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planetamarcia

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Junho 29, 2014

Com os Holandeses - J. Rentes de Carvalho - Opinião

 

Mais um livro excelente, que recomendo sem qualquer reserva. A escrita de J. Rentes de Carvalho é maravilhosa, li este livro num constante estado de encantamento pela forma como as palavras são conjugadas de forma perfeita, e os estados de alma chegam até ao leitor através de uma escrita sentida, mas objectiva e nada piegas.

Uma espécie de ensaio que é também uma história de vida. Um género de autobiografia de vasto interesse sociológico. Assim é, escrito na década de setenta e plenamente actual, de uma lucidez e acutilância esmagadoras.

Eu adoro Rentes de Carvalho. Não apenas pela sua escrita mas também pela pessoa que não conheço mas com quem simpatizo. Não sei bem porquê dado que só lhe falei duas vezes, e em ocasiões circunstanciais, guardo a imagem de um ser humano especial. E quando se aprecia assim alguém gosta-se de tudo o que esse alguém faz, neste caso, escreve. Daí a minha opinião poder ser tendenciosa e estar completamente deturpada por esta admiração, coisa que não me incomoda nada mas aviso já que certamente só falarei bem de todos os livros que ler deste senhor.

“Com os Holandeses” é uma descrição bastante completa de um país e dos seus habitantes. Escrito por um observador estrangeiro, um português que deixa o seu país e vai viver para Amesterdam, Holanda. É uma análise exaustiva da sociedade holandesa em vertentes tão pertinentes como família, religião, culinária, cidadania, sexo, educação, arte, vida profissional, e tudo o que leva um homem observador dissertar sobre o meio envolvente, sobre a sua própria experiência de vida, sobre o que é diferente, sobre o que o impressiona, causa espanto. Uma reflexão sobre as diferenças, feita com a justiça de quem não se vê como superior ou inferior, mas com a frontalidade e o discernimento de quem aceita (e também rejeita) o que é distinto.

Genial. Um livro de Rentes de Carvalho sobre ele próprio, a sua experiência, a sua capacidade de análise, as suas dificuldades com toda a espécie de barreiras que as diferenças culturais levantam a quem deixou para trás um país tido como atrasado perante a supremacia de um povo que se acha melhor e mais civilizado. Muito interessante.

“Cavalheiros sérios, fiéis das igrejas, temerosos de Deus, metidos em fatos que ressudavam decência, alegres de poderem explodir assim, impunemente, mas sabendo que se o meu falar era atarantado eu os compreendia na perfeição, que os marcava e à noite – uma fuga? Uma defesa? – me sentava a descrevê-los, anotando os gestos, as palavras, os nomes.” (Pág. 27);

“E a rua é impecável, o telefone automático, o radar pilota os navios, os computadores administram. Quem vem à procura de aventura e romance e os espera a cada esquina bem se ilude. Dará de cara com treze milhões (1971) de indivíduos cujo temperamento não se coaduna às fantasias, às perdas de tempo, aos descuidos, menos ainda à indolência, fanáticos do planeamento, da previsão e do arrumo.“ (Pág. 40);

“Contudo, é raro o dia que me não dou conta de que o holandês, sem ter conseguido criar o paraíso, mesmo assim tem aqui uma extremamente confortável, bem organizada, bem administrada e acolhedora terra, onde o viver pode ter encantos, onde além dos encantos se goza ainda um superior e imprescindível bem: a liberdade.”

“Quando ao ter de escolher preferi ficar, a minha impressão foi de que a Holanda oferecia indiscutivelmente garantias cívicas e políticas que eu sabia, por amarga experiência, serem problemáticas noutros países, mesmo naqueles que juram ter amamentado a liberdade democrática quando ela ainda era de peito” (Pág. 75);

Sinopse

"Sobre o clima, os costumes, as manhas, a bruteza, os vícios, a má comida... A lista começou com Júlio César, alongou-se no decorrer dos séculos, tem casos extremos como o do mal-agradecido Voltaire que, em vez de dar graças pelo refúgio oferecido, sintetizou venenosamente os Países Baixos em "Canards, canaux et canailles". Jesuíta e diplomata, António Vieira disse pior, mas diplomaticamente. De facto são muitos os críticos mordazes de um país em que outros só vêem campos de tulipas, moinhos a rodar serenamente, montes de queijo, diques, água, abundância de belas raparigas loiras e desempenadas. Assim, o optimista Ramalho Ortigão escreveu a suave aguarela que, para muitas gerações, funcionou como relato exemplar de um país exemplar. O meu caso difere."

Quetzal, 2009

Junho 29, 2014

Oficina do Livro - Gostas do que vês?, de Rute Coelho

 

Natália e Cecília não se conhecem. São duas mulheres jovens muito diferentes, uma introvertida e amargurada, a outra confiante e determinada. Mas têm a irmaná-las o excesso de peso – e, apesar de cada uma lidar com ele à sua maneira, fugindo do espelho ou assumindo o corpo, a verdade é que nem sempre é fácil viver numa sociedade com os cânones de beleza instituídos e na qual se convive diariamente com o preconceito.

Natália está convencida de que não merece ser feliz; Cecília, pelo contrário, numa atitude desafiante, defende a beleza das suas curvas e o seu direito à felicidade, independentemente da diferença e da discriminação social.

Num mundo em que se mascara a felicidade com plásticas e dietas loucas, Rute Coelho construiu uma história realista e surpreendente sobre a forma como podemos e devemos assumir o nosso corpo, aprendendo a gostar dele através das mudanças necessárias.

Já nas livrarias

Junho 22, 2014

Mar Humano - Raquel Ochoa - Opinião

 

E é assim. Sem saber porquê ou como, aparece um livro que se destaca, que me faz virar a última página e sentir que fui abalroada pelo génio da lucidez.

Este atropelo deu-se de forma francamente notória no último capítulo, trinta e seis páginas que irei reler infinitas vezes. Das quais quero escrever mas que receio revelar demais. Sinto-me tentada a alertar quem me lê para que pare agora, mas ao mesmo tempo quero que todos saibam que têm mesmo de ler este livro.

Mas como escrever sobre o final sem arruinar futuras leituras? Sem estragar a surpresa de juntar as peças e descobrir que estamos perante algo maior? Não que as primeiras duzentas páginas não interessem, longe disso, todo o livro está bem construído e é deveras empolgante, li-o em pouco mais de um dia. Mas realmente o final dá uma perspectiva diferente das duzentas páginas anteriores, há uma mudança, um click que me deixou hiperactiva e me poderá fazer passar esta noite em branco. E é tão bom, mas tão bom, de tantos livros que leio e de tantos que me passam pelas mãos sem marcas de maior, sentir esta escrita enigmática e inteligente, que me toca, arranha por dentro e, acima de tudo me deixa a pensar.

Para mim seria mais um romance de época. O século XX português, tema mais que escolhido, mais que batido. A censura, a prisão, a miséria, a guerra, tudo mais que contado e recontado, com uma história de amor cheia de dificuldades para arrancar suspiros atrás de suspiro às leitoras. Sim, diz que são as mulheres que procuram esses livros, se calhar…

Bom, mas homens leiam também, que todos vocês deviam conhecer pelo menos uma Ema na vida. E todas a mulheres deviam ser como Ema, nem que fosse só uma vez na vida. Inteligente e enigmática, calculista, apaixonada, objectiva e com uma enorme sede de conhecimento. Uma perfeita estranha neste Portugal enfadonho, passei todo o livro a questionar o porquê de Ema estar nesta história. Ema ama Samuel. Samuel ama Ema. Mas não estão juntos, na verdade passam a vida separados a pensar um no outro, parece que pacientemente à espera do seu momento, que estranhamente (para o leitor de romances daqueles que citei acima) nunca chega.

As referências aos avanços da ciência são constantes em todo o livro, o grupo de amigos de Ema e as suas tertúlias sem preconceitos, com bastante álcool à mistura, continuavam a dar-me sempre a sensação de “algo não bate certo”, que gente é esta no nosso Portugal conservador e atrofiado do Estado Novo?

E pronto, eis que chega o último capítulo, Raquel Ochoa sai de cena e tudo é revelado na primeira pessoa. E então senti-me entrar num outro universo, parecia que me metia por um livro de Margaret Atwood, meio distópico, em que se fala do futuro como se fosse o presente, e se olha para o presente como se fosse o passado. Surreal, estranho e imensamente atraente. Principalmente por revelar a verdade, por despejar o que está podre na nossa sociedade, a forma como estamos cercados e não podemos fugir de um palco, de um teatro sem fim, de uma sociedade de mentiras, enganosa em que nada do que parece é. E leva tanto tempo a concluir tal coisa. Uma vida não chega. Talvez só uma vida muito longa, aí de uns cento e cinquenta anos.

E o que achei mesmo estranho? Este ser um livro RTP. Será que alguém na RTP leu um livro que deita ao chão, pisa e escorraça a comunicação social, como se de um vírus incontrolável se tratasse? Pensando bem não é estranho, é caricato e irónico, e na verdade é a cereja no topo do bolo de “Mar Humano”. E se ainda aí estão no fim disto tudo, e acreditam que a liberdade é uma fantochada, leiam o livro.

“A censura do Estado Novo acabava por ser às claras, documentada e, mesmo que só a título muito posterior, uma instituição passível de ser criticada e julgada. Ficou um rasto físico da censura, passível de ser consultada. A censura moderna apareceu nos anos noventa e aprendeu a ser subtil, aprendeu a não existir. Creio que um dos maiores logros de quem tem interesse em praticar a censura na comunicação social é ter feito crer que a teoria da conspiração é apenas uma teoria de gente com uma imaginação muito fértil.

O papel dos jornalistas durante as décadas de noventa e a primeira de dois mil – a ocultarem toda a corrupção e omitirem-se do seu papel crítico de certas escolhas políticas, nunca fomentando o debate e dando como certa uma riqueza provisória – foi de natureza criminosa. A cobardia não é mas devia ser crime.” (Pág.225)

“E chamo a isto uma forma de censura, pois quando gastamos demasiado tempo e inteligência no acessório, o que é realmente importante entra na corrente do efémero. Era uma demanda quase insensata de edição, numa prática voyeurista e fútil. Era necessário encher os jornais televisivos, os jornais de papel, as páginas noticiosas da internet, a cada minuto. Além disso, claro, também as agências de informação, compartimentando, emanando e obstaculizando a informação, funcionavam como o lápis azul.” (Pág.226)

Sinopse

“Mar Humano parte da ligação turbulenta entre duas pessoas e penetra em temas como a longevidade da vida humana, a responsabilidade que os sentimentos acarretam, a luta pela liberdade de expressão e o impacto da ciência na evolução da consciência. Um brinde à coragem de cada indivíduo em ser autor da sua própria vida.”

Marcador, 2014

Junho 22, 2014

Porto de Encontro - Homenagem a Sophia, 25 de junho, Casa da Música

 

A Porto Editora realiza na próxima quarta-feira, 25 de junho, às 21:30, na Casa da Música, uma grande homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen no âmbito do ciclo “Porto de Encontro”, com um painel excecional de convidados e entrada gratuita.

Maria Andresen, Miguel Sousa Tavares, Teresa Andresen, Carlos Mendes de Sousa e Luís Miguel Cintra são os oradores que estarão à conversa com o jornalista Sérgio Almeida, que será intercalada com performances do Balleteatro Escola Profissional, leituras de poemas por Luís Miguel Cintra e Luísa Cruz e ainda interpretações musicais por Dora Rodrigues e João Paulo Santos.
Confirmada está também a participação especial do Maestro António Victorino de Almeida, que encerrará a homenagem com a interpretação ao piano de um dos compositores favoritos de Sophia.
Esta homenagem assinala os dez anos sobre o falecimento de Sophia de Mello Breyner Andresen e surge a poucos dias da transladação para o Panteão Nacional.

Junho 21, 2014

Porto Editora - Ficção estrangeira - Novo romance de Emily Giffin

 

A 20 de junho, a Porto Editora publicou O lugar do coração, o novo romance de Emily Giffin, autora norte-americana à qual a revista Vanity Fair chamou «uma Jane Austen dos nossos dias». Esta obra sucede a Escolhi o teu amor e a Coisas do coração, livros que deram a conhecer aos leitores portugueses esta autora de vários best-sellers do The New York Times e que alcançaram assinalável sucesso no nosso país.

Junho 21, 2014

Planeta - «Amor, Açúcar e Canela», de Amy Bratley

 

Prepare-se para ler uma história de amor dos dias modernos diferente de tudo o que já leu, que se diferencia pela originalidade de se basear nos guias dos anos 50, que ensinavam as mulheres a serem boas donas de casa e boas esposas.

Na sua missão de construir o lar perfeito, com passarinhos a chilrear e uma cerca de madeira pintada de branco, Juliet depara-se com um obstáculo sério – a realidade.
Na primeira noite que passa com o namorado no apartamento novo de ambos, descobre que Simon dormiu com a sua melhor amiga.
Criada numa família disfuncional com segredos que a perseguem, Juliet não está disposta a construir o seu ninho sobre um ramo partido.
Destroçada e em busca de um escape para as suas angústias, Juliet retira-se para o mundo reconfortante dos manuais de artes domésticas dos anos de 1950 deixados pela avó, que ensinam truques como «ponha uma fita no cabelo para alegrar o dia do seu marido» e, embora saiba que isso não a vai levar a lado nenhum, descobre que a costura está outra vez na moda.
Assumindo o controlo da sua vida, Juliet está decidida a ter um lar com coração. Mas quem ficará com o dela?

Amy Bratley é uma escritora e jornalista inglesa que ama as palavras. Vive em Dorset com o marido e os dois filhos.
Amor, Açúcar e Canela é o seu primeiro romance e já é um bestseller.

280 páginas

PVP: 17,76 €
Disponível desde 18 de Junho

Junho 19, 2014

D. Quixote - Diários, de George Orwell

 

Os diários de George Orwell (1931-1949) dão a conhecer a vida do escritor que marcou o pensamento político do século xx. Escritos ao longo da sua carreira, os onze diários que sobreviveram – sabe-se que haverá outros dois da sua permanência em Espanha guardados nos arquivos da NKVD em Moscovo – registam as suas viagens de juventude entre os mineiros e os trabalhadores migrantes, a ascensão dos regimes totalitários, o horrível drama da Segunda Guerra Mundial, bem como os acontecimentos que inspiraram as suas obras-primas: O Triunfo dos Porcos e 1984.

As entradas de carácter pessoal reportam um dia-a-dia muitas vezes precário, a trágica morte da sua primeira mulher, e o declínio de Orwell, vítima de tuberculose.

Um volume tão importante para conhecer Orwell como a autobiografia que nunca viria a escrever.

Nas livrarias a 24 de Junho

Junho 19, 2014

D. Quixote - Bem Hajam! - Apontamentos de Viagem à Arménia, de Vassili Grossman

 

Poucos escritores foram confrontados com tantas das tragédias em massa do século xx como Vassili Grossman, e é provável que este seja lembrado, acima de tudo, pela terrível clareza com que escreveu sobre o Holocausto, a Batalha de Stalinegrado e a Grande Fome da Ucrânia. No entanto, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, mostra-nos um Grossman muito diferente, notável pela sua ternura, pelo seu entusiasmo e sentido de humor. Este é, de longe, o seu livro mais pessoal e intimista, dotado de um ambiente de espontaneidade absoluta, em que Grossman parece estar simplesmente a conversar com o leitor acerca das suas impressões sobre a Arménia – as suas montanhas, igrejas antigas, gentes e costumes –, enquanto, ao mesmo tempo, examina os seus pensamentos e estados de espírito.

Nas livrarias a 24 de Junho

Pág. 1/4