e a Inglaterra, foi sucessivamente DJ, compositor-intérprete, professor de línguas, tradutor-intérprete, comissário de bordo, mágico, antes de tentar a sua sorte como cortador de mulheres num circo austríaco.
Rapidamente despedido por ter mãos escorregadias, resolve dedicar-se à escrita compulsiva. Autor de 450 romances num ano, ou seja, 1,2328767123 romances por dia, consegue finalmente arrumar os seus próprios livros numa estante Ikea. Infelizmente, despojado de 442,65 dos seus romances por extraterrestres dotados de uma inteligência e um gosto bem acentuados, Romain Puértolas vê-se reduzido a uma estante estilo caixote de pêssegos periclitante e desesperadamente vazia. Segue atualmente uma carreira de agente da polícia em França e só tem uma coisa em mente: encontrar aqueles que perpetraram o golpe…
A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea será brevemente adaptado ao cinema.

Título: A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea
Autor: Romain Puértolas
Tradução: Isabel St. Aubyn
Págs.: 208
PVP: 16,60 €

 

Agosto 26, 2014

Casa das Letras - Terceiro livro da série OUTLANDER - A Viajante

 

Este é, sem dúvida, um  post que publico com um grande sorriso.

O terceiro volume da série Outlander é mais um livro de dimensão considerável mas que certamente se lê num ápice; de se ficar logo a ansiar pelo próximo.   

Não resisto a deixar os links para as minhas opiniões dos livros anteriores. Aproveitem e leiam os três livros de uma assentada!

Nas Asas do Tempo

A Libélula Presa no Âmbar

Fica o desejo de não ter de esperar mais três anos pelo próximo volume.

 

«Estava morto. No entanto, o seu nariz palpitava dolorosamente, coisa que lhe era estranha, dadas as circunstâncias.»

Assim começa o terceiro livro da série OUTLANDER, em que ficamos a saber que, afinal, Jamie Fraser não morreu no campo de batalha de Culloden. De volta ao século XX, Claire fica em choque com a notícia de que Jamie está vivo, mas, muito mais que isso, fica radiante. Ouvimos a história de Jamie, como ele mudou, tentando alcançar uma vida a partir dos pedaços da sua alma e do país que deixou para trás, e o breve relato de Claire sobre os 20 anos que passaram desde que o deixou em Culloden, enquanto Roger MacKenzie e Brianna, filhos de Claire e Jamie, se aproximam das pistas do passado, numa busca incessante por Jamie Fraser. Será que o podem encontrar? E se o conseguirem, Claire voltará para ele? E se ela o fizer… o que se sucederá?

Dos fantasmas de Samhain nas terras altas da Escócia para as ruas e bordéis de Edimburgo, do mar turbulento e das aventuras nas Índias Ocidentais, percorremos páginas de história repletas de revolta, assassínio, vodo, fetiches, sequestros, e um sem-número de inúmeras aventuras. Por detrás de todas elas, porém, jaz a questão de Jamie:  «Quereis vós levar-me, Sassenach? E arriscar o homem que sou em prol do homem que era?»

Diana Gabaldon é uma escritora americana de ascendência mexicana e inglesa. Licenciada em Zoologia, mestre em Biologia Marinha e doutorada em Ecologia, foi professora universitária durante 12 anos, mas acabou por ser a escrita a conquistá-la. Atualmente, dedica-se exclusiva­mente a escrever e a sua série de sucesso Outlander, publicada em 26 países e 23 línguas, está a ser adaptada à televisão. Gabaldon vive em Scottsdale, Arizona, com a família. 

PVP C/ IVA 24,90€

824 páginas

Agosto 24, 2014

Longe da Terra - Rebecca Makkai - Opinião

 

Desde que saíu, em 2011, que este livro está na minha lista de desejos.

Escreveram-se algumas (poucas) coisas positivas, alterou-se a capa (para pior) e, até à sua leitura, este livro foi considerado uma das minhas melhores compras da FLL 2014.

Grande é a desilusão quando, uma leitura ansiada, que esperava ser empolgante, se torna entediante, maçadora e me faz saltar algumas páginas sem ler só para chegar ao fim. Habitualmente não o faço, se um livro não me interessa não o leio, mas li na constante expectativa de uma boa surpresa. Estive, portanto, a enganar-me.

A título excepcional vou transcrever a sinopse neste ponto do texto.

“A jovem bibliotecária Lucy Hall esconde um coração inquieto sob uma aparência tranquila. Na sua busca de um sentido para a vida, Lucy alia o desejo de liberdade à paixão pelos livros e toma a inesperada decisão de trabalhar na pequena biblioteca de uma pacata cidade do interior dos Estados Unidos. Em Hannibal, ela encontra o que procura: anonimato e sossego. Pelo menos, assim era até ao dia em que fica subitamente na posição de raptora e raptada. 
Lucy depara-se com um dilema moral quando encontra o pequeno Ian furtivamente acampado na biblioteca com uma mochila e um plano de fuga. O precoce e sensível Ian é leitor compulsivo, algo que os pais repudiam, e tem em Lucy a sua única aliada. Desesperada por salvá-lo de uma família intolerante e castradora, ela deixa-se raptar pelo menino. Esta dupla invulgar embarca então numa aventura estrada fora com detectives, um namorado inconveniente e duas famílias pouco convencionais no seu encalço. Amparados pelas páginas inspiradoras dos livros que adoram, ambos estão em fuga embora saibam que esta terá de ter um fim. Mas poderão dois devoradores de livros encontrar magia também na realidade?”

Biblioteca, paixão pelos livros, dois devoradores de livros em fuga. Como podia não me interessar? The Washington Times também insiste: Um tesouro para todos os amantes da literatura.”; Financial Times arruma comigo com esta: “Magnífico…Uma homenagem ao poder inspirador dos livros.”

Portanto eu abro a primeira página e inicio a leitura. Começo logo por achar um pouco desinteressante mas continuo pois certamente está só a aquecer. Fico à espera de encontrar as tais personagens que adoram livros, ou que elas se revelem, façam qualquer coisa com que eu me identifique. Sim, Lucy e Ian gostam de livros, mas a leitura não é “o” tema das suas conversas. Não me apercebi de serem “amparados pelas páginas inspiradoras dos livros que adoram”. Não discutem livros, falam aqui e ali sobre alguns livros. Mas o tema de “Longe da Terra” é a viagem de fuga sem destino certo (e quanto a mim sem motivo certo também, que ao fim de mais de trezentas páginas juro que não entendi o propósito de uma mulher de vinte e seis anos se deixar levar pelas vontades de um rapazinho de dez).

Em resumo, uma perda de tempo. Ou então o livro é genial e eu é que não percebi.

Ou seja, ou é uma merda ou eu sou uma estúpida.

Leiam por vossa conta e risco.

Teorema, 2011

Agosto 22, 2014

Leya leva livros às praias de Cascais

 

Em parceria com a Câmara Municipal de Cascais, o projecto "Leya Cascais" disponibiliza quatro bicicletas com livros, a circularem por algumas praias da Linha de Cascais durante os fins de semana de Agosto.

As bicicletas e promotores da “Leya Cascais”, devidamente identificados, irão circular pelas praias de S. João do Estoril, Poça, Azarujinha e Tamariz, das 10h30 às 19h00, possibilitando o empréstimo de livros para leitura ou, caso o leitor preferir, a compra do livro seleccionado.

"O projecto “Leya Cascais” consiste em aproximar a leitura e os livros aos leitores que se encontram de férias ou a frequentar as praias do Município de Cascais. A oferta inclui não só livros para adultos, mas, também alguns livros em inglês e livros para jovens e crianças.

Agosto 18, 2014

E a noite roda - Alexandra Lucas Coelho - Opinião

 

Ando aqui há semanas a tentar alinhavar algo para escrever sobre este livro. Não que não tenha gostado, mas porque se calhar há livros assim. Que basta serem lidos e não é preciso que se diga ou escreva mais nada.

A verdade é que não me encheu as medidas. Mas agradou-me. O tema. O palco. A envolvência histórico-política. Um amor fortuito que aceitei, defendi e quis que durasse. Contra a razoabilidade, sem pensar na lógica, e alimentando expectativas fundamentadas em sonhos.

O amor. A guerra. Dois tipos de guerra.

“Parece-me sempre prodigioso entrar em Jerusalém, que tudo aquilo realmente exista, e eu tenha direito a estar lá.” (Pág. 21);

“Fazemos as perguntas dos estranhos sem nunca termos sido estranhos. Há dois diálogos a acontecer ao mesmo tempo. As palavras são as de quem não sabe o suficiente, o silêncio é o de quem sabe demasiado. A nossa intimidade fica a pairar, como se não soubesse para onde ir.” (Pág. 46);

Sinopse

“Ana e Léon conhecem-se em Jerusalém na véspera da morte de Yasser Arafat. Aí começa uma história que atravessa várias cidades e paisagens, da Faixa de Gaza à Mancha de Quixote, enquanto o mundo exterior se vai fechando num quarto sem saída.
«Toda a praça roda à minha volta e tu és um buraco negro. Então o sol dá-te em cheio. Estás encostado à fonte, depois da estátua de Giordano Bruno, que há 400 anos foi queimado por dizer que nós é que rodamos à volta do sol. Fumas uma cigarrilha, chamas-te Léon. És um desconhecido e és tu. Qual deles vais ser?»”

Tinta da China, 2012

Agosto 10, 2014

Saber Perder - David Trueba - Opinião

 

A fórmula é simples e, talvez por isso, resulte muito bem. “Saber Perder” é o segundo livro que leio de David Trueba. “Aberto toda a noite” teve um impacto diferente em mim, talvez por ter mais detalhes rocambolescos e personagens mais peculiares. Em todo o caso “Saber Perder” é um excelente livro, que ganha pontos pela simplicidade de descrever a vida com que qualquer um de nós se poderá identificar. Enfim, mais ou menos, em algumas situações o autor já revela o gosto pelo insólito que veio a apurar com “Aberto toda a noite”:

Novamente uma família. Menos numerosa agora. Pai, filho e neta são os personagens ao redor de quem toda a acção se vai desenvolvendo. O seu dia-a-dia e forma de enfrentar os desaires. A morte iminente da avó e a necessidade de escape para o avô, que desenvolve um delírio por prostitutas que o leva, em segredo, ao endividamento extremo. O namoro da filha adolescente e a falta de acompanhamento dos pais, divorciados, e cada um preocupado com o seu próprio umbigo. O percurso do pai, arruinado e desempregado, frustrado por ter sido abandonado pela mulher, sem saber lidar com uma filha adolescente, com a doença terminal da mãe, e com a vida dupla do pai. Um cobarde que se deixou arruinar pelo sócio e que, levado pela vingança, mas principalmente pelo descontrolo emocional, comete um acto desesperado de homicídio.

Por vezes exagerado mas bastante realista. Digno de nota pela forma como comove o leitor e o leva a identificar-se com sentimentos e situações que, apesar dos exageros, reconhece. Porque a natureza humana é comum, independentemente das excentricidades, há sempre algo de humanamente semelhante a todos nós no percurso de Leandro, Lorenzo e Sylvia.

A cegueira pelo futebol, esse desporto que na verdade é apenas uma desculpa para conflitos e discussões absurdas. A forma como as preferências clubísticas ditam a ascensão e queda dos jogadores, a pressão profissional sobre aqueles que não sabem fazer mais nada senão correr atrás de uma bola, um nível de inteligência baixo com os bolsos sempre cheios de notas.

O dia-a-dia com apontamentos requintados de quem sabe escrever. Manteve-me interessada ao longo de quase quinhentas páginas, sem que possa referir um pico de acção ou reviravolta. Uma leitura constante, sem surpresas, que curiosamente faz dessas características os seus pontos fortes.

Recomendo.

Sinopse

“Sylvia cumpre dezasseis anos no dia em que começa este romance. Para celebrar o aniversário, organiza uma falsa festa que tem só um convidado. Horas depois, sofre um acidente que a levará a descobrir a complexa intensidade da vida adulta.
Lorenzo, pai de Sylvia, é um homem divorciado que tenta esconder o vazio que o abandono da mulher e o fracasso no trabalho deixaram na sua vida. O desencanto e a frustração levam-no a ultrapassar fronteiras que nunca julgara possíveis.
Ariel é um jovem jogador de futebol que deixa Buenos Aires para jogar numa equipa espanhola. Esmagado a princípio pelo frio anonimato da grande cidade, não tardará a ouvir o estádio entoar o seu nome em êxtase.
Leandro, velho reformado, está numa fase da vida em que assiste a mais enterros do que nascimentos. Mas descobre para sua surpresa que ainda está em idade de ser tocado por uma fascinante obsessão.”

Alfaguara, 2009

Agosto 03, 2014

Todos os Dias são Meus - Ana Saragoça - Opinião

 

É perigoso ter expectativas altas. Mas como não as ter com a forma como este livro me foi apresentado? Numa sessão da Roda dos Livros, com a presença de alguns autores do Colectivo NAU, Ana Saragoça ofereceu-nos uma interpretação do primeiro capítulo do seu livro, “Todos os Dias são Meus”.

A Porteira que todos ficámos a conhecer, remeteu-me para a comédia. Mais uma coisa perigosa. Pois eu acho piada a muita coisa mas o verdadeiro humor é algo difícil de criar, mais fácil é fazer chorar do que rir. Rir a sério, com vontade. Nessa tarde chorámos a rir.

Fiquei com a ideia de um livro cómico, bem escrito e bem descrito, que saber escrever é importante, mas descrever é fundamental. E já não é nada pouco. Agora, depois de ler o livro, confirmo o talento da autora para o registo humorístico e caracterização brilhante de personagens.

É inevitável que a Porteira, mesmo sem nome, não nos lembre de alguém que conhecemos, vimos, ou simplesmente ouvimos falar. Brilhantes e inesquecíveis monólogos, supostamente diálogos. Sabemos que a Porteira se dirige sempre a alguém mas não há discurso, o que faz com que Ana Saragoça seja, para mim, o mais recente génio da (boa) utilização da pontuação.

E quando as expectativas altas são largamente ultrapassadas? Olho para este livrinho pequeno (cem páginas, tamanho de livro de bolso e capa pró feioso) e não páro de fazer a mim própria duas perguntas: como se consegue dizer tanta coisa com tão poucas palavras, e como é possível que este livro não seja divulgado? Até vou mais longe, toda a gente devia ser obrigada a ler “Todos os Dias são Meus”! Deviam, sim. Deviam ficar todos convencidos que íam passar umas horitas a ler um livro leve, passado num prédio, com intrigas típicas de uma vizinhança estranha (não são todas?), com abordagens hilariantes a um cão que vomita no elevador. E depois de estarem bem convictos de terem em mãos uma leitura leve para acompanhar com pipocas, seria como se se deixassem cair pelo fosso do elevador da vida real.

E foi essa sensação de abismo, de cair do chão que tinha como certo, que me fez chegar a esse ponto maravilhoso e raro que se resume na simples frase “isto ainda me saíu melhor que a encomenda”! Literalmente. Pois que como todas as coisas boas são raras, este teve de ser encomendado directamente à Editora. Acho que a Estampa não sabe o que é divulgação e marketing, honestamente não percebo porquê esconder este tesouro.

E pronto, afinal o livro não é cómico. É um policial! Uma das moradoras aparece morta no elevador do prédio, o mesmo onde o cão da porteira vomita. E onde também o Engenheiro e a namorada passam uns bons momentos de prazer físico…olha, afinal o livro é erótico, enganei-me outra vez…e depois há a reflexão da vítima (antes de morrer) sobre a vida, a solidão e a sensação de não pertencer a lugar nenhum… ai que afinal isto é um drama assim para o filosófico!

Eu não sei o que é. Mas sei que é bom. Muito bom!

Uma escrita de qualidade irrepreensível. Um livro do qual achava que já sabia tudo e que se revelou uma fabulosa surpresa.

Imperdível! Leiam!

 “Olhar para as janelas das casas ensinou-me muito. Vi que as pessoas são realmente muito parecidas umas com as outras, e que eu sou gritantemente diferente. Mesmo quando havia discussões e gritaria, eu conseguia retirar sempre das visões uma sensação de grande aconchego, de pertença.” (Pág. 33);

“Sempre li muito. Não me lembro de mim pequena sem um livro por perto – o que deve querer dizer que a minha vida consciente só começou quando descobri a leitura. Os livros afastavam-me de quem me rodeava, das colegas que faziam troça de mim, da realidade melhor-que-a-de-muita-gente-mas-ainda-assim-bastante-desoladora da minha infância. (…) , acabaram todos por me deixar em paz, arrumando-me na prateleira das caixas d’óculos vagamente apalermadas. O resultado foi uma grande liberdade interior, que é a minha riqueza maior até hoje.” (Pág.59);

Sinopse

“Um prédio. Uma morte. Um mistério. Não se trata, porém, de um romance de pretexto policial. É verdade que há polícias e testemunhas - sobretudo testemunhas - e alguns suspeitos. Mas Todos os Dias são Meus é um extraordinário retrato do Portugal profundo, com os seus tiques, os seus ressentimentos, os seus ridículos.”

Editorial Estampa, 2012

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